Por Elias Tavares

Nessa semana, o Brasil para. Não será por uma crise política, econômica ou um grande evento nacional. Será pela estreia do Big Brother Brasil 25, uma edição que traz uma nova dinâmica em duplas, onde dois participantes entrarão juntos no jogo. A partir desse ponto de partida, o BBB deixa de ser apenas um reality show e se torna um laboratório da sociedade brasileira, onde relações humanas, conflitos e estratégias se desenrolam diante dos olhos atentos de milhões de espectadores.

Como cientista político e também espectador declarado do programa, vejo no Big Brother uma metáfora clara para a política brasileira. Ambos compartilham características que explicam sua relevância e sua capacidade de dividir opiniões, engajar e, por vezes, gerar polarizações intensas.

Assim como na política, o Big Brother é um tema que mobiliza a opinião pública, provoca debates acalorados e exige posicionamentos. O programa, que reúne pessoas de diferentes origens sociais, culturas e personalidades, reflete um microcosmo do Brasil. Ali, temos o encontro de famosos e anônimos, pessoas de diferentes classes sociais, ideias, comportamentos e estratégias. É um retrato da pluralidade que vemos diariamente na política e na sociedade brasileira.

O ponto mais interessante é que, tanto na política quanto no BBB, a ausência de conflitos ou disputas pode significar o fracasso. Se uma edição do programa não apresentar barracos, discussões e estratégias marcantes, a tendência é que o público perca o interesse. Da mesma forma, na política, o debate — muitas vezes inflamado — é o que impulsiona mudanças, engaja a sociedade e move as engrenagens do sistema democrático.

A dinâmica em duplas desta edição traz uma nova camada de complexidade ao jogo, mas também reforça algo que a política nos ensina: alianças são temporárias. Assim como na política, onde partidos e líderes se unem estrategicamente, no BBB as parcerias podem ser fortes no início, mas as circunstâncias do jogo exigem reposicionamentos constantes. E, inevitavelmente, só haverá um vencedor.

Outro aspecto relevante é a interação com as redes sociais, que transformaram o BBB em uma plataforma de alcance ainda maior, assim como fizeram com a política. O voto popular, amplamente debatido nas redes, define os rumos do programa, assim como a mobilização digital tem impactado eleições e decisões políticas no Brasil e no mundo. Para os participantes famosos, estar no BBB vai além do prêmio: é uma questão de visibilidade e influência. Não é muito diferente de como políticos buscam as câmeras e as redes sociais para amplificar suas mensagens e alcançar seus objetivos.

O Big Brother também ilustra a essência das disputas políticas: a busca pela sobrevivência, pela aprovação pública e, no fim, pela vitória. Cada paredão é uma espécie de eleição, onde o público decide quem merece continuar e quem deve sair. E cada episódio nos lembra que, assim como na política, o sucesso depende de estratégias, narrativas e da capacidade de conquistar corações e mentes.

Por isso, o BBB para o Brasil. Não é só um programa de entretenimento. É um reflexo das nossas relações, disputas e do nosso próprio país. Talvez por isso renda tanto, tanto financeiramente quanto emocionalmente, com cotas milionárias e uma audiência engajada que transcende o programa. O BBB, como a política, é mais do que espetáculo: é um espelho da nossa sociedade, com suas contradições, alianças e conflitos.

Que venha mais uma edição, porque, para entender o Brasil, às vezes basta observar uma casa com câmeras espalhadas por todos os lados. E, como cientista político, reconheço o valor desse exercício. Afinal, o Big Brother Brasil é, de certa forma, uma política em miniatura.

Elias Tavares é cientista político

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Last Update: 14/01/2025