O blecaute que deixou a Península Ibérica às escuras parece ter ecoado também nos gramados, começando pela atuação irreconhecível do Corinthians diante do Flamengo, pela Série A do Brasileirão, no domingo 27.

O Timão esteve em campo, mas não apareceu para jogar. Em vez de competitividade, vimos jogadores atirados ao gramado, desorientados, quase apáticos.

A explicação mais plausível está fora das quatro linhas: o vácuo administrativo no clube.

A diretoria parece ter cruzado os braços após o anúncio da chegada de Dorival Júnior, como se isso bastasse.

O que deveria ser “só mais um jogo” virou um constrangedor passeio rubro-negro – e, justamente, num clássico entre duas das maiores torcidas do País.

Não que o Flamengo tenha pressionado desde o apito inicial. Mas bastaram cinco minutos para o time da Gávea abrir o placar, dando início ao caos corintiano.

Quem assistiu ao jogo viu um time completamente perdido, reflexo direto da insegurança institucional que assola o Parque São Jorge.

Até o ótimo goleiro Hugo Souza falhou. Já na saída de bola que gerou o gol de Everton Cebolinha (o primeiro do Flamengo), Hugo mostrou um descontrole incomum para quem é referência no elenco.

Por sua vez, o atacante Pedro, autor de dois gols na partida, voltou do afastamento por lesão com fome de bola e olhos na Seleção Brasileira, que anda carente de um finalizador de verdade. A vibração dos companheiros e da torcida só confirma o momento iluminado do camisa 9.

Dorival, por ora, escapou de estar à beira do campo numa tarde tão melancólica, mas chega com a missão – já cumprida em outros clubes – de devolver harmonia e confiança a um grupo visivelmente desorientado. O Corinthians precisa de liderança, dentro e fora do gramado.

E o “apagão” também parece ter afetado seu epicentro europeu. Até o poderoso Real Madrid viveu um raro momento de instabilidade, com direito a crise e acusações contra a arbitragem.

Carlo Ancelotti, símbolo da serenidade e competência, não escapou das especulações. A novela de sua possível vinda para comandar a Seleção Brasileira parecia encerrada, com a temporada europeia chegando ao fim e o cargo ainda vago por aqui.

Surgiu, porém, uma nova reviravolta: um país árabe teria feito uma proposta milionária ao técnico. Somando-se a isso a instabilidade da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o clima de insegurança institucional no Brasil, tem sentido a sua hesitação.

Nesse vaivém, o nome de Jorge Jesus ressurge. Ele deve deixar o Al Hilal após a derrota para o Al Ahli, que custou a vaga na final da Liga dos Campeões da Ásia.

Enquanto isso, na Champions de verdade, o PSG arrancou uma vitória suada sobre o Arsenal, em pleno Emirates Stadium, em Londres. O jogo de volta, no Parque dos Príncipes, em Paris, no próximo dia 7 de maio, promete.

Na Espanha, é o Barcelona que volta a brilhar, com o título da Copa do Rei e a liderança na La Liga perto do fim da temporada. Esses resultados podem, inclusive, acelerar a saída de ­Ancelotti do Real.

Para fechar, uma nota curiosa da semana: o tênis, esporte símbolo de elegância, foi palco de uma cena grotesca. O tenista russo Svyatoslav Gulin perdeu a cabeça em uma partida na Espanha, e foi desclassificado por ofensas ao árbitro. Lamentável.

E tivemos deselegância também fora das quadras. A ­torcida do Corinthians foi impedida de entrar no Maracanã antes da partida, sem qualquer explicação razoável. Trata-se de um desrespeito que merece apuração – e respostas. •

Publicado na edição n° 1360 de CartaCapital, em 07 de maio de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Blecaute em campo’

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Last Update: 30/04/2025