Um dos principais desafios do governo Lula para o mercado, a alta taxa de juros, deve sofrer nova pressão no segundo semestre do ano. É o que prometem investidores e representantes financeiros, segundo agências de notícias do setor.
A data coincidirá com a posse do novo escolhido pelo presidente Lula ao comando do Banco Central. Por isso, a pressão será dupla: pelo aumento da taxa Selic e, como esta deverá ser uma bandeira oposta do novo líder do BC, a provável oposição de representantes do mercado ao presidente da instituição financeira.
Sendo o Banco Central o responsável por definir os juros básicos do país, e a postura do atual presidente, Roberto Campos Neto, de impedir a redução, ao contrário, atuar pelo aumento recorrente da taxa que incide diretamente sobre a inflação, o cenário deverá ser o principal desafio econômico da gestão Lula no segundo semestre do ano.
Vem aumentando a pressão do setor pelo aumento da taxa básica de juros – o oposto da defesa incisiva do presidente. Em entrevista recente ao InfoMoney, o CIO da Legacy Capital, Felipe Guerra, afirmou que o aumento da Selic deveria ocorrer em setembro.
“Quanto mais esperar [para elevar os juros], maior vai ser o trabalho para consertar. Achamos que, nesse câmbio [alta do dólar] de R$ 5,45, o BC deveria preparar o mercado e o Governo para eventual alta [da taxa Selic] em setembro”, disse o executivo.
Ao mesmo tempo, Lula não martelou o nome que trará para o comando do BC, mas o mais cotado é Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária do Banco Central e que atuou como assessor direto de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda.
A expectativa é que o nome fosse anunciado ainda no começo do ano, mas os embates recentes entre o governo e Campos Neto arranhou a imagem de Lula junto a representantes do mercado, o que incidiria automaticamente no escolhido pelo presidente para o comando do BC.
A entrevista do representante da Legacy deu o tom. Sem sequer anunciado o nome do novo presidente, o executivo já afirmou que “está saindo de um Banco Central técnico para outro que será apontado pelo presidente que acha que tudo tem que ser diferente”.
Sendo Galípolo ou outro, os investidores já mostraram que farão oposição: “Essas falas e entrevistas do Lula geram volatilidade. Do lado dos sinais, temos toda essa questão do presidente com relação ao Banco Central. Quando ele fala isso, ele antecipa a preocupação com a transição. Você está saindo de um Banco Central técnico para outro que será apontado pelo presidente que acha que tudo tem que ser diferente”.
“Você coloca em xeque a credibilidade do próximo mandato do BC de certa forma. Isso provoca uma necessidade de o BC se mostrar mais técnico do que ele deveria, se ele não tivesse o presidente falando. Essa postura gera um ônus para a próxima equipe do BC, que terá se provar tecnicamente. Enquanto isso não acontecer, você vai ter essa desconfiança”, continuou.
E, ainda que o presidente Lula tenha se comprometido, diversas vezes, com a segurança e cumprir com a meta fiscal, eles afirmam que o arcabouço já será “inviável”, ao atrelar os benefícios sociais ao salário mínimo e o aumento do piso da saúde e educação.
A questão não é se o arcabouço vai ser respeitado ou não. A questão é quando o arcabouço vai explodir. Para ele ser viável, você precisa de medidas estruturais, de desindexação dos benefícios sociais ao salário mínimo e uma revisão dos pisos de saúde e educação. O arcabouço não para de pé”, afirmou.