Morreu nesta quarta-feira (22) aos 87 anos, Benedito Marcílio, que foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, no ABC Paulista, na década de 1970 e início dos anos 1980, e eleito deputado federal pelo MDB em 1978. O país vivia um momento de grande efervescência política em meio a um grande ascenso das lutas contra a ditadura militar, tendo à frente a classe operária, especialmente, o setor metalúrgico. O Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, sob a presidência de Benedito Marcilio, teve um papel importante naquele processo, ao lado do Sindicatos dos Metalúrgicos de São Bernardo, presidido por Lula, e outros.

Em 1978 tivemos a primeira onda de greves por fabricas, depois das greves de Osasco (SP) e Contagem (MG) de 1968. Pararam inumaras fábricas de São Bernardo e também Santo André, dando o tom da luta contra o arrocho salarial. Greves que enfrentavam as empresas, num primeiro momento, mas logo se transformavam em luta contra a ditadura, porque os militares intervinham no movimento para reprimir os trabalhadores e defender as empresas.

Na Cofap, onde eu trabalhava na época, organizamos uma greve muito forte que obteve uma vitória importante, tanto econômica quanto política. Essa onda de greves alastrou-se em mobilizações e greves de muitos outros setores da classe trabalhadora ainda naquele mesmo ano.

Aquela diretoria do Sindicato, sob a presidência de Marcilio, teve dois méritos muito importantes. Primeiro, abriu o Sindicato para o debate político acerca do que se passava no país naquele momento. Segundo, abriu espaço para que o ativismo político que havia na base do sindicato pudesse atuar através da entidade, o que potencializou o papel político do sindicato naquele momento. Um primeiro exemplo disso foi o ato do 1º de Maio promovido pelo Sindicato em 1978, que discutiu a realidade política do país e saídas para a classe trabalhadora, quando todo o restante do movimento sindical se calava ante a ditadura.

Benedito Marcílio foi eleito deputado federal pelo MDB em 1978

Mas, talvez o mais importante tenha sido a atuação do sindicato no Congresso da Federação Estadual dos Metalúrgicos de São Paulo no início de 1979. Nesse Congresso, assumindo uma proposta apresentada pelos ativistas ligados à Convergência Socialista na assembleia que elegeu a representação do sindicato, aprovou e levou ao Congresso duas teses muito importantes. A primeira, um plano de lutas para a categoria no estado que, aprovada no Congresso, levou à primeira greve geral dos metalúrgicos de São Paulo, paralisando a categoria em todo o ABC e em várias outras cidades (São José dos Campos, Campinas, São Carlos, Jundiai,…).

A segunda, foi a proposta de organização de um Partido dos Trabalhadores, sem patrões. Um partido que pudesse ser ao mesmo tempo uma representação classista dos trabalhadores e um instrumento para a sua luta e para que pudesse governar o país. Essa proposta também foi aprovada. A partir daí se conformou uma comissão que foi encarregada de redigir o programa e a carta de princípios do partido que foram levados ao congresso que que fundou o PT, no Congresso Sion em São Paulo, no início de 1980.

Marcilio, assim como a sua diretoria tinham limitações políticas importantes, tivemos polêmicas duras em muitos momentos e trilhamos por caminhos diferentes na política em nosso país. Mas, talvez por isso mesmo, eu me sinta com uma obrigação, para fazer justiça a ele, de dizer essas palavras sobre o seu papel num processo de lutas e organização que foram tão importantes para a classe trabalhadora brasileira. Olhando o movimento sindical hoje, é inevitável uma certa saudade das brigas que eu tinha com ele.

Essa á a minha homenagem a ele. Singela, mas sincera.

Benedito Marcilio, presente!

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Last Update: 23/04/2025