O governo de Bangladesh foi derrubado no dia 5 de agosto. A primeira-ministra, Sheikh Hasina, fugiu do país e foi deposta. Um governo interino foi formado pelos partidos da oposição, militares e estudantes – os quais iniciaram as manifestações que derrubaram a premiê. Protestos os quais tiveram interferência de agentes externos. A situação do país asiático é clara: está em curso uma revolução colorida no Bangladesh.
Bangladesh é um dos países mais populosos do mundo. Com 171 milhões de habitantes, é considerado o 8° país mais populoso. Localizado na Ásia meridional, Bangladesh possuí uma posição privilegiada econômica, política e militarmente. Está situada na Baía de Bengala, na qual passa metade do tráfego de contêineres do mundo e um terço de todo o comércio mundial, ligando a Europa e o Oriente Médio ao Leste da Ásia – incluindo 2 das 4 maiores economias do mundo (China e Japão).
Para além de sua importante posição geográfica, Bangladesh também possui um papel importante de mediador entre a China – segunda maior economia do mundo – e a Índia – uma das economias que mais crescem no mundo – bem como com os diversos países do Leste asiático. Aproximou-se recentemente da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e faz parte do Banco dos BRICS.
Apesar de sua grande importância para a região, o país é pouco comentado no cenário internacional. Contudo, vem estampando capas de jornais pelo planeta após o golpe de Estado no país.
O golpe ocorreu após uma onda de protestos tomarem conta de Bangladesh. As manifestações tiveram início no dia 1 de julho, após a promulgação de uma lei que restaurava cotas de 30% no sistema educacional e no serviço público para descendentes dos participantes da guerra de independência do país. Algo comum em países que passaram por guerras civis ou de independência.
Contra a lei, estudantes saíram às ruas. No dia 16 de julho, diversos protestos violentos eclodiram no país. O governo bangladeshiano respondeu com violência. A intensidade dos protestos forçou a Suprema Corte de Bangladesh reduzir as cotas para 5%, o que gerou alguns dias de calmaria.
Porém, os protestos eclodem novamente, desta vez ainda mais violentos. Diferentemente da primeira onda de protestos, os quais contavam com presença massiva dos estudantes, a segunda onda teve participação dos partidos de oposição e movimentos contrários ao governo – incluindo o Jammat-e-Islami (movimento político islâmico que se opõe à independência de Bangladesh).
Com semanas de protestos, a primeira-ministra é forçada a fugir do país. Uma junta militar toma o poder e, juntamente dos estudantes e partidos de oposição, colocam o banqueiro treinado pela CIA, Muhammad Yunus, como primeiro-ministro interino.
Os agentes envolvidos já seriam pontos suficientes para a suspeita de uma revolução colorida no país. Mas as posições tomadas pela primeira-ministra nos últimos meses, somadas ao cenário internacional, carimbam a suspeita.
Meses antes das eleições de 2024, a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, fez declarações públicas de que o embaixador dos EUA em Bangladesh havia se encontrado com a oposição de Hasina e oferecido apoio em manifestações golpistas.
Após a reeleição de Hasina no começo deste ano, a primeira-ministra ela criticou as ações da política externa dos EUA em países de maioria muçulmana sob o pretexto de “democratização”.
Em maio, um mês após sua declaração, Hasina alertou ter sido contatada por um representante de um governo ocidental que a teria pressionado para entregar uma base militar de Bangladesh para o país imperialista. Caso contrário, a premiê teria problemas com os separatistas kukis, minoria étnica majoritariamente evangélica. Hasina não especificou qual país seria, mas, analisando a situação, restam poucas dúvidas que a premiê falava sobre os EUA.
Como se não bastasse, o sucessor de Hasina é diretamente ligado com o estado profundo norte-americano. Muhammad Yunus formou-se em uma universidade de fachada da CIA, recebeu as maiores congratulações do governo dos EUA, além de ser financiado pela burguesia imperialista para alastrar a campanha de rapina do capital financeiro internacionalmente.
O interesse norte-americano vai além da já citada posição geográfica de Bangladesh. O país abriga grandes investimentos russos, chineses e indianos. Duas empresas russas fecharam acordos com o governo bangladeshiano nos últimos anos, a Rosatom e Gazprom – para a construção de uma usina nuclear e para a exploração de 20 poços de gás na Baía de Bengala, respectivamente. Assim como os acordos de infraestrutura com o governo chinês para a integração na Nova Rota da Seda.
Ademais, a Índia é parte dos BRICS, apesar de sua posição ainda de subserviência com os EUA. O distanciamento de uma das economias que mais crescem no mundo, somado a sua aproximação da China e da Rússia, levantou um alerta para os norte-americanos, os quais iniciaram um processo de desestabilização e ameaças com o país hindu.
Estes fatores, adicionados a situação de crise imperialista na Europa, na África e no Oriente Médio, forçaram os EUA a apertarem as rédeas no Leste asiático. O golpe dado em Bangladesh aumenta a tenção na região, já tencionada pela política imperialista contra a China, Rússia e Coreia do Norte, podendo forçá-los – principalmente a China – a intervir na região. Cria também uma situação de pressão nos indianos, podendo forçá-los a intervir no país para que não haja uma base norte-americana em sua fronteira e para proteger população hindu em Bangladesh de mais um genocídio – como o que ocorreu na guerra de independência.