Ronald Reagan, então presidente dos EUA, foi vítima de atentado em 1981. Foto: Sebastião Salgado

Em 30 de março de 1981, o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, morto nesta sexta-feira (23), aos 81 anos, estava em Washington a trabalho quando se tornou testemha ocular de um dos episódios mais marcantes da história política estadunidense.

Funcionário da agência Magnum à época, Salgado preparava-se para fotografar o presidente Ronald Reagan saindo de um hotel quando ouviu tiros: John Warnock Hinckley Jr., um jovem de 25 anos, havia disparado contra o mandatário em uma tentativa de assassinato.

Com sua câmera, Salgado capturou o caos que se seguiu ao ataque. Reagan foi atingido por uma bala que entrou pela axila, perfurou as costelas e alojou-se no pulmão, mas, segundo os médicos, não chegou a correr risco de vida. O atirador, que mais tarde confessou ter cometido o crime para chamar a atenção da atriz Jodie Foster, foi preso no local.

As imagens do fotógrafo brasileiro rodaram o mundo e foram vendidas para veículos internacionais. O lucro obtido com essa cobertura permitiu que Salgado financiasse sua primeira viagem à África, onde iniciou o projeto que o consagraria: o registro de povos isolados e da natureza selvagem.

Salgado captou o atendimento a Reagan em 1981. Foto: Sebastião Salgado

No Brasil, a revista Manchete, uma das mais influentes da época, destacou o feito com a matéria “Sebastião Salgado: o brasileiro que fotografou o atentado contra Reagan”.

Apesar do sucesso, o fotógrafo optou por afastar-se do episódio. Em entrevista ao programa “Conversa com Bial”, da TV Globo, Salgado revelou que, embora as fotos tenham lhe rendido um bom dinheiro, ele e a esposa decidiram guardá-las em um cofre para evitar que fosse eternamente lembrado como “o fotógrafo do atentado”.

“Por medo de ser ‘carimbado’ com esse título, e talvez acabar morto, nós as trancafiámos”, confessou.

Nove anos atrás, em uma conversa com Drauzio Varella, Salgado relembrou os detalhes daquele dia. “Tirei 76 fotos em um minuto em meio ao atentado”, disse.

Quem foi Sebastião Salgado: 

Salgado nasceu em Aimorés, Minas Gerais, em 1944. Formou-se em Economia pela USP e viveu na França, onde se doutorou e começou a carreira de fotógrafo, após deixar a economia. Atuou em mais de 100 países, sempre com foco social e humanitário.

Economista de formação, ele iniciou a carreira na fotografia nos anos 1970 e se destacou por projetos de longo prazo, como Trabalhadores (1993), Êxodos (2000) e Gênesis (2013). “Por isso mesmo, sua obra continuará sendo um clamor pela solidariedade. E o lembrete de que somos todos iguais em nossa diversidade. Aos seus amigos e familiares, deixo meu forte abraço”, finalizou o petista.

Membro da prestigiosa agência Magnum e cofundador do Instituto Terra — dedicado à recuperação ambiental no Vale do Rio Doce —, Salgado recebeu inúmeros prêmios ao longo da carreira e teve suas obras expostas nos maiores museus do mundo. Deixa um legado de imagens que contam, com força e compaixão, a história humana e planetária.

Em 2015, teve sua trajetória contada no documentário “O Sal da Terra”, dirigido por Wim Wenders e por seu filho, Juliano Salgado. Além da arte fotográfica, sua atuação ambiental por meio do Instituto Terra transformou áreas devastadas em florestas regeneradas. Para Salgado, a fotografia era uma forma de militância, uma maneira de sensibilizar o mundo para a dor, a beleza e a resistência da vida.

Veja fotos históricas de Sebastião Salgado: 

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Last Update: 23/05/2025