Os amigos que me acompanham desde os tempos do Blog do Luís Nassif, certamente se lembram da enorme luta que empreendi – armado apenas de um blog – contra a maior máquina de destruição de reputações que o país conhecera até então: a revista Veja.

Na época, já tinha saído da Folha, depois de acordo dos Frias com o BTG, após eu atrapalhar a compra da Goldman Sachs com matérias mostrando os problemas do banco com o CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais).

Veja foi pioneira na introdução da ultra direita no país. Inaugurou a fase com uma capa violentíssima, defendendo a liberação das armas. E prosseguiu com ataques contra tudo, governo, artistas tido como progressistas, o politicamente correto. 

Roberto Civita aproveitava o temor infundido pela revista para chantagens claras. Como quando ameaçou o Ministro Tarso Genro com uma capa, se ele não mudasse o novo esquema de venda de livros do Ministério da Educação – uma publicação entregue nas escolas para cada diretor escolher os livros que quisesse – que atrapalhou o sistema de vendas da Abril, com vendedores indo a cada escola.

Para esse mergulho no esgoto, Veja montou as primeiras personas para o novo mercado digital que se formava.

Um deles era o jovem ousado, atrevido, que não respeitava biografias, destruía o politicamente correto, atacava unanimidades – como Mozart, Chico Buarque. O personagem foi entregue a Diogo Mainardi que, até então, era um tímido colunista de cultura.

Copiava o modelo de um filme espanhol que retratava uma disputa comercial para adquirir uma empresa de telecomunicações. No filme, um jovem colunista cultural passa a ser alimentado com dossiês, denúncias, até ganhar musculatura perante a opinião pública. Depois, era utilizado como ferramenta da guerra empresarial, sem comprometer diretamente a emissora.

O segundo personagem foi calçado inteiramente nas ferramentas do fascismo. Era a persona virulento, agressivo. Esse papel foi encenado por Reinaldo Azevedo. Utilizava o chapéu Panamá como marca dos grupos que aderíam a ele. Foi o primeiro ensaio para a formação das milícias fascistas que passaram a atuar na Internet. Em breve havia Grupos do Chapéu atuando nas eleições de vários estados, emulando o guru. Nos lançamentos de seus livros, acorriam dezenas de jovens com chapéu Panamá com seus gritos de guerra contra os “petralhas”.

Aliás, todo esse ferramental, mais as teses defendidas pela revista e seus personas, comprova de modo claro que, naquele fim da década de 2000, a ultradireita – e a geopolítica norte-americana – já tinham suas estratégias claramente definidas.

A revista era dirigida por Eurípides Andrade e Mário Sabino, mas provavelmente o mentor intelectual era José Roberto Guzzo, diretor editorial, reportando-se a Roberto Civita.

Foram dias e dias do mais puro esgoto. Minha então esposa passava as noites lendo aquele lixo, indignando-se. Tinha um blog de poesia e colocou nele seu desabafo. Descobriram o blog, perceberam que poderia ser o ponto fraco para me desestabilizar, e despejaram toneladas de ódio no blog.

Nesse quadro dantesco, eu tinha dois pontos de sustentação emocional. Uma, os leitores do blog que todos os dias deixavam mensagens de apoio.

Lembro-me até hoje de um deles pedindo “por favor, não desanime” e outro, de Goiás, que me disse que ele e a esposa rezavam todos os dias por mim e ele estava fazendo uma rifa de sua bicicleta para me ajudar.

E havia personagens que surgiam das brumas da Internet, como Stanley Burburinho, misterioso, mas profundo conhecedor de tecnologia, formado no MIT, que trazia as informações mais estratégicas, depois de escarafunchar servidores. Virou uma lenda e até hoje não se sabe de sua identidade e sequer se ainda está vivo.

Ou a moça especialista em Diário Oficial, que trazia periodicamente informações sobre o governo José Serra – como a compra, pelos órgãos do governo do estado, de milhares de assinaturas da Veja e de outras revistas da Abril. De quebra, sua mãe rezava diariamente por mim, da mesma maneira que minhas tias e minha avó.

Eram os apoios. O medo que Veja infundia calava a todos, Federação Nacional dos Jornalistas, Sindicato dos Jornalistas, a então Associação Brasileira de Imprensa, grupos de defesa dos direitos humanos, juristas, e as centenas de vítimas dos ataques da mídia nos anos 90, que tiveram na minha coluna o único ponto de apoio. Condensei os 10 anos de luta contra abusos da imprensa no livro “O Jornalismo dos anos 90”, lançado em 2002.

No início, Veja contratou Reinaldo especificamente para rebater os ataques que sofria. Guardei 500 páginas de ataques, onde pululavam palavras como “ratazana”, “mão peluda”, “achacador”, “frequentador de sauna gay”.

Era uma autêntica antecipação do personagem do futuro filme Coringa. Posteriormente, crônicas futuras dele sobre traumas pessoais de infância confirmariam essa suspeita.

Pelo talento, sobreviveu a esse período de matador profissional e reinventou-se, ao contrário de Mainardi. O receio é como se comportará na próxima onda de ódio.

O maior desafio que enfrentei foi não devolver as baixarias. Na época, indignado, o jornalista Nirlando Beirão me contou um episódio que teve com Reinaldo. Já era noite avançada quando Reinaldo bateu na sua porta, fora de si. Tinha entrado em uma briga com o jornalista Pepe Escobar e despejava imprecações, lamentos de forma desconexa, deixando Nirlando em dúvida sobre as motivações da crise.

Poderia maliciar o episódio, devolver os ataques com casos concretos, mas lembrei-me que ele também tinha filhas. E poupei-o – e poupei-me – de baixarias.

A série que escrevi ainda está em um site do Google, O Caso de Veja e o perfil de Reinaldo no artigo A Cara de Veja, no momento em que a revista iniciava uma campanha publicitária tentando mudar sua imagem.

A guerra acabou quando Sidnei Basile, em nome de Roberto Civita, propôs um armistício: se eu parasse de falar da Veja, eles retirariam os 5 processos que abriram em nome de seus jornalistas. Recusei. 

O levantamento da guerra está no livro “O Caso Veja”

E em dois vídeos que gravei para uma universidade de Brasilia.

O Blog de Beatriz Nassif

O segundo ponto de sustentação, o ponto focal de equilíbrio, eram as minhas menininhas, as caçulas de 9 e 10 anos. 

Quando entrei na guerra, sabia que seria inclemente e eu ficaria só. Antes, fiz uma reunião com as duas filhas mais velhas, e com a então esposa, mostrei o que vinha pela frente, que afetaria a elas também, e pedi sua opinião. A opinião foi unânime:

  • Pai, se você não entrar nessa guerra, você morre.

Mas e as menininhas?

Todo o arsenal de lixo da ultradireita – com o canhão da Veja na frente – era direcionado a poucos blogs. E eu merecia sua preferência, pelas críticas que fazia à revista. Toda manhã elas saíam para a escola, e não sabia o que chegaria a elas dos ataques recebidos, das baixarias despejadas pela cloaca de Reinaldo.

Meu termômetro passou a ser o Blog de Beatriz Nassif que ela, com apenas 10 anos, montou no WordPress.

Era um refrigério tanto para mim como para a comunidade que se formou em torno do meu Blog, todos sufocados pelo clima lançado no país pelo antijornalismo da Veja, e assumido pelos demais veículos.;.

Cada crônica que ela escrevia me aquecia o coração, por saber que não tinha sido atingida pelo mar de lama.

E me davam grande orgulho pela menininha tornando-se gente. 

Como esse poema, escrito aos 11 anos:

Diferenças

Publicado por: Bibi em 14 novembro, 2009

Todos nós temos diferenças

Alguns são bonitos, outros são feios

Alguns são céticos, outros tem crênças

Alguns são implicantes, outros são sensíveis

Alguns são mal humorados, outros são bem humorados

Alguns são fáceis de entender, outros são difíceis

Algumas pessoas podem ter uma vida madura, outros uma vida complicada

Mas todas as pessoas tem a mesma semelhança:

Todas têm diferenças

Ou seu deslumbramento com a lógica de Sherlock Holmes e sua tentativa de copiar o ídolo na série “O Mistério do Homem e Sua Casa” em capítulos.

Ou a doçura da crônica sobre o anjo da guarda que não tinha familia e se chamava Pubi. “Os outros anjos tinham pai, mãe e ainda eles eram anjos da guarda”. E saiu pelo mundo atrás de uma criancinha que estivesse sem seu anjo até encontrar o “monstro do céu”.

Não ficou nele.

Twilight / Crepúsculo

Publicado por: Bibi em 16 julho, 2009

Eu li uma coleção de livros chamada Twilight ou Crepúsculo. A autora deste livro é Stephenie Meyer, também autora do livro The Host. Os livros que estão na coleção Twilight são:

  1. Twilight/Crepúsculo
  2. New Moon/Lua Nova
  3. Eclipse/Eclipse
  4. Breaking Dawn/Amanhecer

A coleção é sobre a família vampiro Cullen. Bella Swan conhece Edward Cullen, e ele quer chupar o sangue dela, porque é muito cheiroso. Mas Edward e os Cullen não chupam sangue de humanos, por isso eles convivem com humanos. Então como Edward não quer matar a Bella, ele fica agindo como se odiasse ela, mas ela não sabe disso, então ela acha que twm algo de errado com ela. Bella se apaixona por Edward e isso vira um problema para os Cullen e para Bella. Os livros são narrados por Bella, menos uma parte de Breaking Dawn, que é narrado por um amigo de Bella, Jacob.

Stephenie Meyer começou a escrever um livro desta coleção, chamado Midnight Sun – Sol da Meia-Noite -, que é o Twilight narrado por Edward. Quando a autora tinha escrito até o capítulo 12 (ainda era só um rascunho, sem correção), o que dizem é que ela deu à uns amigos de confiança dela, para darem uma olhada e verem se estava bom. Então uma dessas pessoas passou adiante e esse manuscrito acabou sendo liberando na internet, ilegalmente. Stephenie ficou muito triste de terem visto um pedaço dorascunho do trabalho dela, e achou que os leitores dela deveriam poder ler, sem ter que usar downloads piratas, então, ela disponibilizou o rascunho no site dela, mas ela não irá terminar o livro e publicá-lo, o que é uma pena.

Eu gostei desta coleção, porque este livro é ficção, misturado com a realidade e eu acho estes tipos de livros muito interessante.Eu acho que o livro é muito melhor que o filme, porque no livro se usa a imaginação e tem muito mais detalhes.

Aos 10 anos Bibi tinha lido mais de 15 livros, todos de papel, porque “gosto de sentir o cheiro”. Na escola, passava dicas de livros para colegas de todas as idades, conforme me relataram os professores. Aí resolveu resenhar a coleção de Percy Jackson e os Olimpianos, que fez tanto sucesso que rendeu 22 comentários.

Detalhe, a edição ainda era em inglês. Vieram leitores de Portugal. E, quando um tal de Grok duvidou que ela lesse em inglês, Bibi reagiu na hora;

groke said

12 outubro, 2009 às 9:12 pm

aff, que mintira, o livro The Battle of The Labyrinth ainda nao foi lançado em portugues, a nao ser que vc tenha lido em ingles, mas eu acho isso impossivel pela sua foto, vc é muito nova para saber ingles fluente, a nao ser que vc seja uma menina prodígio

Responder


  • Bibi said
    13 outubro, 2009 às 8:12 pm
    Sim eu li em inglês e só pra vc saber eu já fiz Cambridge e tirei a nota máxima e eu estudo numa escola bilingue!! então eu posso sim ser uma menina prodígio!

Não ficou nisso. Entre suas crônicas havia um romance trilíngue (ele tinha aulas de espanhol na escola). 

Cronica – Español

Publicado por: Bibi em 25 outubro, 2008

** Baseado em uma cronica que li na aula de Español

Hace sol vamos a la secar la ropa!

-Despertáte, despertáte! – grita la madre – Hace sol! Hace mucho sol, vamos a la secar la ropa!
-Qué, qué? De verdad?
– Sí, sí! Corré, corré! Traé la placha y el tendedero. Voy a buscar las ropas.
Sería posible lo que hace oyendo? De verdad estaba teniendo lugar esta conversación en aquel parquecito, al final de aquella gran avenida?
La hija lleva las canastas con ropas mojadas. Con la rapidez que da la  familiaridad, pronto algunas canastas llenas de ropas mojadas, pronto, una mano planchando las ropas; pronto, unas manos colgando las ropas en el tendedero.
Ahora las ropas están secas.
La situación fue resulta al aprovechan el dia de sol para secar la ropa

E, também, espaço para recordações. 

Porque eu me chamo Beatriz

Publicado por: Bibi em 18 julho, 2009

A mamãe e o papai me deram o nome de Beatriz por causa da música que o Chico Buarque e Edu Lobo fizeram e o Milton Nascimento cantou. Também por causa do significado: Aquela que traz felicidade.

Enquanto a mamãe estava em Ribeirão Preto terminando o mestrado, o papai telefonava pra ela, de São Paulo, e juntos ouviam a música e curtiam.

E o espirito crítico dos Nassif não poupava nem o pai:

Coexistência

Publicado por: Bibi em 19 julho, 2009

É legal e muito bom coexistir, sabe. O papai coexiste, mas não muito bem. Sabe por quê? Porque ele coexiste muito, muito mesmo. Mas ele coexiste com os eletronicos. A gente tem que gritar pra chamar ele. Uma vez eu gritei o nome dele e ele não respondeu. Eu gritei mais alto ainda e ele não respondeu. Eu gritei mais alto ainda e ele respondeu. Até que enfim. Eu quase fiquei muda (modo de dizer).

Montou crônicas explicando porque o pescoço da girafa era comprido e porque as zebras eram listadas.

Quando a professora ensinou acrósticos e pediu para cada aluno montar o seu, Bibi criou uma pequena obra prima:

Acróstico com o meu nome

Publicado por: Bibi em 25 julho, 2008

A minha professora falou para todo mundo fazer um acróstico com o próprio nome. Olhe o que eu fiz:

Borboletas

E

Abelhas

Têm

Risos

Iguais

Zzzzzzzz

Minha professora A-DO-ROU!!!!!!!!!!!

Fim!

Finalmente, digitou uma composição que fez com 6 anos, ela se descrevendo a si propria.

Tradução:

Era uma vez uma menina

chamada Beatriz

as vezes desenhava e escrevia relacha-

do as vezes muito caprichado

as vezes queria brincar com

as pessoas as vezes queria

brincar sozinha

Era uma menina muito gentil

que falava bom dia e boa tarde

e tinha um porteiro muito

amigo dela

Essa menina queria ser amiga

das outras pessoas

vai fazer 7 anos e é

muito esperta

Mas o maior orgulho de pai foram suas intervenções na escola.

No primeiro ano, ela entrou sem dominar inglês. As coleguinhas já tinham dois ou três anos de inglês. Ela saía nervosa de casa.

No segundo ano, uma professora de inglês, coreana, nos perguntou onde Bibi tinha feito inglês, tal seu dominio da lingua.

Na avaliação semestral, quando chamaram a Bibi, a professora a chamou de “docinho de côco”.

Fiquei curioso. A docinho sempre foi a caçula Dodó que, segundo as professoras, conseguia tudo o que queria, bastando que piscasse com aqueles cílios de libanesa. Mas  Bibi era um doce que só se percebia com observações mais acuradas.

Aí a professora contou. As aulas da manhã era em portugues, as da tarde em inglês. Uma das professoras perdeu o controle dos alunos. Era um caos, com alunos subindo nas carteiras, derrubando cadeiras.

Bibi foi de um a um explicando que aquilo era errado, que não deviam fazer. E pacificou a sala.

Mas seu maior feito fiquei sabendo na avaliação da caçula Dodó. Depois de elogios à caçula, a professora pediu licença para falar como mãe, e me contou o que Bibi fez por sua filha.

Era uma escola bilíngue, com muitas patricinhas. A professora conseguiu matrícula para sua filha, que acabou vítima de bullying das patricinhas.

O que fez a Beatriz? 

Quem liderava a classe eram as “populares”. Bibi, então, emulou o comportamento das “populares” e conseguiu assumir a liderança da classe. Um dia indagou das colegas:

  • Vocês acham a fulana chata?

Todas disseram que sim:

  • E vocês não acham que vinte chatas pegando no seu pé é pior?

Foi só aí que caiu minha ficha para um episódio que me intrigara. Fui almoçar na escola, Bibi e uma coleguinha me acompanhando. E Bibi imitava cada trejeito de patricinha da amiga. Saí de lá preocupado.

Agora entendia: era uma estratégia. Acabou o bullying e Bibi voltou ao comportamento habitual.

Em casa tínhamos ficado indignados com os relatos de bullying na colega. A mãe chegou a desafiar Bibi para fazer alguma coisa. Ela fez e nem veio nos contar.

Hoje a Bibilina é uma moça orgulhosa do seu país, e que não seguiu as humanas, como pensávamos. Foi para a exata, nos encheu de orgulho por onde passou, entrou na Poli e, agora, faz mestrado no ITA e é uma orgulhosa engenheira da Embraer.

No seu bloguinho já era possível identificar seu grande amor pelo Brasil que, desde cedo, a fez trilhar o caminho da construção.

Pergunto: tendo essas crônicas como reforço, que baixarias poderiam me atingir? A lama que jorrava diariamente do blog de Reinaldo, acampado no portal da Veja, era varrida para o lixo a cada crônica escrita pela Bibi.

PS – Tenho histórias de cada filha, que me orgulham. Já contei aqui e em breve voltarei na série “Pai Coruja”.

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Last Update: 27/04/2025