No último domingo (25), o portal Esquerda Online publicou o artigo “Disputa inter-imperialista nas eleições polacas”. A peça repete, sob um véu esquerdista, toda a política imperialista de guerra, e defende seus candidatos, enquanto ataca a oposição, que visa pôr fim ao morticínio na Ucrânia, cuja população é utilizada como bucha de canhão para minar a Rússia.

Primeiro, vale ressaltar que, apesar de o texto iniciar comentando as eleições na Polônia e na Romênia, e o fato de ambos os países possuírem fronteira com a Ucrânia, a guerra quase não aparece ao longo do artigo, uma forma de disfarçar a posição defendida e a análise sem qualquer base na realidade. A exemplo disso, sobre as eleições, comenta: “buscam disputar influências imperialistas três imperialismos distintos: A União Europeia, os EUA e a Rússia”, seguido por “a Rússia tem exercido influência em vários governos europeus de extrema-direita. Um exemplo é Victor Orban, na Hungria, um governos [sic] de extrema direita, com traços bonapartistas.

Ou seja, o golpe de Estado na Ucrânia, movido pelo imperialismo, pela OTAN (EUA e UE), é ignorado. O fato de a Rússia não mover qualquer golpe de Estado, mas de meramente apoiar a soberania dos países próximos, também é ignorado. As tentativas de golpe na Bielorrússia, no Cazaquistão, em toda a fronteira russa, movidas pelo imperialismo, também são ignoradas, em nome de equalizar a Rússia, um país exportador de combustíveis em forma bruta, como se fosse um país imperialista, aos núcleos do capitalismo mundial. Basta qualquer proximidade com o país para que o portal aponte “influência russa”, contudo, o mesmo não é feito sobre EUA e UE, que derrubam e substituem governos, e patrocinam constantes tentativas de golpe, porque tornaria claro o golpe do Esquerda Online.

Outro aspecto importante na citação é o destaque dos russos como apoiadores da “extrema direita”. O governo da Ucrânia, assentado sobre milícias nazistas, organizado e estabelecido por EUA e UE através de um golpe de Estado, não é denunciado como de extrema direita. Resta um porém: por que o portal separa o imperialismo dos EUA do imperialismo europeu, se ambos hoje não se descolam no que se refere à política levada adiante na Europa?

Em 2023 foi eleito o primeiro-ministro Donald Tusk, do Plataforma Cívica. Com um governos [sic] de coalizão (frente ampla), composto por:

Plataforma Cívica, um partido de centro-direita, liberal burguês, pró-União Européia.

Terceira Via, um partido liberal, que lembra muito o “Novo”. Sendo um partido minoritário.

A Esquerda (Lewica), sendo uma frente de vários partidos do espectro da esquerda, mas que conformam o mesmo bloco parlamentar.

Ou seja, o tradicional candidato do imperialismo, cujo núcleo político se encontra em profunda crise na Europa, e que precisa portanto abrir mão da ilusão dos dois partidos pró-imperialistas que se alternam no poder, um de aparência mais à direita, outro mais à esquerda, mas com fundamentalmente a mesma política, para conseguir manter a coesão do regime político antipopular. Esse é o setor da OTAN, da UE, e dos EUA, que vai ao segundo turno com 31,36% dos votos, contra o partido PiS (Lei e Justiça), com 29,54%. Vejamos o que diz o Esquerda Online sobre o concorrente:

O  atual presidente é Andrzej Duda do PiS – Lei e Justiça, que teve também o primeiro-ministro e governou a Polônia de 2015 até 2023. […]

O PiS é um partido reacionário. Durante seu governo chegaram a existir áreas consideradas ‘Livres de Ideologia LGBT’. O partido é comandado por Jarosław Kaczyński. Enquanto o Plataforma Cívica é pró-União Europeia, o PiS defende o alinhamento total aos EUA. Quando Trump foi eleito parlamentares do PiS colocaram o boné do MAGA e gritaram clamando por Trump dentro do parlamento polonês. O PiS fez manobras de modo que passou a ter o controle da Suprema Corte da Polônia. O Tribunal da União Europeia chegou a condenar tais manobras.

Portanto, aqui um apoio a Trump configuraria a posição do imperialismo norte-americano. Isso se coloca frontalmente contra a realidade. O interesse do imperialismo norte-americano na região é a guerra contra a Rússia, a intensificação dessa guerra, e Donald Trump representou e representa ainda uma crise nessa política.

É claro, como presidente dos EUA, Trump também é imperialista, porém não é um representante natural do imperialismo, mas contraditório. Justamente por isso buscou cortar os repasses para a guerra na Ucrânia, e denunciou a política guerreira do imperialismo. Também é esse o motivo do Tribunal da UE se colocar contra o partido. O Esquerda Online torna óbvia a sua verdadeira alucinação quando coloca:

Sendo bastante exemplificativo como se estabelece uma disputa de influências imperialistas na eleição polaca. Com o imperialismo da União Europeia de um lado e o imperialismo dos EUA do outro. O imperialismo dos EUA faz uma parceria com o imperialismo da Rússia.

Ora, mas foi justamente os EUA que tiveram um papel preponderante na guerra na Ucrânia e na escalada de tensões que forçaram a Rússia à Operação Militar Especial. Uma série de políticos norte-americanos atuaram diretamente na Ucrânia para dar o golpe que levou ao atual governo ucraniano. Como, portanto, os EUA se aliariam à Rússia nas atuais eleições na Polônia? Que mudança de cenário acarretaria tal resultado? Não há, é óbvio, explicação para isso, porque simplesmente não é fato, como também não é a afirmação a seguir:

Enquanto os apoiadores do Plataforma Cívica usam as bandeiras da União Europeia e os apoiadores do PiS usam a bandeira dos EUA. O setor pró-rússia é menos escancarado. Entretanto, foram identificadas movimentações de desinformação russa atuando para interferir na eleição polonesa. Com grupos espalhando mentiras, nos típicos ataques de Fake News.

Os apoiadores do PiS não usam a bandeira dos EUA, mas do trumpismo, algo diferente, como comentado e exemplificado com o ponto fundamental da guerra na Ucrânia. Já a questão das chamadas fake news é outro ponto que demonstra o alinhamento do Esquerda Online ao imperialismo. É uma política que parte de setores imperialistas para buscar controlar a situação política internacional, e para difamar os opositores dos regimes fantoches do capital financeiro internacional.

Frente a uma guerra imperialista da OTAN contra a Rússia, o Esquerda Online denuncia o país que se defende e termina se colocando como um cachorro da OTAN. Por fim e deixando ainda mais claro este ponto:

O quarto colocado Grzegorz Braun é de um partido Monarquista, que faz parte do bloco parlamentar do Konfederacja, sendo mais abertamente Pró-Rússia.

O Konfederacja se refere a invasão russa na Ucrânia como “A guerra no Dnipro”. O rio Dnipro divide a Ucrânia no meio, e um setor do fascismo polaco sonha com uma expensão [sic] das fronteiras polacas até o Dnipro, onde seriam suas fronteiras coma [sic] Rússia. Onde a Ucrânia evidentemente deixaria de existir. Em um resgaste mitológico do auge da expansão polonesa, no período do reino comum com a Lituânia. Este setor apoia Putin, sendo uma variante de um nacional-chauvinismo fascista. Na eleição parlamentar de 2023 o Konfederacja fez 7,2% dos votos.  A grande surpresa desta eleição foi a votação deste setor, Mentzen com 14,81% e Braun 6,34%. Portanto, este espectro político triplicou em menos de 2 anos. Isto significa um peso expressivo de um fascimo [sic] escancarado.

Assim, conforme o Esquerda Online, o risco para a Ucrânia não vem do golpe da OTAN que instituiu uma ditadura, que desatou uma guerra, e que joga o povo ucraniano sob a artilharia russa, mas de “fascistas polacos”, uma piada. Continuando, o Esquerda Online alardeia essa extrema direita como risco, novamente sem colocar a razão de sua crescente popularidade, que cresce em toda a Europa pelo não alinhamento, ou pela oposição, à política fundamental do imperialismo, à política de guerra, e à guerra na Ucrânia em específico.

Romênia

Na Romênia, um golpe de Estado levou à vitória o candidato do imperialismo, apesar de todo o período anterior apontar para uma impossibilidade desse resultado. Para o Esquerda Online:

Na Romênia no segundo turno venceu Nicusor Dan, um candidato pró-União Europeia. A eleição da Romênia passou por vários tipos de ataques. Tendo a suprema corte anulado a eleição de 2024, por constatar a influência russa para favorecer o candidato da extrema direita Calin Georgescu. Tanto Putin quanto Trump e Elon Musk condenaram a inelegibilidade de Georgescu. Posteriormente, na outra eleição foi para o segundo turno o candidato George Simion, que se declarou fã Trump, bem como foi abertamente apoiado pela Rússia.

A chamada influência russa foi, na realidade, a justificativa fajuta encontrada para cancelar uma eleição cujo resultado já havia inclusive passado por auditoria, faltando apenas dois dias para o segundo turno. Naturalmente, o Esquerda Online nada detalha, pois revelaria o golpe que estão apoiando.

A detenção de Georgescu quando estava a caminho de registrar sua candidatura nas eleições novamente, após a anulação de sua vitória, também não aparece, bem como a anulação de vários outros candidatos opostos à política imperialista. O que Esquerda Online chama de extrema direita, mas que de fato seria uma ala soberanista da política romena, apenas George Simion pôde participar do novo pleito.

O Esquerda Online inverte o golpe, e atribui a derrota, na verdade, a inelegibilidade do candidato mais popular da eleição – Calin Georgescu – a uma vitória contra a Rússia, e, ao mesmo tempo, nada fala sobre influência dos EUA ou da UE na eleição. Trata-se de uma bajulação do imperialismo que busca envolver a Romênia na guerra. Está em construção no país o que será a maior base da OTAN na Europa. De fato, o portal inverte toda a realidade:

Note-se que, dos países que fazem fronteira com a Ucrânia, a Rússia já controla diretamente a Bielorrúsia, tem influência direta na Hungria, de Orban, bem como influencia a Eslováquia. Tendo também interferência interna na Moldávia. Tentando assim fechar o cerco com a influência tanto na Polônia quanto na Romênia. Putin e Trump atuam em parceria buscando exercer uma influência imperialista conjunta dos EUA e da Rússia nos países da União Europeia.

A Bielorrússia adota meramente uma política soberana, tal qual a Rússia, e os demais países citados. Exemplo disso foi a tentativa de golpe no país, movida pela OTAN tal qual na Ucrânia, mas que fracassou. A manipulação eleitoral para manter a Romênia atrelada à guerra na Ucrânia é outro exemplo. Algo ridículo é ainda a busca do Esquerda Online em caracterizar a Rússia como imperialista citando a imprensa russa:

Uma das agências russas, semi-oficiais, de propaganda e desinformação é a TASS.

Ora, caro leitor, você já havia ouvido falar na TASS? Comparemos então a seu conhecimento quanto a The New York Times, The Washington Post, The Guardian, Le Monde, Die Welle, El País, BBC, etc. veículos de fato de países imperialistas. Existe qualquer base de comparação, de equivalência?

Por fim, citamos o seguinte:

Eleição da Romênia foi uma expressão destes tempos em que o Poder Judiciário tem um papel determinante, onde a extrema direita usa das Fake News, e com uma disputa entre setores imperialistas.

Mas perguntamos: o Poder Judiciário não está submetido a nenhum imperialismo? Numa disputa desse tamanho, seria o Judiciário, uma burocracia, autônomo frente aos setores mais poderosos do mundo? É lógico que não.

O Judiciário, em quase todo o mundo, é utilizado diretamente pelo imperialismo para perseguir inimigos políticos e decidir eleições. Exemplo evidente disso foi o golpe de 2016, e a fraude eleitoral de 2018, quando Lula foi ilegalmente preso e ilegalmente impedido de concorrer no pleito.

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Last Update: 28/05/2025