| por Matheus Araújo, do Movimento Aquilombar e militante do PSTU
As Rondas Especiais (RONDESP) da Polícia Militar da Bahia deflagraram uma operação no bairro de Fazenda Coutos, em Salvador, na terça-feira (4), que resultou em 12 mortes, segundo os veículos oficiais de Imprensa, e a própria SSP-BA. Outras fontes apontam que o número de mortos pode chegar a 14. Em nota, a SSP-BA aponta que “após relatos da invasão de um grupo fortemente armado de uma organização criminosa em Fazenda Coutos, em Salvador, a Polícia Militar intensificou o policiamento na região”, e afirma que durante as incursões na área, foram recebidos a tiros.
No entanto, segundo a versão dos moradores e familiares das vítimas, os policiais invadiram a Rua Teotônio Vilela no subúrbio de Salvador a tiros, inclusive matando pessoas que não possuem ligações com essas organizações, caso do vendedor ambulante Davi Costa dos Anjos, de 17 anos. Segundo sua irmã, ele foi assassinado em um imóvel onde outros homens foram mortos, “porque não tinha opção a não ser correr para se defender”.
Não é um caso isolado
Após dez anos da Chacina do Cabula, que ocorreu em 6 de fevereiro de 2015, na Vila Moisés, onde 12 pessoas foram executadas pela Polícia Militar da Bahia, o governador do Estado da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), responsável por uma política de segurança pública voltada para o massacre em série e episódios constantes de chacinas produzidas por agentes públicos, nos “presenteia” com mais um episódio de violência brutal contra a população negra e da periferia, escancarando que essa política que já tem sido adotado há décadas no Estado já se demonstra falida, na medida em que não resolve os problemas da segurança pública enfrentada pela grande maioria da população, ao contrário, só aumenta a violência, e ceifa a vida de milhares de pessoas, em sua grande maioria jovens negros de faixa etária entre 17 a 29 anos.
O Instituto Fogo Cruzado registrou a 100° chacina desde julho de 2022 em Salvador e Região Metropolitana, considerando a realizada pelos agentes públicos em Fazenda Coutos. Dentre essas chacinas, 67 foram realizadas com participação da Polícia Militar da Bahia, resultando em 261 mortes. Essa política de segurança pública pautada na ação ostensiva da polícia nas periferias, com a justificativa de que está combatendo o tráfico de drogas e as organizações criminosas não atingem os milionários e poderosos que lucram com a comercialização de substâncias. Demonstrando que Jerônimo Rodrigues (PT) governa para os ricos e não possui nenhum compromisso com a vida da população negra.
Essa tal guerra às drogas, na verdade representa uma guerra aos pobres, onde o principal alvo é a juventude negra e da periferia. O extermínio físico desses jovens através da atuação das forças do Estado nas periferias, funciona como mecanismo de controle e peneiramento social, onde o Estado decide quais vidas devem e quais não devem ser preservadas, baseado em critérios de raça e classe dos indivíduos.
Independência de classe: uma questão de vida ou morte
Grande parte do movimento negro se cala diante do genocídio promovido pelo PT na Bahia. Acomodados nas secretarias públicas e em cargos no governo, fingem não enxergar a real situação da população negra no nosso Estado.
É preciso independência diante dos governos para denunciar de maneira coerente e lutar contra essa política de segurança pública genocida aplicada pelo PT na Bahia, mas também a nível nacional.
Desmilitarizar a segurança pública e pôr fim à “Guerra às Drogas”
É preciso, de imediato, desmilitarizar a segurança pública, começando pela Polícia Militar. Isso significa colocá-la sob controle dos trabalhadores, a partir de conselhos populares nos bairros e locais de moradia, onde a população possa escolher os representantes das forças policiais, bem como a sua atuação.
Também é fundamental legalizar todas as drogas, atacando os lucros dos milionários que lucram com o tráfico de drogas e tratando os problemas decorrentes do abuso de substâncias como o que são: problema de Saúde Pública.
Mas para que possamos de fato acabar com a guerra interna e o genocídio negro é necessário destruir o sistema de exploração e opressão capitalista, responsável pela barbárie social a qual o povo pobre e negro está submetido. O capitalismo precisa da violência para manter a superexploração da classe trabalhadora, na medida em que rebaixa as condições de vida de grande parte da população, mantendo esses setores que residem nas comunidades pobres afetadas pela ação das forças do Estado, em altos níveis de desemprego e subemprego, sem acesso a políticas públicas como moradia, saúde, educação, acesso à cultura e lazer. Tudo isso com a cumplicidade dos governos, que governam para os ricos e poderosos.
É preciso construir uma sociedade socialista, onde o povo negro e pobre da periferia possa decidir de fato os rumos das suas vidas, governando através de conselhos populares.
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