Trump confronta Ramaphosa com acusações falsas sobre assassinatos de brancos, constrange diplomacia sul-africana e inflama teorias conspiratórias


O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, protagonizou mais um episódio de tensão diplomática ao confrontar publicamente o líder sul-africano, Cyril Ramaphosa, durante um encontro na Casa Branca nesta quarta-feira (21). Em uma cena que lembra o constrangimento imposto ao presidente ucraniano Volodimir Zelenski meses atrás, Trump acusou a África do Sul de promover a perseguição e o assassinato de fazendeiros brancos, apresentando supostas “provas” que posteriormente se revelaram falsas ou descontextualizadas.

O encontro começou de maneira cordial, com os dois líderes trocando elogios sobre o cenário do golfe sul-africano, esporte pelo qual ambos têm apreço. Atletas renomados do país, como Ernie Els e Retief Goosen, integravam a comitiva de Ramaphosa, criando um clima inicialmente amistoso.

No entanto, a atmosfera mudou drasticamente quando Trump, de forma teatral, reduziu a iluminação do Salão Oval para exibir um vídeo e documentos impressos que, segundo ele, comprovariam um suposto “genocídio branco” na África do Sul. Entre as imagens apresentadas estavam cruzes brancas alinhadas à beira de uma estrada e supostos registros de corpos em sacos plásticos.

“É uma cena horrível. Nunca vi nada parecido”, afirmou Trump, referindo-se às cruzes. “Estamos falando de morte, morte e mais morte.”

Posteriormente, verificou-se que uma das imagens usadas pelo presidente americano era, na verdade, uma cena de um vídeo da Cruz Vermelha no Congo, mostrando vítimas de um massacre ocorrido durante uma fuga em massa de uma prisão em Goma.

Ramaphosa reage com contenção

Diante das acusações, o presidente sul-africano manteve a compostura, mas não deixou de contestar as afirmações de Trump.

“Disseram-lhe onde isso supostamente aconteceu, senhor presidente? Porque eu nunca vi algo assim no meu país”, respondeu Ramaphosa, prometendo averiguar as denúncias.

Ele ainda destacou que, embora a criminalidade seja um problema grave na África do Sul, a maioria das vítimas é negra, não branca. Trump, no entanto, interrompeu-o para afirmar: “Os fazendeiros não são negros.”

A narrativa do “genocídio branco” e seus apoiadores

A teoria do “genocídio branco” na África do Sul é amplamente difundida em círculos extremistas de direita, incluindo figuras como o bilionário Elon Musk, nascido no país e presente na reunião. Musk já havia compartilhado publicamente alegações semelhantes, alimentando uma narrativa que não encontra respaldo em dados oficiais.

Estatísticas da polícia sul-africana mostram que, embora a taxa de homicídios seja alarmante, a esmagadora maioria das vítimas é composta por jovens negros de áreas urbanas, e não por agricultores brancos.

O pano de fundo: reforma agrária e tensões bilaterais

O atrito entre os dois países vem se intensificando desde que o governo sul-africano aprovou uma polêmica lei de reforma agrária, permitindo a expropriação de terras improdutivas sem indenização – uma medida destinada a corrigir desigualdades históricas do apartheid, quando a minoria branca controlava a maior parte das terras cultiváveis.

Trump reagiu com hostilidade à política, congelando ajuda financeira aos EUA e oferecendo asilo a sul-africanos brancos que alegassem perseguição. Recentemente, um grupo de 49 africâneres chegou aos Estados Unidos em um voo fretado pelo governo americano.

As consequências diplomáticas

A África do Sul é o segundo maior parceiro comercial dos EUA no continente, atrás apenas da China. Ramaphosa buscava, nesta visita, melhorar as relações comerciais, especialmente após a imposição de tarifas sobre exportações sul-africanas no ano passado.

No entanto, o tom agressivo adotado por Trump dificultou qualquer avanço nas negociações. A postura do presidente americano reforça sua estratégia de alinhamento com grupos conservadores e nacionalistas, mesmo que às custas de relações internacionais conturbadas.

Enquanto isso, Ramaphosa retorna a Pretória com mais uma crise diplomática para gerenciar – e a certeza de que, na era Trump, até reuniões protocolares podem se transformar em campos minados políticos.

Com informações de DW*

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 22/05/2025