Cidades como Belo Horizonte, Florianópolis, Natal, e Recife começam o ano com novos preços nas passagens de ônibus. Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo também ajustam suas tarifas. Esses reajustes variam entre R$ 0,40 e R$ 1,20. A inflação oficial é de 4%. Os aumentos nas tarifas do transporte coletivos partem de um patamar de 4,3%. Em alguns casos, chegam até cerca de 14%. Ao mesmo tempo não há reposição ou recomposição salarial para os trabalhadores.

No Rio de Janeiro (RJ), o reajuste das passagens de ônibus foi anunciado pelo prefeito reeleito Eduardo Paes ((PSD) no dia da posse, 1° de janeiro. A tarifa passou de R$ 4,30 para R$ 4,70.

A alta em 2025, de R$ 0,40, representa 9,30% de aumento, acima da inflação acumulada em 2024 até novembro. Nos 11 meses do ano passado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado foi de 4,29%.

O último reajuste nos preços das tarifas no Rio aconteceu no começo do ano passado. Nessa ocasião, a tarifa passou de R$ 4,05 para R$ 4,30. Foi um aumento de R$ 0,25, ou 6,17%. Um reajuste acima da inflação acumulando uma alta que dificulta o acesso do trabalhador.

Mesmo o novo salário-mínimo não cobre totalmente a inflação. Esta inflação corroeu o valor de compra no período de janeiro a janeiro. Isso sem contar que o salário-mínimo histórico calculado pelo DIEESE é de R$ 6.959,31. Esse valor do DIEESE realmente incomoda bilionários. Eles se recusam em pagar esse valor a mão de obra no país. Prova disso é que o salário-mínimo praticado no país é um quinto do seu valor. Um valor necessário a manutenção e reprodução do trabalhador e sua família.

O custo-benefício dos transportes fica totalmente desiquilibrado para os trabalhadores. O serviço é prestado para garantir o lucro dos prestadores. Assim a qualidade do serviço segue sendo um fator secundário. Não há respeito com horários, intervalos e conforto do passageiro.

Na verdade, esse serviço de utilidade pública deveria ser estatal. Seus custos operacionais, de instalação, de conservação e manutenção deveriam ser pagos com os impostos, taxas, multas e contribuições. Essas fontes fazem parte das receitas ordinárias do erário público. Esses recursos deveriam financiar o transporte coletivo.

Esse serviço público deveria ser estatizado. Deveria ser retirado dessa operação logística da produção. Não deveria ser o lucro da máfia dos transportes coletivos. Mas sim garantir a qualidade de um serviço essencial para o desenvolvimento da produção social. Dessa forma se preservaria o magro salário da massa trabalhadora, ofertando um serviço digno.

Pela distância entre os locais de trabalho e moradia, muitos são obrigados a utilizar esse serviço para sobreviver. Eles usam pelo menos duas linhas de um ou mais modais de transporte coletivo. Não é justo que capitalistas vendam esse serviço para lucrar. Enriquecer reduzindo a massa salarial.

Além do mais, oferecem um transporte de péssima qualidade. Acabaram com o cargo de cobrador para aumentar seus lucros. Tal medida reduziu o custo operacional. Ampliaram e flexibilizaram as tarefas da função do condutor. Esse trabalhador tem que conduzir o veículo e ainda cobrar e fazer troco enquanto dirige. Isso é mais uma excrecência que o controle e gerenciamento do trânsito vira o rosto para não ver.

Em uma cidade com temperaturas muito acima da temperatura corporal, os condicionadores de ar dos veículos coletivos não podem falhar. Para economizar com conservação e manutenção, as empresas concessionárias aumentam suas margens de lucro. Elas submetem os usuários e funcionários a um ambiente desconfortável, insalubre e de mal-estar.

São linhas de ônibus que somem do dia para a noite, ônibus velhos, sem ar condicionado, cheio de baratas e que quebram dia sim e outro também. No BRT as pessoas são tratadas como sardinhas em lata. No trem, as linhas expressas praticamente sumiram, as viagens são interrompidas e,quando conseguimos pegar um trem, tá super lotado. Nas barcas os horários são uma piada, com intervalos imensos, barcas velhas, que fazem as viagens demorarem muito.

Além disso, uma parte da população, que pelo valor das passagens sequer consegue ir e voltar para casa todos os dias, ficam em moradias adaptadas ou em casa de familiares e voltando para sua casa, somente aos finais de semana. Se isso tudo não bastasse, ainda temos o risco de balas perdidas, assaltos e acidentes.

Condições de serviços e tempo de deslocamento

Sabemos que a situação não é diferente quando tomamos o conjunto do Estado, e particularmente a região metropolitana. Nos últimos anos, com a especulação imobiliária em alta na cidade, a solução para os trabalhadores, com os salários cada dia menores, foi morar cada vez mais distante do seu local de trabalho.

O que era já era ruim, ficou muito pior a partir da pandemia de COVID-19, quando as empresas de ônibus e trens aproveitaram este momento para diminuir as linhas. Antes da pandemia da COVID-19, os trens transportavam diariamente, em média, 576 mil passageiros, já em março de 2021, os trens transportavam diariamente, em média, 299 mil. Ou seja, com redução equivalente a metade do público atendido, que migrou nesse período para a utilização de motos, vans e ônibus.

Aumento das Tarifas e a dita Tarifa Social

Apesar do caos no transporte que vivemos, os reajustes das tarifas continuam a todo vapor. No início desse ano foram autorizados reajustes no valor das tarifas das barcas, trem, ônibus, VLT e metrô, sendo essa a mais cara do país.

O governador Claúdio Castro já prepara o aumento do trem para R$ 7,60 em fevereiro.

E para tentar amenizar o impacto na vida dos trabalhadores desses valores escandalosos, Claudio Castro adota a Tarifa Social que já estava prevista no Regime de Recuperação Fiscal e na Lei Orçamentária de 2022, que nada mais é que uma política de tirar dinheiro dos cofres públicos e dar direto para os megaempresários do transporte, sem exigir de verdade, qualquer contrapartida de qualidade.

Medida semelhante acontece no município do Rio, aonde ano após ano a tarifa é reajustada e as empresas de ônibus não cumprem o acordado. Pelo contrário, fazem chantagens dizendo que estão com problemas financeiros, exigindo mais e mais subsídios por parte da prefeitura.

Agora Eduardo Paes decidiu mudar o sistema de bilhetagem, do Riocard para o Jae, que foi adiado a sua implementação para julho de 2025. Essa mudança pode acabar com a integração dos ônibus do munícipio do Rj e intermunicipais, fazendo custar bem mais caro as passagens.

Na verdade tanto Eduardo Paes quanto Claudio Castro estão na mão dessas empresas, não cobram deles a qualidade no serviço e cedem, sempre às chantagens, dado subsídios e renovando concessões.

Qual a saída para os trabalhadores? Passe livre pode ser real?

A lógica da defesa do lucro dos grandes empresários em detrimento do serviço à população fica escancarada no serviço de transportes.

Na cidade do Rio, o investimento público no transporte ferroviário e marítimo são muito baixos. O transporte rodoviário abarca a quase totalidade do orçamento. Para garantir e preservar os lucros das empresas de transporte, optou-se por uma modalidade mais cara, menos eficiente, que produz maiores danos ambientais em prejuízo de toda população trabalhadora.

O transporte público deveria ser um direito básico, como saúde e educação. Seu custo não deveria ser cobrado na catraca, e sim nos impostos dos mais ricos.

Acreditamos que a saída não sejam mais e mais subsídios para essas empresas, pelo contrário, o debate do Passe Livre, colocado pelas ruas em 2013, segue mais vivo do que nunca: acreditamos que a saída seja o investimento em um transporte realmente público, financiado pelo estado e administrado pelos verdadeiros interessados, o povo que todos os dias utiliza esse transporte e trabalhadores das empresas que fornecem o serviço.

Para isso, em primeiro lugar, portanto, é necessária reverter o último aumento dos transportes e estabelecer como preço máximo o que hoje é chamado de tarifa social, ou seja 5 reais a passagem de trem e metro.

Todos os transportes deveriam garantir passagem gratuita para estudantes e desempregados, bem como preços sociais para os trabalhadores que recebam até 2 salários mínimos.

Os contratos com todas as empresas de transporte dos últimos 10 anos devem ser revistos, com todas as empresas investigadas, sendo que os valores desviados devem ser devolvidos aos cofres públicos. Os corruptos devem ser punidos severamente, e todos os valores apreendidos devem ser revertidos para garantir acesso aos trabalhadores e a população mais pobre aos transportes.

Do mesmo modo é necessário garantir salário digno e uma jornada de trabalho humanizada para os trabalhadores dos transportes, e no caso específico dos ônibus urbanos, o fim da dupla função de motorista que acaba sendo também cobrador.

Além disso é fundamental a revogação das privatizações da SuperVia e do Metrô Rio, sem indenização, criação de empresas públicas que assumam o controle da totalidade dos transportes e que o comando dessas empresas esteja sob o controle dos trabalhadores.

Para viabilizar um sistema de transporte público no Rio de Janeiro para todos, que atenda as pessoas, não somente no deslocamento para o trabalho, mas também para o lazer, é necessário mudar radicalmente a lógica atual, ampliando a malha metroferroviária e marítima. Somente assim é possível um sistema mais eficiente e barato.

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Last Update: 29/01/2025