Nesta terça-feira (12), completam-se 227 anos da Revolta dos Búzios, também conhecida como Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates, um dos mais importantes movimentos populares da história do Brasil. O levante ocorreu em 12 de agosto de 1798, na Bahia, e defendia ideias muito à frente do seu tempo: a independência do Brasil (que só se concretizou em 1823), o fim da escravidão (que viria apenas em 1888) e a instauração de uma república (proclamada em 1889).
Inspirada pelos ideais iluministas da Revolução Francesa e pela força emancipatória da Revolução Haitiana, a Revolta dos Búzios mobilizou diversas camadas sociais — negros livres e escravizados, soldados, alfaiates e outros trabalhadores urbanos. Naquele dia, os conspiradores espalharam pelas ruas de Salvador papéis manuscritos conclamando o povo à luta e proclamando as palavras de ordem “Liberdade, Igualdade, Fraternidade e República”.
Entre os registros históricos, destacam-se os panfletos que anunciavam:
“Está para chegar o tempo feliz da nossa liberdade: o tempo em que seremos irmãos: o tempo em que todos seremos iguais.”
Outro chamamento, ainda mais contundente, afirmava:
“Homens, o tempo é chegado para vossa ressurreição, sim, para que ressusciteis do abismo da escravidão, para que levanteis a sagrada Bandeira da Liberdade.”
O movimento foi brutalmente reprimido pela Coroa portuguesa. Ao todo, 635 pessoas foram investigadas. Quatro líderes — Lucas Dantas, Manuel Faustino, João de Deus e Luís Gonzaga das Virgens — foram enforcados e esquartejados em praça pública. Suas partes foram expostas em diferentes pontos da cidade para servir de intimidação, numa tentativa cruel de apagar o espírito revolucionário.
Para Jerônimo da Silva Júnior, Secretário Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da CTB, diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e historiador especializado em História da Bahia, a data é um momento de memória e resistência:
“A Revolta dos Búzios é um símbolo de coragem popular e de luta contra todas as formas de opressão. É a lembrança de que a liberdade, a igualdade e a fraternidade são conquistas que exigem sacrifício e determinação.”
Jerônimo reforça que as demandas levantadas em 1798 continuam atuais:
“Aqueles homens e mulheres defendiam bandeiras que ainda hoje ressoam: a igualdade racial, o direito à participação política e a justiça social. Mais de dois séculos se passaram, mas a essência dessa luta permanece.”
Ele também alerta para a importância de preservar a memória coletiva:
“Se não conhecemos nossa história, corremos o risco de repetir as injustiças do passado. A Conjuração Baiana nos mostra que o povo organizado pode desafiar estruturas de poder seculares.”
E conclui lembrando o caráter inspirador do movimento:
“O sonho dos alfaiates e conspiradores de 1798 não morreu. Ele se renova a cada vez que o povo brasileiro se levanta contra a exploração e a desigualdade. Essa chama segue acesa.”