O Brasil contabilizou 45.747 homicídios em 2023, segundo o Atlas da Violência 2025, divulgado, na segunda-feira 12, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O número é 1,4% inferior ao registrado no ano anterior e representa uma expressiva queda de 20% no intervalo de dez anos. Desde o início da série histórica, em 2017, a redução chega a 30%.

Em termos relativos, foram 21,2 assassinatos a cada 100 mil habitantes, o menor índice em 11 anos e redução de 2,3% em relação a 2022. Mesmo com o avanço, o Brasil ainda figura entre os lugares mais violentos do mundo. Apenas outros 14 países registraram taxas de homicídios superiores entre 2022 e 2023, segundo dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime – Unodc, na sigla em inglês.

Os responsáveis pelo estudo atribuem a diminuição das mortes violentas a três fatores principais. Primeiro, a transição demográfica pela qual o País passa, com o acentuado envelhecimento da população. Em segundo lugar, a trégua na guerra entre as duas maiores facções criminosas: o PCC e o Comando Vermelho. Por fim, os pesquisadores citam uma “revolução invisível” nas políticas locais de segurança pública, nas quais o planejamento, o uso da inteligência e as ações de prevenção vêm substituindo a antiga doutrina, baseada no policiamento ostensivo e no confronto.

Apesar da melhora no cenário, o Atlas da Violência alerta para a possibilidade de uma significativa subnotificação dos assassinatos. Entre 2013 e 2023, mais de 135 mil brasileiros morreram por fatores externos sem que o Estado conseguisse identificar as causas – se decorrentes de acidentes, suicídios ou homicídios. O fenômeno não é aleatório e está concentrado em alguns estados: Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo respondem por dois terços das chamadas Mortes Violentas por Causa Indeterminada.

Desprotegidas

Na contramão da tendência de redução dos homicídios, o número de mulheres assassinadas cresceu 2,5% em 2023. O Atlas da Violência revela ainda que os homicídios femininos se distribuem de forma heterogênea pelo País: enquanto a média nacional foi de 3,5 óbitos por grupo de 100 mil habitantes, alguns estados apresentaram o dobro ou até o triplo desse indicador. Roraima, por exemplo, registrou 10,4 mortes para cada grupo de 100 mil – a maior taxa do Brasil. Além disso, as brasileiras negras continuam sendo as principais vítimas da violência letal: 68,2% dos óbitos foram de mulheres pretas e pardas em 2023.

Invasão ao CNJ/ Decisão unânime

STF condena Carla Zambelli a dez anos de prisão e à perda de mandato

Moraes barrou uma manobra da deputada para anular ação penal – Imagem: Vini Loures/Agência Câmara

Por unanimidade, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal condenou a deputada Carla­ ­Zambelli, do PL paulista, a dez anos de prisão, além da perda do mandato, pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica. Segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República, a parlamentar contratou o hacker ­Walter Delgatti para inserir documentos falsos no sistema do Conselho Nacional de Justiça – entre eles, um mandado de prisão forjado contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF. A intenção era desacreditar o Judiciário e fomentar os atos golpistas que questionavam a lisura do processo eleitoral.

Relator do caso, Moraes votou pela condenação na sexta-feira 9, sendo acompanhado pelos ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia. O placar de 5 a 0 foi completado na quarta-feira 14, com o voto de Luiz Fux, registrado no plenário virtual da Corte. Antes da decisão final, Zambelli tentou suspender a ação penal por meio de um projeto protocolado na Câmara. A manobra foi frustrada por Moraes, que rejeitou o pedido com o argumento de que os crimes atribuídos à parlamentar ocorreram antes de sua diplomação. Além disso, a fase de instrução processual já havia sido concluída. A deputada ainda pode recorrer da sentença ao próprio STF.

Nazistas no porão

Mais de 80 caixas com material de propaganda nazista foram encontradas por acaso no porão da Suprema Corte da Argentina. Segundo o tribunal, os documentos foram enviados em 1941 pela Embaixada da Alemanha em Tóquio, a bordo do navio japonês Nan-a-Maru, e acabaram confiscados pelas autoridades argentinas. O acervo inclui fichas de filiação ao Partido Nazista, panfletos e fotografias, agora sob análise técnica do Museu do Holocausto de Buenos Aires. Embora tenha mantido neutralidade durante a Segunda Guerra, a Argentina virou refúgio de centenas de criminosos nazistas após a queda de Hitler, entre eles Josef Mengele e Adolf Eichmann.

Operação Contragolpe/ Na ponta do punhal

Militares golpistas também pretendiam assassinar José Dirceu

O ex-ministro era um dos alvos do general Mário Fernandes – Imagem: Geraldo Magela/Agência Senado

Além do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, o plano “Punhal Verde-Amarelo” – elaborado pelo general Mário Fernandes, preso desde novembro de 2024 – também previa o assassinato do ex-ministro José Dirceu. A revelação foi feita por um oficial da reserva à Folha de S.Paulo.

O documento apresenta os alvos por codinomes. Os golpistas se referiam a Moraes como “Professora”, a Lula como “­Jeca” e a Alckmin como “Joca”. Havia ainda um quarto alvo, apelidado de “Juca”. À época em que a conspiração foi revelada, a Polícia Federal suspeitava que essa última alcunha designava Flávio Dino, que depois foi nomeado por Lula para assumir o Ministério da Justiça e, mais adiante, uma vaga no STF.

Agora, o informante sugere que “Juca” era Dirceu, apresentado no plano como “iminência parda (sic) do 01 e das lideranças do futuro gov (abreviação de governo)”. Além de assassinar a língua portuguesa, Fernandes pretendia matar o ­ex-ministro – líder estudantil durante a ditadura – para minar qualquer movimento de resistência: “A sua neutralização desarticularia os planos da esquerda mais radical”. O advogado Marcus Vinicius Figueiredo, que representa o general, não comentou o caso. Segundo ele, a defesa ainda não teve acesso à íntegra das provas.

Publicado na edição n° 1362 de CartaCapital, em 21 de maio de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 15/05/2025