Javier Milei, durante discurso na cidade Junín. Reprodução Página 12

O presidente da Argentina, Javier Milei, voltou a ser alvo de críticas após uma fala improvisada durante um evento de seu partido, A Liberdade Avança (LLA), na cidade de Junín, na noite de segunda-feira (25). Em meio às investigações sobre um suposto esquema de propinas que envolve sua irmã Karina Milei, o chefe de Estado evitou tratar diretamente do tema.

No entanto, ao responder a uma provocação da plateia, acabou dizendo uma frase que a oposição apontou como sendo um ato falho, uma espécie de confissão. Milei discursava contra a base kirchnerista no Congresso, acusando seus adversários de aprovarem medidas contrárias à sua política de austeridade fiscal.

Um ato falho é um erro aparentemente simples e involuntário na fala, na escrita ou em uma ação cotidiana, que acaba revelando pensamentos ou sentimentos inconscientes. O conceito foi popularizado pelo psicanalista Sigmund Freud, que via nesses deslizes pistas do que a pessoa deseja ou teme, mesmo sem perceber.

Foi interrompido por um apoiador que gritou “ladrões filhos da p…”. Nesse momento, ele se desviou do texto preparado e declarou: “Eles estão irritados porque estamos roubando o roubo deles”. A frase, rapidamente difundida pela imprensa argentina, repercutiu de forma negativa.

Representantes de partidos de oposição interpretaram a fala como uma admissão de envolvimento em irregularidades. Maximiliano Ferraro, líder da Coalizão Cívica, disse que “o subconsciente” de Milei o traiu e citou um axioma jurídico para afirmar que a confissão de uma parte dispensa a outra de apresentar provas.

Já a deputada Margarita Stolbizer, do partido GEN, escreveu nas redes sociais: “Milei assume publicamente que são o mesmo que o kirchnerismo. Disse textualmente: ‘Estamos roubando o roubo deles’. Mais claro impossível”. Outros políticos também reagiram. Facundo Manes, do União Cívica Radical, ironizou a fala: “Agora ficamos mais tranquilos”.

A declaração ocorre em um momento em que o governo argentino já enfrenta desgaste com a divulgação de áudios atribuídos a Sergio Spagnuolo, ex-chefe da Agência Nacional de Deficiência (Andis) e aliado de Milei. As gravações sugerem que Karina e outros membros do governo estariam envolvidos em um esquema de propinas com fornecedores de medicamentos, mas sua autenticidade ainda não foi confirmada.

O presidente da Argentina, Javier Milei e sua irmã Karina. Foto: Divulgação

A Casa Rosada, inicialmente, optou pelo silêncio. Nem Milei nem sua irmã tocaram no assunto durante o evento em Junín, no qual Karina também discursou e chegou a ser exaltada pelo presidente. Nos bastidores, a estratégia é não dar maior visibilidade às acusações enquanto não houver denúncia formal por parte das autoridades judiciais.

Paralelamente, a investigação segue em curso. O juiz federal Sebastián Casanello determinou nesta segunda-feira o bloqueio de cofres de Spagnuolo e de outros suspeitos, incluindo empresários ligados à rede de farmácias mencionada nos áudios.

Além disso, alguns investigados tiveram a saída do país proibida, e celulares apreendidos já estão sob análise forense. Apenas um dos aparelhos foi desbloqueado voluntariamente, o que pode atrasar o acesso completo às informações.

Nos últimos dias, novas gravações atribuídas a Spagnuolo surgiram em plataformas de mídia e redes sociais. Esses áudios, de origem ainda desconhecida, trazem comentários depreciativos sobre integrantes do governo e levantam suspeitas de que o ex-funcionário vinha sendo monitorado clandestinamente.

Analistas políticos na Argentina avaliam que os vazamentos indicam uma disputa interna intensa, capaz de fragilizar ainda mais o governo Milei em um momento de crise política.

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Last Update: 26/08/2025