O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) admitiu ter pedido aos Estados Unidos para que interviessem no processo eleitoral brasileiro, indicação de que o mesmo pode ser controlado – para não dizer outra coisa sob risco de censura pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – pelas forças de repressão e inteligências norte-americanas. Algo que, diga-se de passagem, não é bem uma novidade àqueles que acompanham a política brasileira. 

“Mais recentemente, tivemos um decisivo apoio dos Estados Unidos à institucionalidade e à democracia brasileiras em momentos de sobressalto”, disse o ministro.

E Barroso disse isso em Nova Iorque, nos EUA, onde participou de um evento organizado pelo Lide, grupo empresarial do ex-governador paulista João Doria (PSDB). É difícil achar algo mais escandaloso que isso.

A esquerda, que deveria palitar os dentes com essa declaração, está lamentando não o ataque à soberania do Brasil, mas sim o fato de que isso teria servido para municiar a direita contra o STF. É o que nos ensina Reynaldo José Aragon Gonçalves, colunista do Brasil 247.   

Segundo ele, “esse tipo de fala, vinda do presidente da mais alta cúpula do Judiciário, não apenas fragiliza a autoridade da Corte como oferece munição retórica àqueles que trabalham sistematicamente para confundir a opinião pública”.

Ou seja, a preocupação de Reynaldo não é o fato de que Barroso declarou que os Estados Unidos controlam as eleições brasileiras, mas o fato de que a direita vai utilizar isso para atacar o STF – no que está certa. E continua:

“Essa declaração, mais do que vaidosa, é desastrosa. Ela reforça, mesmo que sem intenção, a percepção bolsonarista de que havia um plano legítimo de ruptura, e que ele só não prosperou por interferência externa. Ou seja, fornece o álibi perfeito para que setores extremistas, hoje em campanha aberta por anistia, construam a narrativa de que o Brasil sofreu, na verdade, uma intervenção internacional para impedir a ‘vontade popular’.”

Se o presidente do STF reconhece o controle norte-americano sobre as eleições, está, de fato, comprovado que todos os golpes que o Brasil sofreu tiveram as mãos dos norte-americanos no controle. E que a artilharia do STF, apontada agora para os bolsonaristas, é, sim, mais uma obra da intervenção norte-americana na política nacional. É uma operação “Condor” às avessas.

Receoso, Reynaldo afirma que “o que poderia ser apenas mais um tropeço verbal de um magistrado vaidoso, no contexto da guerra híbrida, transforma-se em um ato comunicacional estratégico involuntário, e perigosamente eficaz para alimentar o caos cognitivo que sustenta o fascismo em tempos de desinformação sistêmica”.

A afirmação de Barroso, de que os EUA ajudam (controlam) o processo eleitoral brasileiro, seria um “tropeço verbal” para o redator do Brasil 247. Obviamente, pela gravidade das declarações de Barroso, não só os bolsonaristas, mas toda a população deveria se insurgir contra o STF, pois a afirmação foi contra a soberania popular. Foi dito que o povo pode até votar, mas os Estados Unidos é que vão “ajudar”, “apoiar” o resultado.

“O que muitos ainda tratam como apenas mais uma frase infeliz de Barroso, na verdade, funciona como um estímulo estratégico dentro do ecossistema da guerra híbrida que o Brasil enfrenta de forma cada vez mais evidente desde meados dos anos 2000. Nesse tipo de conflito, as armas não são tanques nem fuzis, mas narrativas moduladas para fragilizar instituições, dissolver consensos e manipular afetos. É nesse ambiente de disputa simbólica permanente que declarações como a de Barroso deixam de ser simples escorregões retóricos e passam a ocupar lugar estrutural na arquitetura informacional da desestabilização política e cognitiva.”

O parágrafo acima, apesar da prolixidade, revela o medo gigantesco do redator diante dos bolsonaristas: a incapacidade total de combater politicamente o bolsonarismo; a necessidade de se utilizar dos meios repressivos regulares contra os opositores políticos; e um acordo envergonhado de que, sim, precisamos do governo norte-americano, precisamos daqueles que deram e dão golpes em todo mundo. 

“Esse reforço simbólico tem efeitos profundos na modulação da percepção pública. Ele atua como um condicionador psicoafetivo que reorganiza as narrativas no imaginário coletivo e reconfigura as fronteiras entre crime e heroísmo, golpe e patriotismo, justiça e perseguição.”

Não tem nada de “simbólico”. O que o STF está fazendo contra os bolsonaristas é perseguição política e, nesse sentido, parte de um golpe, parte do plano de tirar um setor popular da política nacional. E o que Barroso disse também não é “simbólico”, mas real. Os EUA interferem em praticamente todas as eleições pelo mundo. 

“Em um ambiente já saturado por pânico moral, redes de desinformação e revisionismo histórico, uma fala como essa de Barroso oferece uma âncora cognitiva perfeita para que a extrema-direita rearticule sua ofensiva.”

Se a extrema direita sair às ruas em protesto contra os feitos e dizeres do STF e seus ministros, estarão fazendo o certo. O correto era a esquerda sair antes, mas, como ilustra o articulista do Brasil 247, a esquerda pequeno-burguesa, estagiária de bedel, está preocupada em entregar currículo no gabinete do senhor Alexandre de Moraes.

Para terminar a enrolação altamente depressiva e paralisante, escreve Reynaldo: “trata-se de um processo típico de guerra híbrida: deslocamento de significados, infiltração discursiva e reprogramação emocional da opinião pública”. Tudo isso para encobrir o fato de que o STF está a mando dos Estados Unidos, como sempre esteve. 

“Em tempos de guerra híbrida, o ruído institucional não é apenas um ruído. Ele é, muitas vezes, um instrumento a serviço da confusão, da descrença e da manipulação calculada da sociedade”, afirma o colunista, sem perceber que o maior manipulado é ele mesmo, mais uma vítima da história de que STF e Alexandre de Moraes estão fazendo “justiça”, mesmo depois da corte homologar absolutamente todos os golpes que o Brasil sofreu.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 16/05/2025