Nesta segunda-feira (19), pela primeira vez em 80 dias, caminhões de ajuda humanitária entraram na Faixa de Gaza. Isto ocorre logo após o governo de Benjamin Netaniahu ter decidido permitir a entrada dos veículos, levantando parcial e temporariamente o bloqueio total que as forças israelenses de ocupação vinham realizando desde o dia 2 de março.

Contudo, foi permitida a entrada de apenas 30 caminhões de ajuda humanitária e, no decorrer da próxima semana, a expectativa é que apenas essa quantidade seja permitida entrar em Gaza diariamente.

Este número corresponde a apenas um caminhão por 75 mil palestinos, conforme destacado pelo canal de comunicação Resistance News Network (RNN) no Telegram. O portal também informa que “a Faixa de Gaza precisa de, no mínimo, 500 a 600 caminhões de ajuda por dia, e esses eram os requisitos pré-guerra”, acrescentando que milhares de caminhões permanecem na fronteira com Gaza, impedidos de entrar. O que faz da decisão do governo israelense, de levantar parcial e temporariamente o bloqueio, “não uma medida humanitária, mas uma medida militar — apenas o suficiente para evitar a fome, aos olhos deles, com a vantagem adicional de contornar a pressão internacional”.

Desde o início de março, quando “Israel” estabeleceu o bloqueio total contra Gaza, pelo menos 57 crianças morreram de fome, com a fome atingindo todos os dois milhões de palestinos em Gaza. Ao mesmo tempo, a ocupação retomou seus bombardeios criminosos diários a partir de 18 do mesmo mês.

No decorrer da última semana, ao mesmo tempo em que a imprensa imperialista começou a relatar um afastamento cada vez maior entre o governo Trump e o governo Netaniahu, as forças de ocupação intensificaram os bombardeios e deram início a uma nova ofensiva, batizada de “Carruagens de Gideão”, de forma que mais de 100 palestinos vêm sendo assassinados todos os dias. 

Essa situação agravou a fome generalizada em Gaza e vem resultando em protestos mais frequentes por parte da população nos países imperialistas. Outra expressão de como o genocídio de “Israel” contra os palestinos está aprofundando a crise nos países imperialistas e, consequentemente, o apoio destes países ao regime sionista foram declarações dadas nesta segunda-feira (19) por Emmanuel Macron, Keir Starmer e Mark Carney, respectivamente presidente da França e primeiros-ministros da Inglaterra e Canadá.

Representantes do setor principal do imperialismo, eles alertaram que não ficarão “de braços cruzados” diante das “ações escandalosas” do governo israelense, ameaçado “Israel” com “medidas concretas” se o governo Netaniahu não cessar a ofensiva militar e não desbloquear a ajuda humanitária no território palestiniano 

Em declaração conjunta, afirmaram: “estamos determinados a reconhecer um Estado palestino como uma contribuição para a realização de uma solução de dois Estados e estamos prontos para trabalhar com outros com esse fim”, informando que há uma conferência nas Nações Unidas prevista para junho marcada “para encontrar um consenso internacional em torno deste objetivo”.

Nos Estados Unidos, outro ocorrido mostra que o governo Trump continua a se afastar do governo Netaniahu. Conforme noticiado nesta segunda-feira pelo portal de notícias Axios, citando funcionário norte-americano de alto-escalão, o vice-presidente dos EUA, J. D. Vance, decidiu não visitar “Israel” esta semana devido à mais recente escalada do regime israelense em Gaza. Segundo Axios, Vance “acabou desistindo do plano em meio a preocupações de que a visita seria interpretada como um endosso à recém- lançada ofensiva terrestre da ocupação, apelidada de ‘Carruagens de Gideão’”.

A ofensiva, iniciada na última sexta-feira (16), foi precedida por intensos bombardeios contra Beit Lahia e Jabalia (norte de Gaza). Já no sábado, o Gabinete de Imprensa do Governo de Gaza informou que “300.000 palestinos foram deslocados, 200 mártires ascenderam e 1.000 casas foram destruídas no norte da Faixa de Gaza somente nas últimas 48 horas”, como resultado dos “repetidos massacres realizados pelas forças israelenses de ocupação”.

Na manhã desta segunda-feira, o exército sionista lançou mais de 40 ataques aéreos em Khan Iunis, na parte sul de Gaza, atingido inúmeras casas palestinas. Tiveram também como alvo uma sala dentro do Complexo Médico Nasser, um dos locais de abrigo para civis deslocados e a área de al-Mawasi, em Khan Iunis, uma zona humanitária designada, conformem noticiado pela emissora libanesa Al Mayadeen.

Contudo, correspondente local da emissora informou que os invasores israelenses falharam em operação voltada para resgatar os prisioneiros israelenses: “as forças israelenses não conseguiram atingir seu objetivo, matando um cidadão palestino e sequestrando sua esposa e filhos”.

Da mesma forma, houve fracasso em operação para sequestrar o líder da Resistência Ahmad Serhan para coletar informações. Serhan fazia parte das Brigadas Nasser Salah al-Din, a ala militar dos Comitês de Resistência Palestina, que comunicaram que o combatente palestino foi martirizado, mas não capturado. No mesmo comunicado, as brigadas elogiaram sua “resistência e carreira combativa que perturbou o sono do inimigo sionista, infligindo pesadas perdas e baixas a seus soldados“.

Ainda conforme o correspondente, mais de 160 palestinos foram assassinados desde a manhã de segunda-feira devido aos bombardeios israelenses em andamento.

No âmbito da nova ofensiva genocida e da intensificação dos bombardeios, Benjamin Netaniahu emitiu mais uma de suas ameaças ao falar diante de colonos (milícias fascistas israelenses): Israel vai tomar conta de toda Gaza, é isso que vamos fazer. Declaração que expõe, no entanto, a crise em que o Estado artificial sionista se encontra.

No mesmo discurso, Netaniahu admitiu que “Israel” utiliza a fome como arma de guerra: enquanto os colonos fascistas se posicionavam contra o restabelecimento parcial e temporário da entrada de ajuda humanitária, ele declarou que “para completar nossa vitória, derrotar o Hamas e libertar os reféns, não podemos chegar a um ponto de fome”.

Expondo ainda mais a crise, ele declarou, em vídeo publicado em seu canal pessoal do Telegram, que “senadores [norte-americanos] que conheço como apoiadores de Israel… vêm até mim e dizem: ‘nós daremos a vocês toda a ajuda necessária para vencer a guerra… mas não podemos receber imagens de fome [em Gaza]’”.

No sentido dos fracassos sucessivos de “Israel”, apesar do assassinato de mais de 61 mil palestinos, a maioria mulheres, crianças e adolescentes, novas ações bem sucedidas foram realizadas pela resistência palestina.

As Brigadas al-Qassam, ala militar do Hamas, informaram que, na sexta-feira (16), “após retornarem da linha de frente, combatentes do Al-Qassam confirmaram ter realizado uma emboscada complexa na área de Atatara, a oeste de Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza”, detalhando que “nossos combatentes atacaram três veículos militares sionistas com dois dispositivos explosivos Shuath e um projétil Tandem, e em seguida enfrentaram outra força sionista com armas leves e granadas de mão, matando e ferindo seus membros. Nossos combatentes observaram o pouso de um helicóptero para evacuação”.

Ação bem sucedida também foi realizada pelas Brigadas al-Quds, ala militar da Jiade Islâmica. Ela ocorreu no domingo (18), conforme detalhado em informe:

“Após retornarem das zonas de combate, nossos combatentes confirmaram a detonação bem-sucedida de um conjunto de bombas de barril pré-plantadas, visando um comboio militar sionista que havia avançado em direção ao bairro de Abu Hadaf, na região de Al-Qarara, a nordeste de Khan Younis. Nossos combatentes observaram um helicóptero pousando no local para evacuar os soldados mortos e feridos.

Apesar de todas as bravatas que vêm sendo proferidas por Benjamin Netaniahu e demais autoridades israelenses desde o início da guerra genocida, como declarações de que iriam eliminar o Hamas, o primeiro-ministro e as forças israelenses de ocupação são mais uma vez forçadas as capitular e permitir a entrada, mesmo que parcial, de ajuda humanitária. A capitulação não poderia ter ocorrido sem as ações do Hamas e demais organizações da resistência palestina e sem a firmeza dos palestinos, que aprofundaram a crise entre “Israel” e o governo dos EUA e de países imperialistas europeus.

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Last Update: 20/05/2025