O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o estrategista de extrema-direita Steve Bannon. Foto: Reprodução

Por Reynaldo Aragon 

A reeleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos em 2024 apenas acelerou uma engrenagem que já vinha sendo denunciada com clareza há muitos meses. Em artigos, entrevistas e análises públicas, tenho mostrado de forma consistente como Eduardo Bolsonaro se consolidou como operador estratégico de uma aliança internacional entre o trumpismo, bilionários do Vale do Silício, plataformas digitais desreguladas e redes globais de think tanks ultraconservadores.

Essa articulação vai muito além da defesa do bolsonarismo. Trata-se de um projeto estruturado para manter o Brasil como peça-chave em experimentações de desestabilização institucional, guerra informacional e captura do Estado por vias paralelas.

Nos últimos meses, Eduardo intensificou sua presença nos Estados Unidos e aprofundou laços com nomes centrais do núcleo duro do trumpismo. Seu vínculo com Steve Bannon é público e operacional. Bannon não apenas o reconhece como seu principal aliado na América Latina, como também articulou sua inclusão no “The Movement”, rede global criada para fortalecer lideranças de ultradireita em diversos países.

A presença de Eduardo em eventos como a CPAC e seus encontros com Donald Trump Jr., Matt Schlapp e o empresário conspiracionista Mike Lindell ilustram uma atuação estratégica e internacionalizada, que passa longe de qualquer agenda legislativa convencional.

Ao mesmo tempo, Eduardo Bolsonaro se aproximou de nomes do tecnolibertarianismo como Elon Musk e Peter Thiel. Musk, que passou a utilizar a plataforma X (ex-Twitter) para atacar diretamente o Supremo Tribunal Federal, estabeleceu uma relação simbólica com o bolsonarismo ao amplificar o discurso de perseguição judicial no Brasil.

Eduardo adotou essa narrativa e, com apoio de parlamentares norte-americanos da ala radical do Partido Republicano, passou a defender a aplicação da Lei Magnitsky contra ministros do STF, acusando-os de violar direitos humanos e suprimir liberdades. A tentativa de internacionalizar o conflito institucional brasileiro segue o manual trumpista de lawfare e inversão da legalidade.

Peter Thiel, por sua vez, é uma figura-chave na teia que conecta ideologia, tecnologia e autoritarismo. Cofundador da Palantir Technologies, empresa contratada por agências como CIA e NSA, Thiel é um dos principais financiadores do Project 2025, plano elaborado pela Heritage Foundation para reestruturar o Estado americano em moldes autoritários.

O projeto visa concentrar poder no Executivo, eliminar resistências burocráticas, enfraquecer agências de regulação e nomear leais trumpistas em todas as esferas da administração. Eduardo Bolsonaro atua como vetor de tropicalização dessa agenda, adaptando seus princípios ao contexto brasileiro com o apoio de institutos como o Millenium, o Liberal, o MBC, além da Atlas Network e da Claremont Institute.

O alinhamento não é apenas discursivo. A tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, com ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília, seguiu o mesmo roteiro da invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Antes dos atos, Eduardo esteve nos Estados Unidos reunido com figuras do trumpismo e, simultaneamente, impulsionava alegações infundadas de fraude eleitoral e incitava sua base com palavras de ordem antidemocráticas.

Aplicativos como Telegram, WhatsApp e Gettr — este último promovido por Jason Miller, ex-assessor de Trump e aliado pessoal de Eduardo — foram usados para coordenar a mobilização. O resultado foi uma tentativa concreta de ruptura institucional, organizada com métodos digitais, financiamento empresarial e desinformação em escala industrial.

O que se vê é uma estrutura sofisticada de manipulação do ecossistema informacional, onde Eduardo Bolsonaro atua como peça funcional. Ele representa o entreposto brasileiro de uma rede transnacional que mistura religião, ultraliberalismo, indústria da vigilância, cultura de massas e psicologia política.

O discurso de defesa da liberdade é usado como biombo para disseminar ódio, deslegitimar instituições, neutralizar o contraditório e moldar afetos em direção ao autoritarismo.

O bilionário Elon Musk, dono do X, e Javier Milei, presidente da Argentina, durante o CPAC, em fevereiro de 2025. Foto: Will Oliver/EFE

A CPAC Brasil, evento que ele organiza com apoio direto de entidades ultraconservadoras americanas, é o retrato mais visível dessa integração. Trata-se de uma feira de ideias reacionárias, plataforma de negócios ideológicos e ponto de encontro entre operadores do caos. Ali, Eduardo conecta parlamentares brasileiros com figuras como Javier Milei, Santiago Abascal, Elon Musk, além de pastores, influenciadores e lobistas.

A agenda promovida inclui ataque à imprensa, negacionismo climático, anticiência, armamentismo e hostilidade aos direitos civis. O financiamento vem de estruturas como a Heritage Foundation, a America First Policy Institute e outras organizações empenhadas em impor um novo modelo de governança baseado em vigilância, culto à autoridade e erosão democrática.

Na prática, o Brasil foi convertido em experimento geopolítico da nova extrema-direita. A engenharia é silenciosa, fluida, digital e profundamente conectada aos circuitos do capital informacional. Eduardo Bolsonaro não opera como um deputado. Atua como uma interface, um ponto de ancoragem entre a política brasileira e os interesses globais de um projeto autoritário que mistura ideologia reacionária com arquitetura algorítmica.

A crise institucional brasileira, portanto, não pode ser compreendida apenas a partir das disputas internas. O que está em curso é um processo de integração do país a um sistema de dominação política internacional, onde plataformas digitais substituem partidos, bilionários substituem o Estado e operadores como Eduardo Bolsonaro funcionam como vetores de desordem planejada.

Entender essa engrenagem é tarefa urgente. E enfrentá-la exige mais do que respostas jurídicas ou reativas. Exige soberania informacional, ação coordenada e lucidez histórica.

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Last Update: 27/05/2025