A ofensiva ucraniana em Kursk tornou-se a nova esperança ocidental, desde que a última ofensiva ucraniana (ainda no ano passado) não logrou ultrapassar, sequer, as duas primeiras linhas defensivas russas. Diferente da ofensiva de 2023, que ocorreu no território internacionalmente reconhecido da Ucrânia, a ofensiva de Kursk se deu em território russo, após semanas de derrotas ucranianas e avanços, em todo a frente, das forças armadas russas.

A presente ofensiva, previamente “autorizada” por Joe Biden, Presidente dos EUA, quando ainda em maio o Secretário de Estado Antony Blinken anunciou que Washington não via problemas na utilização de suas plataformas militares em solo russo, vem intrigando especialistas de ambos os lados do conflito. Para alguns, um ataque diversionista; para outros, a última ofensiva ucraniana, buscando ocupar territórios russos que seriam futuramente trocados em um possível acordo de paz.

Soldados estrangeiros em Kursk

Um soldado ucraniano, capturado na região de Kursk em meio à ofensiva transfronteiriça, acrescentou mais evidências de que mercenários estrangeiros estão lutando pela Ucrânia em solo russo.

Em entrevista divulgada pelo Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) na segunda-feira (12), a agência afirmou que o soldado mostrado na filmagem foi capturado com a ajuda de moradores da região de Kursk. O ucraniano se identificou como Viktor Petrov, um membro de 26 anos da 80ª Brigada de Assalto Aéreo da Ucrânia, que está participando da ofensiva.

O ucraniano ainda disse que havia uma grande presença estrangeira nos ataques, tendo em vista que os canais de rádio utilizados pelas forças armadas ucranianas rugiam em “inglês, polonês e talvez francês”. A presença de “voluntários”, ou “mercenários” estrangeiros nas forças armadas ucranianas não é um fenômeno novo, tendo em vista que a legião estrangeira — corpo militar que contava com a presença até mesmo de brasileiros — atua desde o início da operação militar especial.

Ataques deliberados sobre alvos civis

Segundo Viktor Petrov, “O comandante nos disse especificamente para […] atirar nas pernas dos homens e jogá-los em um celeiro ou porão. Matá-los se estivessem armados”, disse ele, referindo-se à forma como deveria tratar os civis russos. Novamente, não é a primeira vez que as forças armadas ucranianas atacam civis deliberadamente. Mesmo antes do conflito atual tomar contornos internacionais, durante a guerra civil ucraniana (prelúdio do atual conflito) que se iniciou em 2014, quando a Ucrânia bombardeou ininterruptamente a região do Donbas, matando seus próprios cidadãos que se levantaram contra o golpe do euromaidan.

Durante a ofensiva de Kursk, após tomar os assentamentos na fronteira, devido às dificuldades logísticas da operação, os ucranianos saquearam as casas do território russo ocupado. O soldado ucraniano entrevistado acrescentou: “[Estávamos] levando tudo o que chamava nossa atenção, o que era valioso e portátil”. Tais dificuldades logísticas são, no final das contas, a principal incógnita da ofensiva: como sustentar mais de 10.000 homens (segundo a imprensa ocidental) e equipamentos no lado russo da fronteira, não só mantendo as atuais posições, como ampliando a área ocupada?

Segundo Petrov, o objetivo da ofensiva ucraniana na Rússia é “capturar muito território, para que, sob o tratado de paz que teremos, possamos trocar suas terras pelas nossas”. De fato, caso este seja o intuito de Zelensqui, a ofensiva é a última esperança da Ucrânia para recuperar, mesmo que parcialmente, sua integridade territorial.

Ao menos 12 civis foram mortos na região desde a semana passada, disseram as autoridades russas, enquanto outros 121 ficaram feridos, incluindo dez crianças. Cerca de 121.000 habitantes de Kursk deixaram a área de fronteira, ou foram evacuados desde o início dos combates, mas outros 180.000 ainda estão sujeitos à evacuação.

Sem clima para negociações

Em uma reunião com autoridades seniores na segunda-feira, Putin abordou a recente incursão da Ucrânia na região fronteiriça de Kursk, bem como um ataque de drones que danificou a Usina Nuclear Russa de Zaporíjia. Disse o presidente russo:

Aparentemente, o inimigo, contando com a ajuda de seus mestres ocidentais […] está se esforçando para melhorar suas posições de negociação no futuro.

Putin também afirmou que um dos principais objetivos da Ucrânia em Kursk é desviar a atenção das derrotas no Donbas, onde as forças russas têm ganhado terreno de forma constante nos últimos meses. Ao atacar a região de Kursk, a Ucrânia também procurou minar o moral da população russa, mas obteve resultados contrários, disse Putin, observando um aumento no fluxo de voluntários para se juntar às forças armadas e defender a fronteira.

Diferentemente das forças armadas ucranianas, as forças russas contam com suficientes reservas, humanas e materiais, para continuar os ataques em território ucraniano, como também para conter a incursão que ocorre em Kursk. Aliás, vale lembrar que o próprio Oleksandr Syrsky, Comandante em Chefe das forças armadas ucranianas, admite a existência de reservas russas que podem chegar a 300.000 homens.

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Última Atualização: 13/08/2024