Bioeconomia potencial versus realidade
por Augusto Cesar Barreto Rocha
A Bioeconomia no Amazonas e na Amazônia pode ser uma total distração ou uma grande oportunidade. Destaco o Amazonas, não só por morar aqui, mas por ser o Estado da região com maior cobertura de floresta. Ao mesmo tempo em que há uma proteção, há pobreza e privação de oportunidades. A questão não solucionada é qual o tipo de empreendedorismo que queremos para a região? Qual o tipo de relação social com quem mora aqui? Aquele das multinacionais exploradoras, que temos desde 1500 ou um empreendedorismo nacional e que se integra com as comunidades locais?
Por vezes, esta conciliação de conceitos parece impossível, pois está fora dos debates públicos e dos planos de Estado. Não há grande arrecadação de tributos nem grande transformação social. É muito mais interessante ter uma agricultura extensiva ou uma indústria tradicional do que uma indústria verde, quando se pensa em empregos ou impostos. A riqueza contemporânea está muito mais próxima da alta tecnológica do que da agricultura familiar, por mais que o BNDES tenha alocado R$ 2,1 bilhão para esta iniciativa no país como um todo, versus R$ 2,7 bilhões para a agricultura empresarial.
Por um lado, se quer defender a natureza e os recursos da biodiversidade da Amazônia, com um apelo para não destruir, como destruímos a Mata Atlântica e outros biomas. Por outro, há grande interesse em fazer uso dos potenciais desconhecidos da região. Há um desafio do equilíbrio tênue entre proteção e uso de recursos, ao mesmo tempo entre o conhecido e o desconhecido. Entre a ilusão de potenciais e a prática da ação empreendedora e, por vezes, destruidora intencional ou não.
Há ainda outro desafio, que é a dureza dos fatos: como ter ação empreendedora sem visar lucros? Ou mesmo, como os governos atuarão de maneira decidida se os impactos nos PIBs regionais serão pífios nos primeiros anos de investimento, quando se espera um salto tecnológico e econômico incompatíveis com a realidade da vida. Construir esta bioeconomia de baixo impacto ambiental e alto impacto econômico talvez seja uma ilusão, uma utopia para distrair as reais intencionalidades da destruição.
Enquanto isso, caminhamos por debates que não aprofundam as questões. Não há planos de infraestrutura para a Amazônia, nem para os rios, nem para as rodovias. Sem infraestrutura não há economia competitiva. Enquanto isso, grandes grupos econômicos fazem mineração ou escoamento de soja para o exterior. É preciso que a bioeconomia encontre a tecnologia e transite da teoria para a prática. Fora disso, será apenas uma palavra para ambientalista de Instagram ou cortes agressivos de quem quer predar e depredar.
É urgente um Plano de Logística com equilíbrio e respeito à floresta da Amazônia. Enquanto não houver a demarcação e uso responsável das Florestas Nacionais, com ciência e pesquisa, voltado para a construção de uma atividade econômica integrada e realizada pelos moradores locais, com inserção de atividades produtivas regionais, teremos um modelo de 1500 perdurando para o futuro: exploração disfarçada pelo capital estrangeiro e destruição de longo prazo.
Augusto Cesar Barreto Rocha – Professor da UFAM.
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