Um relatório divulgado pela Comissão Pastoral da Terra, entidade ligada à Igreja Católica, indica que o número de ataques com agrotóxicos a comunidades rurais cresceu dez vezes mais em comparação ao primeiro semestre do ano passado.

A ofensiva é conhecida por pesquisadores como “guerra química”, em que o lançamento de aviões é usado para atingir moradores de áreas tradicionais em regiões de conflito fundiário. Foram 182 registros – uma média de um ataque por dia. Em 2023, a CPT computou 19 casos.

O número é também superior à soma de todos os ataques em primeiros semestres dos anos de 2015 a 2023, quando foram registrados 122 ataques às comunidades rurais. A maioria dos registros deste ano (156) ocorreram no Maranhão. “Este tipo de violência, em específico, está inserido nos conflitos pela terra, pela água e na violência contra a pessoa”, explica o relatório.

Nos últimos meses, comunidades maranhenses relataram, por muitas vezes, uso de aviões e até drones para pulverizar áreas próximas a local de moradias e plantações, causando impacto à saúde humana, animal e vegetal. Em maio, por exemplo, a comunidade Manoel dos Santos, no município de Timbiras, foi alvo de um ataque com defensivos agrícolas.

O caso foi divulgado nas redes sociais do advogado Diogo Cabral, que também é professor da Universidade Estadual do Maranhão e atua na defesa das comunidades rurais. O ataque deixou um morador ferido. Todo o roçado de arroz e milho foi destruído. Antes disso, os ataques químicos ocorreram na comunidade tradicional Canafístula, na mesma cidade.

Após os episódios, o Ministério Público maranhense abriu investigação para identificar os responsáveis pela “guerra química”. O governo estadual ainda não comentou os resultados do estudo.

Mais conflitos agrários

O relatório ainda aponta que o conflitos de terra se acirraram durante o primeiro semestre de 2024 em regiões do Brasil onde o agronegócio tem avançado. Houve queda no número total de conflitos em relação ao mesmo período do ano passado, mas aumento de disputas no campo na Amazônia Legal.

De acordo com a entidade, também são alvos da expansão do agro as regiões conhecidas como Amacro – que abrange 45 milhões de hectares na divisa entre o Amazonas, Acre e Rondônia – e Matopiba – que se estende por territórios dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

Foram 1.056 ocorrências de conflitos no campo entre janeiro e junho de 2024 – uma queda de 6% em relação às 1.127 registradas no primeiro semestre do ano anterior. No entanto, o índice deste ano é o segundo maior desde 2015. Do total de ocorrências em 2024, foram 872 conflitos por terra, 125 conflitos por água e 59 casos de trabalho escravo.

“O semestre apresentou menos vítimas da violência no campo em relação ao mesmo período no último ano, mas a conflitividade continua elevada, somada aos danos sofridos pelas comunidades rurais devido à crise climática e aos incêndios criminosos em seus territórios”, diz a CPT.

Os números parciais divulgados nesta segunda integrarão o Caderno Conflitos no Campo 2024, que será lançado pela entidade em abril de 2025. O relatório, que já teve 38 edições, é um dos mais importantes registros da violência e da resistência no campo brasileiro.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 02/12/2024