Na noite da última quinta-feira (12), a Força Aérea de Israel lançou uma série de ataques aéreos contra alvos estratégicos na República Islâmica do Irã. A ofensiva, descrita como uma ação surpresa, marca um novo e perigoso estágio nas tensões entre os dois países e reacende o temor de uma guerra em larga escala no Oriente Médio. O ataque foi precedido por meses de infiltração do serviço de inteligência israelense (Mossad), que teria coordenado ações de sabotagem dentro do território iraniano, enfraquecendo as defesas antiaéreas do país.

Segundo Bruno Beaklini, a resposta iraniana teve início horas depois, com sucessivas ondas de mísseis e drones lançados contra alvos em território israelense, incluindo áreas residenciais e instalações estratégicas. Estima-se que, até a madrugada de terça-feira (17), pelo menos onze ataques de retaliação tenham sido realizados pelo Irã.

A escalada ocorre em um momento político sensível para o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que escapou por margem apertada de um voto de desconfiança no parlamento israelense (Knesset) no dia 11 de junho. Especialistas apontam que o ataque ao Irã pode ter sido acelerado como manobra para unificar a opinião pública e conter sua crescente impopularidade interna.

Nos dias que se seguiram ao ataque inicial, a crise ganhou dimensões internacionais. Apesar de inicialmente negar envolvimento, o governo dos Estados Unidos manifestou apoio à ação israelense por meio do ex-presidente Donald Trump, que a classificou como “bem-vinda”. A movimentação de forças norte-americanas, como o deslocamento do porta-aviões USS Nimitz e o envio de caças F-35 para o Mediterrâneo, elevou o alerta regional.

A refinaria de Haifa, uma das mais importantes de Israel, foi forçada a interromper suas atividades após sucessivos ataques. Portos e aeroportos também tiveram operações paralisadas temporariamente, o que gerou um fluxo de fuga de cidadãos israelenses com dupla cidadania rumo ao Chipre — fato ironicamente apelidado por veículos iranianos de “Flotilha da Covardia”.

Dimensão geopolítica e religiosa

A historiadora Samira Osman contextualizou o conflito dentro de um cenário geopolítico mais amplo, destacando que o Irã — por não ser um país árabe, mas persa e majoritariamente xiita — enfrenta resistência não apenas de Israel e seus aliados, mas também da maioria sunita da região. “O Irã é o último Estado que destina parte do seu orçamento público para apoiar materialmente a causa palestina, o que o torna um alvo estratégico de Israel”, afirmou Samira.

Para ela, a ofensiva contra Teerã é também uma tentativa de reposicionamento regional por parte de Israel, em busca de consolidar um “Novo Oriente Médio”, livre de atores que possam fortalecer a resistência palestina, como o Hezbollah no Líbano ou o próprio regime iraniano.

Direito internacional

De acordo com a bancada do Observatório de Geopolítica, os ataques de Israel ao Irã podem configurar uma violação do direito internacional, uma vez que não houve declaração formal de guerra. O artigo 51 da Carta das Nações Unidas garante o direito à autodefesa em caso de agressão armada, o que legitima, juridicamente, a reação militar iraniana.

A guerra também é travada no campo da informação. A destruição da sede da emissora estatal iraniana IRIB, durante uma transmissão ao vivo, foi amplamente criticada como uma tentativa de silenciar a narrativa do país. Samira destaca a importância de buscar fontes fora da mídia ocidental tradicional para entender a real dimensão do conflito. “Existe uma hegemonia informativa que favorece a narrativa israelense. Precisamos ouvir as vozes do Sul Global e da mídia independente.”

Diversos países da região têm adotado posições cautelosas ou ambíguas. Jordânia e Arábia Saudita têm interceptado mísseis iranianos que cruzam seu espaço aéreo, enquanto o Catar atua discretamente nos bastidores diplomáticos. O Paquistão expressou apoio ao Irã, mas analistas apontam limitações no poder real de influência do governo paquistanês atual, que chegou ao poder após a deposição de Imran Khan.

A Rússia, por sua vez, tenta se colocar como mediadora. Vladimir Putin teria mantido conversas telefônicas com Donald Trump antes do agravamento do conflito, sinalizando uma tentativa de contenção, embora sem ações concretas até o momento.

A ofensiva israelense contra o Irã inaugura um novo estágio de instabilidade no Oriente Médio, com implicações que ultrapassam os interesses locais e ameaçam envolver potências globais. A guerra aberta, ainda que não oficialmente declarada, reposiciona alianças e desafia o já frágil equilíbrio da região. Com Gaza ainda sob cerco, e a resistência palestina cada vez mais isolada, o conflito em curso pode marcar uma nova e perigosa fase do século XXI no tabuleiro geopolítico internacional.

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Last Update: 18/06/2025