O bispo emérito de Blumenau, Dom Francisco José Sanches, criticou duramente o projeto de lei que equipara o aborto acima de 22 semanas ao crime de homicídio, mesmo para vítimas de estupro, chamando-o de “uma coincidência da realidade”.

Segundo o católico, é necessário promover a educação sexual no país antes de simplesmente punir mulheres que interromperam a gravidez.

“Simplesmente punir uma mulher sem discutir com profundidade uma situação tão complexa é uma leviandade. É um assunto legalista. É querer resolver pela lei um problema muito mais amplo e muito mais vasto”, afirmou Dom Francisco José, uma das figuras mais respeitadas da Igreja Católica.

Momento inadequado para discussão

Dom Francisco José também criticou o momento da discussão do projeto, marcado para ocorrer em um ano eleitoral.

“Uma questão complexa como o aborto não pode ser debatida às vésperas de uma eleição. Qual é a motivação dessas políticas que defendem essa proposta?”, questionou o bispo, destacando a inadequação do momento escolhido para a deliberação.

Educação sexual

A posição do bispo emérito diverge da adoção pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que defendeu a aprovação do projeto. “Não sou juiz da CNBB. Mas a minha posição é esta”, disse ele, sublinhando sua discordância com a organização.

Dom Francisco José enfatiza a necessidade urgente de focar na educação sexual e afetiva como solução para os problemas relacionados ao aborto. “Não podemos prender as mulheres antes de darmos a elas, e também aos homens, uma formação sexual e afetiva sólida”, argumentou o bispo. “A educação sexual deveria ser prioridade na escola, na pastoral, na catequese, na família. Da infância à velhice.”

O bispo também destacou a situação das mulheres vítimas de estupro que engravidaram. Para ele, essas mulheres nunca deveriam ser punidas.

“A pessoa jamais poderia ser punida, porque é vítima”, afirmou, ressaltando que muitas vezes essas mulheres são as maiores vítimas do machismo presente na sociedade.

Crítica à intolerância 

Dom Francisco José usou seu próprio exemplo para ilustrar a falta de educação sexual adequada: “Nunca recebi formação específica sobre sexualidade. Nem quando era menino, nem quando era adolescente, nem na andropausa e na velhice”.

Ele afirma que a sociedade precisa evoluir e não apenas se apegar à resiliência. Pede ainda, ao Congresso Nacional, uma abordagem mais educativa e abrangente para lidar com o aborto, em vez de uma legislação punitiva que, segundo ele, não resolve o problema fundamental.


Da Redação , com informações da Folha de S. Paulo

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Última Atualização: 01/07/2024