
O Brasil é o país dos absurdos, e a nova febre da “maternidade reborn” é só mais uma prova disso.
O mais assustador não são os adultos que adotam bonecos como filhos, mas o fato de que isso chegou ao ponto de exigir projetos de lei para impedir que o SUS (Sistema Único de Saúde) seja afetado por esse delírio.
Sim, há quem leve os bonecos ao SUS, como se fossem crianças reais. Sim, há quem defenda que seus “filhos” de silicone recebam atendimento pediátrico. E, sim, o poder público precisou intervir para proteger um sistema de saúde já sobrecarregado de fantasias que, agora, querem institucionalizar.
Os deputados Rodrigo Amorim (União-RJ) e Cristiano Caporezzo (PL-MG), que nunca moveram um dedo em favor da população vulnerável que realmente precisa do SUS, resolveram surfar na bizarrice e apresentar projetos que proíbem o atendimento desses brinquedos no sistema público e sugerem assistência psiquiátrica aos “pais” de reborn. Apesar do oportunismo, os projetos são tristes e, infelizmente, necessários.
Caporezzo, inclusive, que é conhecido pelo conservadorismo e alinhamento ao bolsonarismo, já virou manchete por processar Cláudia Raia por “oferecer brinquedos sexuais á filha de 12 anos”.
Errado não tá, mas foi oportunista nas duas ocasiões.

Já Rodrigo Amorim é aquele famoso por quebrar a placa em homenagem a Marielle Franco e postar no Instagram.
Ele tem um histórico de polêmicas: foi condenado por violência política de gênero ao ofender publicamente a vereadora trans Benny Briolly (PSOL) – chamando-a de “boizebú” (?), já chamou indígena de “lixo urbano” e sugeriu que “quem gostasse de índio deveria ir pra a Bolívia.”

O suprassumo do bolsonarismo grotesco, para surpresa de ninguém, e é claro que esses deputados especialistas em polêmicas ridículas não passam de oportunistas, mas, provavelmente sem saberem, estão colaborando com a mitigação de uma questão que tem tomado proporções inacreditáveis.
É alarmante que o SUS precise ser blindado contra brinquedos. Que hospitais públicos, onde falta leito e insumo, precisem se proteger de bonecos. E que o Estado tenha que legislar sobre isso em vez de garantir saúde básica à população.
A febre dos bebês reborn é mais do que um sintoma de fragilidade psíquica individual, é o reflexo de uma sociedade em colapso emocional, que romantiza a alienação e exige do sistema público a validação de delírios.
A linha entre realidade e fantasia foi cruzada, e a conta periga a cair no colo da saúde pública.