Em seu primeiro grande discurso desde que deixou a presidência, Joe Biden acusou Donald Trump de destruir a Previdência Social, tema crucial para milhões de americanos.

O ex-presidente dos Estados Unidos Joe Biden alertou nesta terça-feira (16) que o presidente Donald Trump “desferiu um golpe de machado” na Previdência Social, ao retornar brevemente ao cenário nacional aos 82 anos. Biden, que vinha evitando aparições públicas desde que deixou a Casa Branca em janeiro, falou durante a conferência nacional da organização de defensores de pessoas com deficiência, em Chicago. O discurso, com menos de meia hora, coincidiu com o “Dia de Ação pela Previdência Social” promovido pelos democratas.

“Em menos de 100 dias, essa nova administração causou tanto dano e tanta destruição. É de tirar o fôlego”, afirmou. “Eles desferiram um golpe de machado na Administração da Previdência Social.”

O evento, primeiro grande ato público de Biden desde que deixou o cargo, destacou a crescente preocupação dos democratas com a gestão turbulenta de Trump sobre a agência que atende mais de 70 milhões de americanos. A expectativa é que o tema domine as eleições legislativas do próximo ano.

Falando para cerca de 200 pessoas, Biden manteve-se, em grande parte, fiel ao discurso preparado, mas se desviou em momentos para relembrar histórias de sua juventude na classe trabalhadora. Referiu-se a Trump apenas como “esse cara”. Já Trump, com frequência, culpa Biden pelos problemas do país e o ataca nominalmente.

Conservadores reagiram rapidamente a uma fala de Biden sobre a divisão política nos EUA, interpretando-a como um ataque direto aos apoiadores de Trump. “Não podemos continuar assim, divididos como estamos. Nunca vi algo assim. São cerca de 30%, mas é um 30% que não tem coração”, disse. Sua equipe não esclareceu a quem exatamente ele se referia.

Mais cedo, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, ironizou a idade de Biden. “Estou chocada que ele vá falar à noite. Achei que o horário de dormir dele fosse bem antes disso”, disse. Leavitt também anunciou que Trump assinaria um memorando para impedir que imigrantes ilegais e outras pessoas inelegíveis recebam benefícios da Previdência. A medida inclui expansão de programas de combate à fraude em escritórios de promotores federais em todo o país.

A própria Administração da Previdência Social rebateu as críticas de Biden em sua conta oficial na rede X (antigo Twitter): “O ex-presidente Joe Biden está mentindo para os americanos.”

As ações de Trump em relação à Previdência Social têm gerado controvérsia. O republicano iniciou cortes imediatos na força de trabalho do governo, incluindo milhares de servidores da Previdência. Entre as medidas estão a demissão de 7 mil funcionários, exigências mais rigorosas de comprovação de identidade e o acesso de conselheiros ligados a Elon Musk a dados pessoais dos beneficiários, como números da Previdência Social.

Musk, considerado o homem mais rico do mundo e influente conselheiro de Trump, já classificou a Previdência Social como “o maior esquema Ponzi da história”. O portal de benefícios online tem registrado instabilidades, e beneficiários relataram falhas no recebimento de auxílios, incluindo idosos e pessoas de baixa renda com deficiência. A agência afirmou que os problemas foram causados por erros técnicos.

Biden acusou Trump de sabotar a Previdência para justificar cortes e beneficiar os mais ricos. “Eles atiram primeiro e miram depois. Querem destruir para poder saquear. E por quê? Para dar cortes de impostos a bilionários e grandes corporações.”

Entre os presentes estava o advogado Jason Turkish, de Michigan, que lidera um dos maiores escritórios de advocacia especializados em benefícios por invalidez. Ele relatou ansiedade crescente entre seus 32 mil clientes. “Sempre houve a crença de que Previdência Social era intocável. Mas agora isso está em risco.”

Ainda assim, Turkish vê sinais de abertura da agência para mudanças, citando a revisão de medidas que exigiam presença física em escritórios para verificação de identidade.

O retorno de Biden ao palco político

Apesar da reaparição, Biden não deve manter uma agenda pública intensa. Ele ainda tem escritório em Washington, mas vive principalmente em Delaware. Trump retirou suas credenciais de segurança.

“Esse é um momento que exige todos os esforços, por isso a voz do presidente Biden é tão importante agora”, disse o líder democrata na Câmara, Hakeem Jeffries, em conversa com jornalistas antes do discurso.

Mesmo podendo ajudar na arrecadação e comunicação do partido, Biden deixou a presidência com baixos índices de aprovação. Também é criticado por setores progressistas por ter insistido na reeleição. Após um debate desastroso contra Trump, ele desistiu da candidatura e abriu espaço para a então vice Kamala Harris, derrotada por Trump no outono passado.

Em janeiro, apenas 39% dos americanos tinham opinião favorável sobre Biden, segundo pesquisa Gallup. Os números permanecem estáveis desde a eleição e refletem a baixa popularidade do democrata na reta final de seu governo.

Nem todos os democratas aprovaram o retorno de Biden. “O melhor papel que ele poderia desempenhar agora seria se manter fora dos holofotes”, disse o ativista progressista Norman Solomon. “Pode soar duro, mas sua vaidade já causou muito dano ao partido e ao país. Ele nos deve um pouco de humildade.”

Fonte: South China Morning Post
Publicado em: 16 de abril de 2025
Autoria: Associated Press

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Last Update: 16/04/2025