O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (7) elevar a taxa básica de juros da economia (Selic) em 0,5 ponto percentual, passando de 14,25% para 14,75% ao ano. A decisão foi unânime entre os membros do comitê, incluindo o presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, e os demais diretores — todos indicados pelo governo Lula.
Este é o terceiro aumento da taxa em 2025, ano que marca o início da gestão de Galípolo à frente do BC, e o sexto consecutivo desde o fim do ciclo de cortes. A nova taxa é a mais alta desde julho de 2006, quando a Selic estava no mesmo nível, ainda durante o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
Com a decisão, o Brasil passou a ocupar a terceira colocação no ranking de países com maiores juros reais do mundo, com 8,65% ao ano, atrás apenas de Turquia (10,47%) e Rússia (9,17%). A taxa brasileira fica à frente de países como África do Sul (6,61%) e Colômbia (4,68%).
Justificativas do Copom
Segundo o comunicado divulgado pelo BC, o aumento dos juros tem como objetivo conter a inflação e está alinhado à estratégia de manter a política monetária em patamar “significativamente contracionista por período prolongado”. O texto aponta que a decisão leva em conta a “resiliência na atividade econômica”, o “aquecimento do mercado de trabalho” e a “elevação das projeções de inflação”.
O comitê também afirmou que há influência do cenário externo sobre a economia brasileira, destacando a política comercial dos Estados Unidos, especialmente após o anúncio de novas tarifas comerciais pelo presidente norte-americano Donald Trump. A incerteza quanto aos efeitos dessas medidas sobre o comércio global e sobre o cenário inflacionário internacional foi apontada como fator relevante.
No plano interno, o Copom mencionou a política fiscal do governo federal como elemento que “tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes econômicos”. Apesar disso, a autoridade monetária deixou em aberto qual será a próxima decisão e indicou que a calibragem da política monetária dependerá da evolução dos indicadores econômicos.
“O cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, afirma o comunicado.
Aumento atrás de aumento
O primeiro aumento da taxa Selic neste ano foi anunciado em 29 de janeiro, na primeira reunião do Copom com Galípolo na presidência. Na ocasião, o comitê elevou a taxa em um ponto percentual, passando de 12,25% para 13,25% ao ano. A decisão seguiu o que havia sido sinalizado pelo comitê no fim de 2024, quando ainda era presidido por Roberto Campos Neto.
Em 20 de março, a taxa voltou a subir em mais um ponto percentual, alcançando 14,25%. Com isso, o Brasil já havia se posicionado como o quarto país com os juros reais mais altos do mundo. O comunicado do Copom naquela ocasião também havia antecipado uma nova elevação para a reunião de maio, o que se confirmou nesta quarta-feira.
Desde setembro de 2024, a Selic foi elevada em 4,25 pontos percentuais. O atual ciclo é o segundo maior dos últimos 20 anos, atrás apenas do período entre março de 2021 e agosto de 2022, quando a taxa foi elevada em 11,75 pontos após a pandemia.
Impacto sobre a dívida pública
De acordo com dados do próprio Banco Central, cada ponto percentual de aumento na Selic representa cerca de R$55 bilhões a mais em juros pagos pelo governo federal à dívida pública. Com as três elevações de 2025, o impacto adicional já ultrapassa os R$150 bilhões. O valor equivale a seis vezes o custo estimado da proposta do governo de ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até R$5 mil mensais, estimado em R$25 bilhões ao ano.
A política de juros altos também encarece o crédito, desestimula o investimento produtivo e aumenta o custo do financiamento público. Segundo o BC, a taxa neutra de juros reais no Brasil — aquela que não estimula nem freia a economia — é de 5%. A atual taxa real (acima da inflação) está quase quatro pontos percentuais acima disso.
Gabriel ‘Campos Neto’ Galípolo
A terceira elevação consecutiva da Selic em 2025 sob comando de Gabriel Galípolo consolida o fato de que o novo presidente do BC veio para levar adiante a mesma política de arrocho que Campos Neto. Apesar de críticas feitas por setores do próprio governo e pela esquerda pequeno-burguesa no início do mandato, o Banco Central sob direção indicada por Lula segue exatamente a mesma política implementada durante o governo Bolsonaro.
A medida representa mais um capítulo da submissão do atual governo à política econômica imposta pelos banqueiros e pelo imperialismo. A cada aumento dos juros, centenas de bilhões são transferidos diretamente do orçamento público para os rentistas — recursos que poderiam ser aplicados em infraestrutura, saúde, educação etc.
A elevação dos juros não é “uma decisão técnica”, mas uma ofensiva contra o povo. Enfrentar essa política significa, necessariamente, romper com a subordinação ao capital financeiro e organizar a mobilização dos trabalhadores contra o controle do orçamento nacional pelos banqueiros.