Pela primeira vez desde que o governo norte-americano iniciou sua ofensiva recente contra a Venezuela, o povo brasileiro se manifestou em apoio ao país caribenho. Na manhã deste sábado (13), aconteceu o ato público em defesa da Venezuela e dos povos oprimidos em luta contra o imperialismo convocado pelos comitês de luta e por dezenas de entidades, como o Partido da Causa Operária (PCO), o Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Frente Internacional dos Sem Teto (FIST).
O ato contou com a participação de delegações de diferentes cidades do País, como Rio de Janeiro, Volta Redonda (RJ), Araraquara (SP), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Porto Alegre (RS), Brasília (DF) e Recife (PE).
A manifestação foi convocada durante semanas pelos militantes do PCO e dos comitês de luta. Foram distribuídos milhares de panfletos em São Paulo denunciando a agressão imperialista contra a Venezuela.
O ato teve início pouco após 11h, com a formação da mesa. Foram chamados Antonio Carlos Silva, da coordenação nacional dos comitês de luta, Patrícia Silva, consulesa da Venezuela, Carlos Rogério, da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Breno Altman, do Opera Mundi, Perciliane Marrara, do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal), Cláudio, da Frente Internacional dos Sem Teto (FIST), e Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO).
Antes da primeira fala, os participantes cantaram o hino da Venezuela, preparando o discurso da consulesa venezuelana Patrícia Silva. Ela começou pedindo desculpas porque o cônsul-geral Jorge Medina não pôde estar presente, mas garantiu que o governo venezuelano estava presente, por ela representado. A consulesa agradeceu a manifestação em nome do povo venezuelano e do presidente Nicolás Maduro.
“Esta não é apenas uma agressão contra a Venezuela, mas contra toda a América Latina”, destacou ela.
Ela também sublinhou a necessidade de “trabalharmos juntos” contra as agressões imperialistas.
Cláudio, da FIST, iniciou sua fala criticando o imperialismo norte-americano e sua política de pilhagem contra todos os povos do mundo.
“Sabemos muitíssimo bem que eles agem dessa forma, deixando o povo na linha da miséria.”
O militante sem teto destacou que a ação do imperialismo também ocorre no Brasil, lembrando o golpe de 2016 e os governos neoliberais que se seguiram.
“Nós temos que tentar de toda forma unir a América Latina contra o imperialismo norte-americano, que quer nos manter escravos.”
Cláudio também criticou o governo brasileiro, que vetou a entrada da Venezuela no bloco dos BRICS, a mando do “bandido do [Joe] Biden”.
Perciliane Marrara, do Ibraspal e do Coletivo de Mulheres Rosa Luxemburgo, iniciou sua fala prestando sua solidariedade à Natália Pimenta, dirigente histórica da entidade de mulheres do PCO e que se encontra hospitalizada.
Trajando um quefié palestino, Marrara lembrou das mulheres que enfrentam as agressões imperialistas em vários países, destacando o caso da Palestina, onde quando se mata “uma mulher grávida, são dois palestinos a menos”. Também destacou o caso das mulheres cubanas, que sofrem com o “bloqueio criminoso, assassino e agressor”.
Marrara sublinhou que as mulheres prestam um papel fundamental na resistência de todos os países que lutam hoje contra o imperialismo.
Reda Sued, do Campo Progressista Árabe, iniciou sua fala dizendo que “nunca foi tão propício o momento de prestar solidariedade a todos os povos que estão em luta contra o imperialismo”, destacando que “a humanidade nunca passou por um momento tão agressivo”.
Sued mencionou ainda a “solidariedade enorme contra a agressão imperialista” vista no apoio à Palestina e lembrou que “a Venezuela lutou bravamente contra o Império e prestou solidariedade a todos os povos em luta”.
Em uma das falas mais aguardadas do ato, Breno Altman destacou que, independentemente de quaisquer divergências com o PCO, “é digno de aplauso que essa organização tenha tomado a iniciativa de convocar um ato em solidariedade à Venezuela”. O jornalista pediu que isso servisse de exemplo para os partidos de esquerda “que seguem calados” diante da agressão imperialista.
“É uma obrigação moral e política da esquerda brasileira — dos seus partidos, dos seus sindicatos, dos seus movimentos — cerrar fileiras em solidariedade à Venezuela e a todos os demais Estados agredidos pelo sistema imperialista sob liderança dos Estados Unidos.”
O editor do Opera Mundi passou a explicar o motivo de a Venezuela ser o alvo preferencial dos Estados Unidos na região. Segundo ele, o país é a vanguarda da luta contra o imperialismo na América do Sul.
“Esta soberania é insuportável para o imperialismo norte-americano.”
Altman comparou o caso da Venezuela ao de Cuba: “o imperialismo não pode permitir que os povos latino-americanos escolham seu próprio caminho”.
O jornalista encerrou a fala dizendo que “atos como o hoje são fundamentais” e clamou por “mais unidade, mais mobilização, mais clareza de objetivo, mais firmeza na luta contra esse grande inimigo dos povos”.
No último e mais marcante discurso do ato em defesa da Venezuela ocorrido nesta sábado (13), o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta iniciou sua fala afirmando que a promessa do presidente norte-americano Donald Trump de pôr fim às guerras estrangeiras contrasta de forma brutal com a realidade atual na América Latina. Ele falou que o envio de navios de guerra para o Mar do Caribe é a “maior operação militar na América Latina desde a ocupação do Panamá em 1989”. Esse movimento, segundo Pimenta, não é uma exceção, mas a manifestação de um imperialismo acuado por seus próprios fracassos.
O orador citou uma série de revezes globais que fragilizaram a dominação imperialista: a “derrota catastrófica no Afeganistão”, a operação militar russa que “colocou em xeque a ordem estabelecida pela OTAN na Europa” e, de forma particularmente enfática, a “audaciosa e heróica iniciativa do Hamas e da Resistência Palestina”. Esta última, para ele, é a prova de que uma força irregular pode desafiar um dos exércitos mais poderosos do mundo, o que ele descreve como a “maior crise que o imperialismo já enfrentou até hoje”.
Pimenta, então, desfez o que chamou de “ilusão” de que essa crise levará a uma “ordem multipolar” mais pacífica. Ao contrário, ele sustentou que o que se avizinha é uma “manifestação de agressividade sem precedentes contra todos os povos do mundo”, exemplificada pela “selvageria sionista em Gaza”.
A Venezuela, na visão de Pimenta, se tornou o principal alvo na América Latina porque é a vanguarda da luta anti-imperialista na América do Sul. Ele destacou o sucesso do país em desmantelar seu “exército reacionário” e estabelecer um “exército bolivariano” que é genuinamente nacional e independente do imperialismo. Essa autonomia, aliada à riqueza em petróleo e às alianças com países como China, Rússia e Irã, faz da Venezuela um desafio central para a dominação dos Estados Unidos.
Pimenta traça a evolução da política imperialista na América Latina, passando por “golpes que foram relativamente pacíficos” em países como Honduras, Paraguai e Brasil, para, na Venezuela, entrar em uma “etapa abertamente violenta”. Ele argumenta que a estrutura do regime venezuelano torna um golpe de Estado tradicional mais difícil, forçando o imperialismo a uma ofensiva militar mais direta para “disciplinar os países do continente americano”. Para Pimenta, a derrota da Venezuela é uma “questão chave para o imperialismo” no esforço de reafirmar seu poder.
Rui Costa Pimenta conectou a defesa da Venezuela à luta política interna no Brasil. Ele identificou o bolsonarismo como um inimigo interno, cuja propaganda é totalmente contrária à Venezuela e que, com sua base popular significativa, representa uma força a ser enfrentada. Pimenta criticou duramente o que ele chama de “grande ilusão da esquerda nacional” que, em sua visão, superestima o impacto de ações judiciais e subestima a força ideológica da extrema direita.
Para ele, a prisão de figuras como Bolsonaro “não muda absolutamente nada” no cenário político. A verdadeira luta, ele defende, deve ser travada no campo das ideias e da mobilização popular. A arma dos brasileiros, ele diz, é a capacidade de “convencer a população, é mobilizar o povo, é esclarecer o que está acontecendo”. A defesa da Venezuela, portanto, não é apenas um ato de solidariedade internacional, mas uma parte decisiva da luta política nacional.
Em crítica a alguns setores da esquerda brasileira, Pimenta rejeitou a ideia de que a luta anti-imperialista é separada da luta do proletariado contra a burguesia, afirmando que “a burguesia mundial é o imperialismo”. Para Pimenta, a derrota do imperialismo é a própria derrota da burguesia.
Ele faz um apelo à unidade de diferentes setores da esquerda brasileira, convidando “companheiros do PT, do PCdoB, do PSOL” a se juntarem na construção de um “forte movimento contra o imperialismo”, com a defesa “incondicional” da Venezuela como seu eixo central.
Após a fala de Rui Pimenta, os manifestantes cantaram o hino A Internacional, encerrando o ato em grande estilo.