Crianças lendo livros. Foto: ilustração

A história de Elizabeth Russel revela o poder transformador da leitura em momentos de crise. Professora e bibliotecária em Connecticut, ela descobriu na ficção um refúgio durante seu divórcio em 2017, quando enfrentava também uma depressão. “Foi uma época muito, muito estressante”, lembrou Russel em entrevista à BBC, que buscou ajuda na biblioterapia criativa após conhecer o trabalho de Ella Berthoud, especialista britânica e coautora do livro “Farmácia Literária”.

A experiência de Russel ilustra um fenômeno crescente no campo do bem-estar emocional. Ao receber indicações de obras como “George e Lizzie” de Nancy Pearl, ela encontrou em personagens fictícios ecos de sua própria situação. “Isso abriu algo dentro de mim que precisava ser aberto e curado”, descreve sobre como a literatura a ajudou a processar emoções e diminuir a sensação de isolamento.

No Reino Unido, a biblioterapia ganha espaço tanto na esfera privada, com sessões personalizadas que custam cerca de R$ 740, quanto em iniciativas públicas.

O programa Reading Well, da organização The Reading Agency, já disponibilizou mais de 3,9 milhões de livros selecionados por especialistas para condições como depressão e demência. Gemma Jolly, diretora da instituição, relatou que frases como “me fez perceber que não estou sozinha” são frequentes nos depoimentos dos participantes.

Mulher lendo livro em casa. Foto: reprodução

A comunidade científica observa com interesse os potenciais benefícios da leitura para a saúde mental, mas com ressalvas importantes. Enquanto livros de autoajuda apresentam resultados documentados em estudos, alguns mostrando eficácia comparável a terapias convencionais para ansiedade e depressão, os efeitos da ficção são mais sutis e variáveis.

Andrew Schuman, médico do sistema público de saúde britânico, defende que a biblioterapia “pode ser extremamente poderosa” como complemento a outros tratamentos.

No entanto, pesquisadores alertam para os limites dessa abordagem. James Carney, cientista cognitivo, questiona a visão idealizada: “A ideia de que os livros são um remédio universal é simplesmente falsa”. Emily Troscianko, pesquisadora da Universidade de Oxford, destaca a necessidade de mais estudos robustos para compreender plenamente o papel da literatura no tratamento de condições específicas.

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Last Update: 21/06/2025