O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, protagonizou nesta segunda-feira a primeira noite da Convenção Nacional Democrata, em Chicago. Do evento sairá, na quinta-feira, a confirmação de Kamala Harris como candidata do partido à Casa Branca na eleição de novembro.
Biden recebeu longos aplausos, abriu um sorriso e agradeceu diversas vezes aos presentes antes de iniciar seu discurso. “Estão prontos para votar pela liberdade e pela democracia? Estão prontos para eleger Kamala Harris?”, perguntou, na sequência. Ele defendeu seu governo, lembrou o fato de ter assumido o mandato durante a pandemia, em 2021, e voltou a afirmar que o republicano Donald Trump é uma ameaça à democracia.
A participação de Biden na convenção foi enérgica e firme, um contraste com as aparições públicas que levaram parte significativa do eleitorado a questionar suas condições de aguentar um novo mandato – por exemplo, no debate de junho contra Trump na CNN.
“A democracia prevaleceu”, disse o presidente. “Agora, a democracia precisa ser preservada. Estamos em um ponto de inflexão, um momento em que decisões que tomamos agora determinarão o destino da nação e do mundo por décadas. É uma batalha pela alma dos Estados Unidos.”
“Digam um país que não pense que somos a nação a liderar o mundo. Quem poderia liderar o mundo no lugar dos Estados Unidos? Os Estados Unidos estão ganhando, e o mundo é melhor por isso”, prosseguiu. “Os Estados Unidos são mais seguros hoje do que sob Donald Trump. Ele continua a mentir sobre o crime no país, como sobre todo o restante.”
Ele disse na sequência que a criminalidade continuará a cair “quando levarmos uma promotora ao Salão Oval em vez de um criminoso condenado”. É uma menção à carreira de Kamala como promotora e procuradora-geral da Califórnia.
Pouco antes do discurso de Biden, Kamala subiu ao palco do United Center para um breve pronunciamento. “Joe, obrigada por sua liderança histórica, por sua vida de serviço à nossa nação”, declarou. Ela chamou o aliado de um “presidente incrível”.
O primeiro dia da convenção foi, na prática, um dos últimos momentos em que Biden monopoliza a atenção dos eleitores. Há menos de um mês, em 21 de julho, o presidente sacudiu a política norte-americana ao anunciar que não buscaria a reeleição e, logo em seguida, defender a indicação de Kamala, sua vice, para enfrentar Trump.
Delegados do partido presentes na convenção ressaltaram a importância de exaltar o governo Biden nesta espécie de despedida. “Nesta noite honramos o presidente e seu legado”, disse Luciano Garza, do Texas. “É surreal, muito triste, mas estamos esperançosos com o que ele fez, ao passar o bastão para Kamala Harris, que continuará seu legado.”
Até quinta-feira, diversas figuras de peso do Partido Democrata se pronunciarão. Nesta segunda-feira, Hillary Clinton proferiu seu discurso, enquanto o ex-presidente Barack Obama e sua esposa Michelle falarão na terça-feira. Na quarta-feira, o ex-presidente Bill Clinton será um dos destaques, mas a grande expectativa recairá sobre Tim Walz, escolhido para ser o vice de Kamala.
O dia em Chicago, porém, não foi apenas de celebração para os democratas. Cerca de trinta delegados chegaram ao evento incomodados com a conduta do governo Biden-Harris em relação à guerra na Faixa Gaza. Além disso, ao som de “Palestina Livre”, cerca de mil pessoas se reuniram nas imediações da convenção.
Os organizadores esperavam receber mais de 5 mil delegados democratas, convidados de alto nível e autoridades do partido de várias partes dos Estados Unidos. A convenção também tem 12 mil voluntários e cerca de 50 mil visitantes.
Tanto para os republicanos quanto para os democratas, as convenções nacionais simbolizam a união em torno de um candidato. Tradicionalmente, espera-se que os delegados de todos os estados compareçam à convenção e proclamem publicamente seu apoio em uma longa chamada nominal – o ponto alto é o momento em que o candidato aceita a indicação e profere um discurso.
Na maioria dos estados, ocorrem primárias em que os eleitores registrados apontam seu favorito a partir de uma lista, em uma votação secreta. Alguns estados realizam o chamado caucus, em que os apoiadores de candidatos rivais se reúnem em um local, dividem-se em grupos e fazem discursos, em uma tentativa de conquistar indecisos e chegar a um consenso.
Após a conclusão do processo, atribui-se a cada estado um número de delegados com base nos três ciclos eleitorais anteriores, no número de votos e na data da primária. Os delegados são ativistas do partido, líderes locais e apoiadores proeminentes do candidato.
Há os delegados conhecidos como “juramentados”, que se comprometem a votar no candidato preferido pelos eleitores de suas comunidades. De acordo com a organização Ballotopedia, há pouco menos de 3.950 delegados comprometidos com o Partido Democrata neste ciclo eleitoral.
Além disso, há cerca de 750 superdelegados provenientes do próprio partido, geralmente integrantes do Comitê Nacional Democrata ou autoridades eleitas. Eles podem votar em qualquer candidato de sua preferência, conforme um sistema estabelecido para dar aos líderes partidários um papel maior no processo de nomeação. Historicamente, porém, apoiam o postulante que conquistou a maioria dos delegados.
Se o resultado da eleição ainda é incerto, ao menos a substituição do candidato democrata serviu para energizar o partido e uma fatia do eleitorado, a ponto de chacoalhar as pesquisas de intenção de voto. Um levantamento do instituto Ipsos publicado no domingo 18 por The Washington Post e ABC News aponta Kamala cinco pontos à frente de Trump no voto popular.
Segundo a pesquisa, a democrata marca 49%, ante 45% do republicano. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais. As eleições nos Estados Unidos, contudo, não são decididas por maioria simples de votos, mas por um colégio eleitoral formado a partir da votação dos candidatos em cada um dos 50 estados. Ou seja: ter o maior número de eleitores nem sempre é suficiente para a vitória.
Em 2016, por exemplo, Hillary Clinton somou 48% do voto popular, mas Trump, com 46%, foi eleito após vencer em estados-chave no colégio eleitoral.