A posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, marcou um ponto de inflexão na relação entre poder político e o setor privado. Com uma forte presença de bilionários ligados às Big Techs e ao setor financeiro, o evento simbolizou uma aproximação sem precedentes entre a administração republicana e grandes corporações tecnológicas, levantando questões sobre o impacto dessa conexão na democracia e na regulação do mercado.
Os três homens mais ricos do mundo — Elon Musk, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg — estiveram entre os destaques da cerimônia. Somados, eles acumulam uma fortuna superior a US$ 900 bilhões, de acordo com índices recentes. Outros nomes de peso, como Sundar Pichai, da Alphabet, e Tim Cook, da Apple, também compareceram, consolidando o que analistas descrevem como a administração mais rica da história dos Estados Unidos.
O evento ocorreu em meio a um cenário de reaproximação estratégica entre as Big Techs e o governo Trump. Durante seu primeiro mandato, o presidente republicano foi alvo de críticas por parte de líderes do setor, especialmente em temas como mudanças climáticas e imigração. No entanto, as tensões se dissiparam diante de interesses comuns, como a redução de regulações, alívios fiscais e a flexibilização de políticas de concorrência.
A campanha de Trump recebeu contribuições robustas dessas corporações. Elon Musk, por exemplo, destinou mais de US$ 200 milhões à sua reeleição e foi presenteado com um cargo estratégico no governo, como co-líder do Departamento de Eficiência Governamental. O empresário terá a prerrogativa de sugerir mudanças em orçamentos e regulações, incluindo áreas diretamente ligadas a seus negócios, como a Administração Federal de Aviação (FAA), atualmente investigando um acidente envolvendo um foguete de sua empresa SpaceX.
A proximidade entre a nova administração e os magnatas é tão forte que está gerando um impacto direto no mercado imobiliário de Washington. O ingresso de bilionários na cidade elevou a demanda por propriedades de luxo, reduzindo a oferta e inflacionando os preços. Imóveis emblemáticos, como uma mansão em Georgetown avaliada em US$25 milhões, foram adquiridos por membros do gabinete e aliados de Trump, reforçando a presença de uma nova oligarquia no coração do poder político.
Executivos das Big Techs buscam influenciar o governo para frear iniciativas regulatórias globais. Propostas de regulações em países como Alemanha, Austrália e Brasil são vistas como ameaças às margens de lucro dessas empresas, que preferem moldar suas políticas a partir de Washington.
Durante anos, plataformas digitais se apresentaram como espaços neutros para o debate público. Contudo, recentes mudanças de postura, como o fim da checagem de fatos no Facebook e o uso do X (antigo Twitter) para promover candidaturas alinhadas à extrema direita, levantam dúvidas sobre a neutralidade dessas corporações. Analistas destacam que a união entre Big Techs e o governo Trump pode transformar esses espaços em instrumentos de manipulação política e econômica.
A administração Trump também sinaliza uma política externa voltada para ampliar os interesses dessas empresas. A presença do CEO do TikTok, Shou Chew, na posse é um exemplo. Apesar de antigos embates, o aplicativo chinês parece ter garantido espaço no governo, alinhando-se a estratégias de engajamento eleitoral e influência sobre o público jovem.
Diante disso, crescem os apelos por regulações globais mais rígidas para conter os excessos das Big Techs. Especialistas alertam que a falta de controle sobre essas corporações não apenas enfraquece a soberania de países, mas também compromete a própria integridade das democracias, transformando plataformas digitais em arenas de desinformação e intolerância.
Com um governo que parece disposto a atender interesses de uma elite bilionária, o desafio para o restante do mundo será manter um equilíbrio entre os avanços tecnológicos e a garantia de direitos fundamentais. Nunca a regulação global foi tão urgente.