O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou nesta quarta-feira, 18, uma nova elevação da taxa básica de juros, a Selic, que passou de 14,75% para 15% ao ano. A decisão, unânime, marca a sétima alta consecutiva e coloca a taxa no maior nível desde julho de 2006.

A sequência de aumentos teve início em setembro de 2024, após o fim do ciclo de cortes iniciado anteriormente. Na ocasião, o Banco Central passou a adotar uma postura mais rígida em resposta à inflação persistente, especialmente no setor de alimentos. Desde então, a Selic subiu de 10,50% para o patamar atual.

De acordo com o comunicado oficial do Copom, a política monetária permanecerá restritiva por um “período bastante prolongado”. O comitê justificou a manutenção da taxa elevada com base nas projeções de inflação para os próximos anos, que seguem acima da meta estabelecida. Segundo a pesquisa Focus, a expectativa é de 5,2% em 2025 e 4,5% em 2026. A projeção do próprio Copom para 2026 é de 3,6%.

“Para garantir a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”, afirmou o Banco Central.

A Selic é o principal instrumento utilizado pela autoridade monetária para controle da inflação. Juros mais altos tendem a reduzir o consumo e desestimular investimentos, com o objetivo de conter o avanço dos preços. Contudo, esse efeito também implica desaceleração da atividade econômica, o que tem provocado críticas no campo político.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem adotado tom mais moderado nas últimas declarações, mas indicou anteriormente que o governo aguardava um movimento de redução na taxa.

Quando a Selic estava em 14,75%, Lula afirmou: “o que está acontecendo já estava precificado, a gente já sabia que isso ia acontecer. Então, o que nós estamos conscientes é de que a inflação está controlada, o preço dos alimentos começou a cair e eu acho que logo, logo, o Banco Central vai tomar a atitude correta de abaixar os juros”.

Com a nova elevação, parlamentares da base governista manifestaram descontentamento. O líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), classificou os juros como “indecente, proibitiva e desestimula investimentos produtivos”. O parlamentar também declarou: “a política atual transforma o Brasil no paraíso dos rentistas: quem vive de juros ganha, quem trabalha perde”.

Farias ainda afirmou que os altos juros têm impacto direto sobre o orçamento público: “falam muito de ajuste fiscal e da dívida pública. Mas o crescimento da dívida não vem dos programas sociais com saúde ou educação — vem do pagamento de juros”.

O presidente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, deputado Rogério Correia (PT-MG), também se posicionou.

Ele destacou o impacto fiscal da elevação da Selic: “esse dinheiro vai direto para os bancos, para o sistema financeiro e para os juros da dívida”. Segundo ele, cada ponto percentual da Selic representa um custo adicional de R$ 38 bilhões para o Estado.

No mercado financeiro, a leitura predominante é de que os juros não devem retornar a patamares abaixo de dois dígitos ao longo do mandato atual. A perspectiva também é compartilhada por analistas diante da política adotada pela gestão de Gabriel Galípolo, atual presidente do Banco Central e indicado pelo presidente Lula.

A próxima reunião do Copom está agendada para os dias 29 e 30 de julho. Até lá, a equipe econômica deve continuar acompanhando os indicadores de inflação e atividade econômica, além das expectativas do mercado, para definir os próximos passos da política monetária.

A manutenção dos juros em níveis elevados, mesmo com sinais de desaceleração nos preços de alguns produtos, como alimentos, é justificada pela autoridade monetária como necessária para ancorar as expectativas e assegurar o cumprimento das metas inflacionárias nos próximos anos.

O debate entre governo e Banco Central sobre os rumos da política econômica permanece em curso, com reflexos sobre a arrecadação, investimentos e as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). O resultado da próxima reunião será acompanhado de perto por agentes econômicos, lideranças políticas e investidores.

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Last Update: 20/06/2025