O deputado federal Marcos Pollon (PL-MS) fez acusações falsas sobre uma suposta “onda de invasão de propriedade privada” por indígenas Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul. A informação é da Agência Pública.
Segundo o parlamentar, “supostos indígenas estão atacando proprietários rurais, invadindo fazendas e destruindo, pondo fogo, atirando, ameaçando, estuprando mulheres, matando crianças e cometendo uma série de crimes”.
Essas declarações têm gerado desinformação e colocado as comunidades indígenas em risco. Recentemente, informações falsas sobre uma suposta retomada de terras indígenas resultaram em ataques violentos nos dias 3 e 4 de agosto, que deixaram 11 Guarani-Kaiowá feridos, na Terra Indígena Panambi-Lagoa Rica, em Douradina.
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) desmentiu essas acusações, mas a desinformação já havia se espalhado.
Relatórios do Ministério Público Federal (MPF) apontam que os ataques aos Guarani-Kaiowá não são isolados, mas interligados, configurando um ataque generalizado e sistemático conduzido por milícias rurais apoiadas por fazendeiros locais.
Na maioria dos casos, verifica-se a existência de uma rede de proteção que opera através de federações e sindicatos rurais de fazendeiros, com o objetivo de expulsar os indígenas de suas terras.
“A gente tem ali um problema de interesses econômicos. O agronegócio no Mato Grosso do Sul é um ator extremamente poderoso na arena política nacional e pressiona todos os estados, de modo que, se a gente for ver, a maior parte dos ataques aconteceu durante os governos de esquerda, que nunca tiveram disposição ou poder suficiente para enfrentar o agronegócio, de modo que os Guarani e [os] Kaiowá estão totalmente desprotegidos”, disse Fernanda Frizzo Bragato, professora e autora do documento “Crimes contra a humanidade no Mato Grosso do Sul: ataques armados, assassinatos e atos desumanos contra os Guarani e Kaiowá”.
De acordo com o documento, “os ataques [contra indígenas] são ultrajantes e humilhantes, pois acontecem de surpresa, contra população desarmada, composta de crianças e idosos que têm que sair correndo pelos campos e matos para se esconder dos tiros, sem poder carregar os seus pertences que, não raro, são destruídos e queimados. Muitas vezes, são espancados, carregados à força em carrocerias de caminhões e jogados em qualquer lugar, como na beira das estradas. A violação de sua dignidade enquanto pessoas e povo é absoluta”.
Para Bragato, o uso de redes sociais para organizar despejos ilegais e incitar a população contra os indígenas ganhou força desde 2016. “O potencial para incitação é elevado, especialmente porque na região já existe um racismo profundo contra os indígenas. Há uma crença predominante de que os indígenas são sub-cidadãos e um obstáculo ao desenvolvimento, com a ideia de que devolver terras a eles impediria o Mato Grosso do Sul de continuar sendo um estado altamente produtivo”, destacou.