Logo após tomar posse em 2023 e, em seguida, derrotar os golpistas do 8 de janeiro, o presidente Lula viajou a Roraima para verificar, in loco, a tragédia humanitária que impunha ameaça de extinção ao povo Yanomami. Lula deparou-se com um quadro sobretudo revelador da falta de limites para a estupidez, insensibilidade e crueldade de setores das nossas elites dirigentes. Mortes em escala, por inanição, abandono, e violência contra todo um grupo étnico no Brasil. Fartamente documentado pela imprensa, configurava-se verdadeiro campo de concentração no extremo Norte do país, com seres humanos física e moralmente destruídos, moribundos em meio um meio ambiente já sem vida pelo nível do envenenamento e devastação promovidos, em especial, pelo garimpo ilegal e criminoso em todos os sentidos.
As comunidades yanomami situadas principalmente na fronteira entre Brasil e Venezuela migraram para a América do Sul a partir da Ásia, há cerca de 15.000 anos. A despeito do genocídio incidindo sobre uma etnia milenar indefesa, assistia-se naquele pedaço do Brasil à ‘incineração’ de conhecimentos tradicionais, associados a uma rica biodiversidade de valor inestimável para o mundo, também em processo erosivo. Subjacente, estava em andamento danos históricos e antropológicos irreparáveis. Que a história registre para sempre o legado mórbido do período Bolsonaro traduzido, principalmente, pela fração dos mais de 700 mil brasileiros mortos por conta da negligência institucional na pandemia e pelo aumento de 331% no número de mortes de indígenas yanomami, somente por desnutrição.
Assombrado com que viu em Roraima, Lula comentou: se alguém me contasse que aqui em Roraima havia pessoas sendo tratadas de forma tão desumana como eu vi o povo Yanomami sendo tratado, eu não acreditaria. Comovido, acrescentou: vamos tratar os nossos indígenas como seres humanos. Vamos dar a eles a dignidade que merecem: na saúde, na educação, na alimentação e no direito de ir e vir. Essas pessoas vão ser tratadas decentemente.
Desde então, Lula mobilizou toda máquina do governo, incluindo as forças armadas, numa verdadeira operação de guerra para salvar os yanomami. Dois anos depois, os resultados dessa operação foram retratados por meio de uma matéria emocionante veiculada pelo Fantástico, da Rede Globo, no domingo passado. O garimpo ilegal caiu 96% na Terra Indígena Yanomami. As crianças, antes, prostradas pela fome e doenças, agora, fisicamente recuperadas, correm e brincam com brilho nos olhos. As roças de banana e mandioca, já próximas da colheita, sinalizam o retorno da autonomia alimentar. Em breve, não será mais necessário o envio de cestas básicas. Os postos de saúde funcionam normalmente, subutilizados. A floresta, as águas e os animais restabelecem a exuberância e funcionalidade para a garantia do estilo de vida dos indígenas e de sua convivência em harmonia com a natureza. O que antes era desespero, em tão pouco tempo passou a ser esperança, dignidade e vida.
A “guerra” não está totalmente vencida pois a destruição alcançou larga escala e as ameaças ainda rondam perigosamente o território daqueles brasileiros e brasileiras. Mas o governo cada vez mais fortalece a sua presença e suas ações na área por meio da Casa de Governo em Roraima, reunindo sob uma única coordenação sete ministérios para de forma integrada proteger e atender as demandas dos yanomami. Faço uma menção especial à atuação dos nossos militares que, sob as ordens do seu comandante Supremo, aplicaram golpe fatal nos agentes promotores da violência e morte entre os ianomami. Ah, certamente economistas e articulistas ligados aos mercados devem estar enfurecidos com os impactos fiscais do resgate humanitário dessa etnia. Que a escolha do novo Papa Leão XIV sensibilize alguns corações e o gesto de Lula seja aplicado, também, no resgate da população massacrada em Gaza.