No programa Análise Internacional do dia 11 de dezembro, intitulado Bloqueio naval na Venezuela?, transmitido pela Causa Operária TV (COTV), o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, abordou a situação da guerra na Ucrânia, a política de dois pesos e duas medidas do imperialismo em relação à Rússia e à Venezuela e o papel da pirataria, em especial da Inglaterra e dos Estados Unidos.
Logo no início, Pimenta destacou que “os russos vêm conduzindo a guerra contra a OTAN com muita habilidade”. Segundo ele, Moscou enfrentou “uma situação um pouco complicada no começo dessa guerra, quando o imperialismo começou a dar um apoio substancial à Ucrânia e a guerra da OTAN contra a Rússia”. A partir daí, a Rússia teria se adaptado e “adotado uma política de avanço gradual”, que, na avaliação do dirigente, “está dando frutos, porque na guerra de desgaste está ficando claro que a Ucrânia é o lado mais fraco”.
Pimenta destacou que a devastação do país é produto direto da política das potências imperialistas. “A Ucrânia está sendo devastada, arrasada pela política do imperialismo. Isso está se tornando completamente insustentável, difícil de sustentar por todos os lados”, afirmou. Para ele, o cálculo fundamental da condução da guerra é justamente testar até onde o outro lado consegue reagir e suportar um conflito prolongado.
Na análise do presidente do PCO, a Rússia teria conseguido combinar avanço militar e preservação da estabilidade interna. “Os russos estão progredindo lentamente, mas com segurança”, disse. Ele ressaltou que Moscou “evitou uma guerra muito dura que pudesse levar a uma crise social, que seria seguida de uma crise política”. Segundo Pimenta, o governo de Vladimir Putin “soube poupar as tropas russas, usando habilidosamente grupos mercenários” e, mesmo tendo enfrentado “a crise com o grupo Wagner”, conseguiu “contornar” a situação sem desestabilizar o regime.
Ao mesmo tempo, Pimenta avaliou que o quadro é “muito difícil para o imperialismo”, que, caso não encontre uma forma de reagir, terá de aceitar um acordo em termos favoráveis à Rússia. Ele lembrou que já foi colocada sobre a mesa uma saída que passa pela “consolidação da presença russa no Donbas” e pelo “desarmamento da Ucrânia” e advertiu: “eu não acredito que o imperialismo vá recuar, não”.
A partir dessa análise, Pimenta passou a comparar o tratamento dado pelo imperialismo à Rússia e à Venezuela, em especial no tema das eleições e das ameaças de bloqueio. Ele ironizou o discurso oficial que tenta justificar sanções e bloqueios contra Caracas com base em questionamentos ao processo eleitoral venezuelano. “Eles tinham que invadir a Ucrânia, fazer um bloqueio naval. Não tem eleição… Não é essa a desculpa com Maduro? Esse nem fez, nem se deu o trabalho de fraudar eleição”, afirmou, apontando a política de dois pesos e duas medidas aplicada a Nicolás Maduro e Vladimir Zelensqui.
Para o dirigente, o mesmo bloco de potências que saúda o governo ucraniano como “democrático” e envia armamentos em massa àquele país se utiliza do pretexto eleitoral para ameaçar uma intervenção direta contra a Venezuela e justificar um eventual bloqueio naval. A crítica se insere na denúncia constante do PCO contra a política de cerco e agressão das potências imperialistas à América Latina.
Na parte final do programa, Rui Costa Pimenta relacionou essa situação a uma tradição mais antiga de pilhagem e pirataria, em especial da Inglaterra. Ele lembrou que “os países ibéricos que dominaram a América foram dominados por britânicos em inúmeras oportunidades” e que “a pirataria era uma coisa de Estado na Inglaterra no século XVII”. Segundo a análise apresentada, os piratas britânicos eram instrumentos diretos da política da Coroa, usados para golpear os rivais e saquear riquezas no Atlântico.
Pimenta chamou atenção para o modo como essa pirataria é tratada pela indústria de informação dos Estados Unidos. “Esses piratas britânicos são muito elogiados pela indústria de informação norte-americana. Se você pegar os filmes de piratas, os piratas parecem heróis em muitas oportunidades. E eles retratam os piratas da época da Rainha Elizabeth I como heróis sempre”, observou. Ele citou figuras como Francis Drake, que se tornaram personagens de destaque nesse tipo de produção, para mostrar como se desenvolveu uma imagem positiva da pirataria inglesa.
Na avaliação do presidente do PCO, essa “ideologia da pirataria” serve hoje para justificar ações de agressão contra países oprimidos, em especial da América Latina. A pirataria do período elisabetano é apresentada como uma espécie de defesa nacional, mas funciona, na prática, como base ideológica para uma pirataria moderna, isto é, para operações de confisco, apreensões de navios, bloqueios e ameaças militares por parte das potências imperialistas.
“Serve como justificativa para uma pirataria que é uma agressão imperialista dos países desenvolvidos, em particular os EUA, contra oprimidos, em especial a América Latina”, resumiu Pimenta, ligando a glorificação histórica dos piratas ingleses à política atual de bloqueios e ameaças, como as que hoje se colocam contra a Venezuela.