Nesse domingo (18), a cidade de Telavive foi palco de uma grande explosão. Ela ocorreu em uma área movimentada da cidade, apesar de não deixar israelenses mortos, e provocou uma extensa investigação pela polícia. Mas os sionistas não precisaram procurar pelas respostas: no dia seguinte o Hamas e a Jiade Islâmica Palestina, os dois maiores partidos que lutam na Faixa de Gaza, reivindicaram a autoria da operação.
Em uma declaração conjunta, as organizações da resistência disseram que “as operações de martírio nos territórios palestinos ocupados em 1948 voltarão à linha de frente enquanto os massacres, deslocamento de civis e assassinatos pela ocupação continuarem”. Isso é, operações com bombas em que os palestinos morrem no processo da explosão, mas atingem os alvos sionistas. Ou seja, a resistência palestina promete atacar o território ocupado pelo Estado de “Israel” cada vez mais enquanto ainda houver o genocídio em Gaza.
A imprensa israelense relata uma sensação de incerteza profunda e confusão entre a população. Muitos levantaram a questão de que a operação ocorreu sem aviso, sirene ou alerta vermelho. Também questionaram a eficácia e o preparo do exército israelense e de seu aparato de inteligência em um momento em que deveria haver um preparo total para a operação de retaliação do Eixo da Resistência devido aos ataques de “Israel” ao Irã e ao Líbano.
O movimento Ahrar descreve bem o impacto político do acontecimento: “tal operação, que é um claro ataque ao aparato de segurança sionista em um lugar que o inimigo considera o mais seguro, é um golpe mortal para o lado da entidade que esperava punição de fora, apenas para encontrar a vinda do coração de sua capital. O rápido anúncio da operação confirma que haverá mais a seguir e que não é um ato individual, mas sim uma ação organizada e bem planejada com muitas dimensões”.
A organização ainda conclui: “essa operação vem para dizer à ocupação que qualquer escalada, intransigência e pressão sobre a resistência será respondida com um novo tipo de confronto e uma nova forma que toda a entidade pagará, devido à sua teimosia e à escalada contra o nosso povo e sua resistência”. O mês de agosto tem sido um dos com o maior número de operações da resistência da história. Foram 34 armadilhas de explosivos em invasões sionistas, 78 operações com armas de fogo e 3 operações com faca. A explosão de Telavive é uma nova forma de operação, muito mais ofensiva.
A falência dos acordos é o prenúncio da ofensiva
O grande acontecimento político que precedeu esse novo ataque do Hamas foi a nova rodada de conversas de cessar fogo que não avançou em nada as negociações. Ficou claro, na verdade, que os norte-americanos estão dando apoio total ao Estado de “Israel” para que possam continuar ganhando tempo com as conversas eternas. Ao invés de pressionarem “Israel” a avançar no que já havia sido acordado por todos os lados, inclusive os EUA, no dia 2 de julho, os norte-americanos estão permitindo que “Israel” altere as premissas básicas, algo que obviamente leva ao fim dos acordos.
Para piorar a situação, o Hamas nem sequer está participando das reuniões, pois, antes mesmo das conversas, que aconteceram semana passada, “Israel” já havia afirmado que não aceitaria as propostas acordadas anteriormente. Assim, a única possibilidade para avanço na reunião era que os EUA pressionassem para “Israel” ceder, mas, pelo contrário, eles permitiram que “Israel” exigisse ainda mais dos palestinos. A aposta do Hamas deu resultado: eles obrigaram os EUA a se posicionar, eles se colocaram ao lado de “Israel” contra o cessar fogo.
O jornal Al-Akhbar conseguiu um relato de fontes que estavam presentes no encontro em Doha, no Catar, que demonstram que outra questão chave é que essas negociações estão operando como uma pressão contra o Irã. Ele explica: “em abril passado, quando o Irã declarou abertamente que responderia ao bombardeio do inimigo ao consulado iraniano em Damasco, recebeu ligações de todos os países do mundo. Naquele momento, Teerã informou a todos que a única coisa que poderia impedir a resposta seria o anúncio do fim da guerra em Gaza. No entanto, ficou claro que o inimigo não estava interessado em parar a guerra, e o mundo todo se mobilizou para fornecer uma proteção a Israel, tornando o ataque iraniano inevitável”.
E ainda: “hoje, a situação se repete, com algumas diferenças, pois o ataque israelense ao Irã e ao Hesbolá foi mais severo do que antes, o que levou as forças do eixo da resistência a declarar sua intenção de responder. E, como antes, os aliados de “Israel” se mobilizaram para ajudá-la, e todas as suas comunicações se concentram em encontrar uma maneira de convencer o Irã e seus aliados a não responderem. Eles se dirigiram aos iranianos com a mesma oferta, mas de uma maneira inversa: ‘E se nos derem uma oportunidade para convencer os Estados Unidos a pressionar Israel a chegar a um acordo para acabar com a guerra em Gaza? Se isso acontecer, seu objetivo será alcançado, e, se o acordo não for alcançado, façam o que quiserem!’”
Ou seja, as conversas eternas de cessar fogo sem nenhum compromisso como uma conclusão se tornaram uma arma nas mãos dos EUA para pressionar o Irã a não atacar “Israel”. Eles assim tentam ganhar tempo pois sempre estariam na “iminência do cessar fogo”. O Hamas teve mais um grande acerto político ao perceber que isso aconteceria e assim desistiu de participar, obrigando o imperialismo a expor a fraude. Caso tivessem ido representantes do Hamas, o Irã realmente estaria numa posição mais difícil de retaliar. Com a fraude exposta, o Irã pode atacar a qualquer momento.
A fonte ainda apresenta uma informação ainda mais interessante: “os próprios mediadores, entre uma reunião e outra, não se limitavam a se comunicar apenas com o Hamas, mas também mantinham contato com o Irã, informando-o de que os esforços continuavam, como se estivessem pedindo uma extensão do prazo para ‘não responder’ até que se chegasse a uma conclusão… O que levou um alto funcionário palestino a descrever o resultado da rodada em Doa da seguinte forma: “os Estados Unidos, por conta própria, disseminaram um clima positivo, com o objetivo de impedir a resposta do eixo da resistência aos assassinatos em Beirute e Teerã, e tentar aprovar novas exigências israelenses”.
O ataque do Hamas em Telavive é também um sinal de que os palestinos não irão cair nesse golpe. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, estava chegando à cidade para continuar essa operação de propaganda dos EUA e foi recebido com essa gigantesca falha de segurança. O Hamas está dando o sinal de que é o momento de lutar. Todas as peças do tabuleiro já se rearranjaram. Os EUA moveram suas tropas, declararam apoio total a “Israel”, os iranianos se reuniram com todos com quem podiam. O cessar fogo falhou. A questão política da retaliação agora já está definida. Resta saber quando e onde ela acontecerá.