O primeiro debate entre o democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump na corrida à Casa Branca, marcado para quinta-feira (27) em Atlanta (sul), pode ser resumido da seguinte forma: o primeiro tentará provar que não é um velho senil e o segundo que não é um déspota temperamental.
A CNN exibirá o encontro de uma hora e meia, excepcionalmente cedo, já que os candidatos à presidência normalmente esperam a nomeação por seus partidos para debater.
Mas as eleições de novembro, que segundo as pesquisas serão muito acirradas, são fora do comum.
Os adversários são os dois candidatos mais velhos da história e um presidente contra um antecessor que nunca reconheceu a derrota em 2020 e também foi considerado culpado em um caso de pagamentos ocultos a uma atriz pornô.
“A grande questão é qual parte do público (além dos fãs de política) prestará atenção em um debate tão cedo”, disse Donald Nieman, analista político e professor de história na Universidade de Binghamton, no estado de Nova York.
O aborto, o estado da democracia e os conflitos além das fronteiras, como as guerras na Ucrânia e entre Israel e o grupo palestino Hamas, são questões que preocupam os eleitores.
Forte animosidade
Mas o que mais preocupa o eleitorado, segundo algumas pesquisas, é a inflação, a segurança na fronteira com o México e o fluxo de migrantes, que Trump promete cortar pela raiz se voltar à Casa Branca com deportações em massa, porque acredita que eles “envenenam o sangue” do país.
Os dois homens, que expressam forte animosidade política e pessoal, preparam-se de formas diferentes para este primeiro confronto.
O presidente democrata, de 81 anos, partiu para a residência rural de Camp David para se preparar para o debate, que ocorrerá sem público e com normas rigorosas. O microfone do candidato será cortado quando não for a sua vez de falar e as respostas serão cronometradas. Trump encerrará o debate.
Se as regras forem respeitadas, será evitada a tensão do último debate entre eles em 2020, quando Biden deixou escapar: “Quer calar a boca, cara?”, enquanto Trump o interrompia continuamente.
O milionário republicano de 78 anos continua com seus comícios. Sua equipe afirma que ele não precisa se preparar.
Os dois políticos tentarão convencer os eleitores indecisos, cujos votos serão determinantes em alguns estados.
Pontos fracos
“O ponto fraco de Trump é a sua retórica extremista”, afirma Kathleen Hall Jamieson, professora de Comunicação na Universidade da Pensilvânia (leste).
Biden diz ser o último bastião da democracia americana, contra um rival acusado em vários processos criminais e que declarou ao canal Fox News que atuará como “ditador” por um dia para “fechar a fronteira” com o México caso ganhe as eleições.
O democrata tentará tocar na questão do direito ao aborto, sobre a qual o magnata republicano tem uma posição ambígua.
Mas Biden terá de convencer na forma. Em seus comícios, Trump costuma zombar de suas gafes e de sua falta de jeito ao caminhar.
“O ponto fraco de Biden é se ele tem a acuidade mental necessária para o cargo”, diz Kathleen Hall Jamieson.
Trump sugeriu publicamente que seu rival poderia estar “dopado” durante o duelo de quinta-feira.
O republicano é apenas três anos mais novo e faz discursos difíceis de compreender, mas, segundo as pesquisas, os americanos estão mais preocupados com o estado físico e intelectual do democrata.
“Trump se beneficiaria se seguisse um roteiro, destacando as fraquezas de Biden em relação à inflação e à imigração e atenuando a linguagem enfática”, disse Donald Nieman.
O republicano garante que não “subestima” o democrata. Em 2020, a atitude extremamente agressiva do ex-magnata do mercado imobiliário voltou-se contra ele.