EUA rechaçam a democracia popular porque ela desafia a Doutrina Monroe

Por João Silva*

O saudoso Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, autor dos livros “Quinhentos Anos de Periferia” e de “Desafios Brasileiros na era dos Gigantes”, com sua aguda lucidez dizia: “para os EUA não basta que um país eleja seu presidente pelo voto para considerá-lo democrático, também precisa governar como eles querem” .

Ele deu esta declaração ao programa Latitud Brasil, da Telesur.

Hoje, com postura inevitavelmente autoritária da oposição venezuelana, rejeitando a mais esta derrota eleitoral, vemos novamente a confirmação daquelas palavras.

Essa declaração de Guimarães, aparentemente singela, na realidade expressa que os EUA não admitem regimes que não sejam submissos aos seus interesses vitais. E, no caso, o modelo popular é um questionamento permanente, vivo, pedagógico e corajoso à renovada pretensão do Império do norte de impor a Doutrina Monroe, atualizada para os dias de hoje, com seu colonizador dístico “A América para os americanos”. Ou seja, a soberania!

Com 25 anos de vida, a Revolução Popular cometeu o “atrevimento” de nacionalizar o petróleo e, mais que isso, de utilizá-lo, pela primeira vez na história, em favor das massas espoliadas, as verdadeiras donas dessa riqueza.

Isso bastou para que Hugo Chávez fosse considerado um líder popular, maldição que alcança o seu sucessor, Nicolás Maduro, que já foi alvo de um frustrado atentado contra sua vida.

O petróleo venezuelano que antes enriquecia uma oligarquia nos EUA e uma minoria na Venezuela, passa a servir como alavanca para a erradicação do analfabetismo venezuelano, construção de mais de 5 milhões de moradias populares numa população total de 30 milhões de habitantes, e, também, para alcançar a soberania alimentar com o que 95% do que se come na pátria de Bolivar, já é hoje produzido internamente, quase uma plena auto suficiência alimentar.

Nada disso é “América para os Americanos”. E a Doutrina Monroe vai sendo enterrada pelo povo venezuelano à medida que o modelo popular vai se consolidando.

A reação da oligarquia autoritária venezuelana à esta nova derrota para o chavismo não surpreende.

Tampouco surpreende a reação da OEA, o Ministério das Colônias como rotulada por Che Guevara, imaginando que tem alguma representatividade perante o povo da Venezuela.

Países como Peru – dirigido por uma golpista que mantém preso o presidente eleito, Pedro Castilho. – que não reconhecem a vitória de Maduro, registram o ridículo em que se metem.

Panamá, Chile, Uruguai, Equador, são meras províncias dos EUA, sem independência ou autoridade para qualquer opinião respeitável.

Aos poucos o povo popular vai tomando as ruas de Caracas, como o fez durante a campanha eleitoral, com responsabilidade cívica, em caráter pacífico e democrático, mas revelando sua elevada consciência de que, apesar das duras sanções e sacrifícios a que foi submetido, pela Guerra dos EUA contra a Venezuela, foi feita a escolha na urnas, rejeitando o retrocesso a ser uma colônia petroleira, e optando por seguir construindo uma Nação Soberana.

O próprio presidente Lula, com alguma demora, declara que “não houve nada de anormal na eleição venezuelana”, e acrescentou que é preciso cessar as ingerências de outros países sobre a Venezuela, bem como sobre Cuba e sobre o Irã. Bem lembrado.

Venezuela paga caro por ter a maior riqueza petroleira do mundo e por não entregá-la ao império.

Também paga caro por manter a saúde e a educação como atividades públicas e gratuitas, tendo recebido aí ao apoio de Cuba socialista.

Além disso, Venezuela também paga caro por haver resistido a esta guerra econômica dos EUA, com hiperinflação induzida, desorganização da moeda e do abastecimento e indução da emigração.

A intenção era provocar o desânimo, a frustração, a irritação dos venezuelanos para com o seu próprio governo, levando-o a uma derrota eleitoral. Mas, a resposta veio nas urnas.

Todo tipo de crueldade foi imposto à Venezuela, mas o FMI chegou ao cúmulo de negar um empréstimo de 5 milhões de dólares para a compra de vacinas anti-covid. Mas os amigos leais da Venezuela, Rússia, China e Cuba, lhe proporcionaram vacinas para defender-se da pandemia.

E, mesmo sob privações materiais gigantescas, a Venezuela enviou ao Brasil um enorme carregamento de oxigênio solidário, salvando milhares e milhares de vida de brasileiros no Amazonas.

O governo e a sociedade brasileira deveriam realizar um ato de gratidão para com esta generosa doação do governo Nicolás Maduro.

Certamente, Venezuela seguirá sendo alvo de sabotagens, sanções e de preconceitos políticos, até mesmo em certos círculos de progressistas. Nesses grupos, é muito mais fácil arrancar apoios ilimitados aos imperialistas Biden e Kamala do que a Maduro, que enfrenta o Império.

Em relação a Maduro há enorme má vontade, superexigências e centenas de objeções e avaliações injustas.

Ninguém se lembra de que se trata de um presidente de origem obreira, extremamente leal a Hugo Chávez e a seu povo.

Enquanto isso, a Revolução Popular vai democratizando o crédito, expandindo a produção voltada para o mercado interno, gerando empregos , normalizando o abastecimento, recuperando os setores mais afetados pela Guerra de Obama-Trump-Biden.

Além disso, mostrando ao mundo que “a esperança está nas ruas”, como dizia Chávez. E, assim, indicando que a confiança no povo e em sua mobilização sistemática é que permitem que Venezuela siga a passo de vencedores, unindo-se ao grupo de países que também resistem a sanções imperiais e atuam para construir um mundo multipolar, sem submissão ao Império, em perigosa decadência.

*João Silva é jornalista da Telesur, esteve em Caracas durante a Eleição. É Membro da Rede de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade e Conselheiro da ABI.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

Leia também

‘A Venezuela está enfrentando o Império; isso não pode ser desconsiderado pelo Brasil’, afirma Paulo Nogueira Batista Jr; vídeo

Categorizado em:

Governo Lula,

Última Atualização: 31/07/2024