Jeffrey Epstein e Donald Trump em 1997 – Foto: Davidoff Studios

Nos últimos anos, Trump pareceu tão indestrutível quanto qualquer político da nossa era.

Agora, de repente, ele parece vulnerável. O caso é mais grave do que qualquer coisa que Trump já enfrentou.

Desta vez, ele está em guerra com parte dos seus próprios aliados. A direita política dos EUA começou a devorar a si mesma.

Enquanto a relação entre Trump e Elon Musk caminhava para um fim natural — o Salão Oval não era grande o suficiente para os dois, e Trump sempre venceria essa queda inevitável — tudo desandou de vez com um único tuíte de Musk:

“Hora de soltar a bomba de verdade: @realDonaldTrump está nos arquivos de Epstein”, escreveu. “Esse é o verdadeiro motivo de eles não terem sido tornados públicos. Tenha um bom dia, DJT!” — o encerramento, uma referência a Donald J. Trump.

A Casa Branca ficou atônita com a agressividade da mensagem. Mas Musk falhou no teste básico de uma acusação séria: apresentar provas.

Musk tem potencial para causar grandes danos aos republicanos nas eleições legislativas do próximo ano. O partido controla a Câmara dos Deputados por apenas sete cadeiras, então o “fator Musk”, ou melhor, o “dinheiro de Musk”, pode levar o partido de Trump a perder o controle da Casa.

Enquanto briga com Musk de um lado, Trump enfrenta outro desafio: Rupert Murdoch e Lachlan Murdoch, da News Corporation.

Agora, Trump promete “processar o traseiro” de Rupert Murdoch.

Poucos têm a chance de processar qualquer coisa contra Murdoch, quanto mais algo tão específico. Murdoch é um magnata da mídia extremamente influente, cuja rede Fox News ajudou Trump a chegar à Casa Branca duas vezes.

A ameaça veio depois de Trump ter, supostamente, alertado Murdoch para impedir a publicação de uma carta pelo Wall Street Journal. Segundo o jornal, a carta teria sido escrita por Trump para Epstein, em seu aniversário de 50 anos.

O Journal alegou que a carta incluía um desenho de uma mulher nua, sobre o qual Trump teria assinado o nome no lugar dos pelos pubianos.

O desenho vinha acompanhado da frase: “Que cada dia seja mais um segredo maravilhoso.”

Trump nega categoricamente ser o autor do desenho ou da frase.

É improvável que um jornal com a reputação do Wall Street Journal — considerado uma referência no mercado financeiro dos EUA — publicasse esse conteúdo sem checagem rigorosa.

A vitória recente de Trump contra o grupo de mídia CBS provocou temor na imprensa americana. A Paramount, dona da CBS, concordou em pagar 16 milhões de dólares após Trump alegar que o programa 60 Minutes America editou de forma enganosa uma entrevista com Kamala Harris para prejudicá-lo.

A Paramount insistiu que o acordo não era um pedido de desculpas, mas uma decisão financeira. Ainda assim, a demissão do apresentador Stephen Colbert semanas depois — um dos críticos mais ácidos de Trump — alimentou a suspeita de que havia um elemento político envolvido.

A CBS afirmou que a decisão foi puramente financeira — o programa era caro e, com a publicidade fragmentada entre tantas plataformas, já não era viável economicamente.

No caso Epstein, quanto mais Trump tenta impedir a divulgação dos documentos, mais seus apoiadores se revoltam, alegando que foram enganados.

Novos detalhes sobre Epstein surgem semanalmente. A jornalista e editora Tina Brown contou sobre um “encontro assustador” que teve com Epstein.

Da esquerda para a direita, Donald Trump e sua namorada (e futura esposa), Melania, o financista Jeffrey Epstein e a socialite britânica Ghislaine Maxwell – Foto: Reprodução

O site The Daily Beast, que ela cofundou, publicava uma série de reportagens sobre o envolvimento de Epstein com tráfico sexual. Uma delas abordava a condenação de 2008 na Flórida, na qual Epstein recebeu uma sentença branda após fazer um acordo admitindo ter solicitado uma menor para prostituição.

Em julho de 2010, o site publicou uma dessas matérias com o título: “Jeffrey Epstein, bilionário pedófilo, é libertado”.

Dois dias depois, Brown voltou do almoço e encontrou Epstein sentado em sua cadeira, esperando por ela em seu escritório. Ela ficou chocada porque o prédio em Manhattan tinha segurança rígida, mas Epstein era, segundo ela, um “manipulador profissional” e sempre dava um jeito de conseguir o que queria.

Ele a advertiu. Brown contou recentemente no podcast do The Daily Beast: “Ele disse: ‘Apenas pare’, e me olhou com olhos frios, de cobra. Foi ameaçador. E ele apontou o dedo e repetiu: ‘Apenas pare’.”

Mas Brown não recuou. Com uma carreira marcada pela independência editorial na New Yorker e na Vanity Fair, ela informou a Epstein que sua equipe continuaria investigando suas atividades.

Epstein ficou furioso. “Haverá consequências se você não parar”, disse ele, antes de se levantar e sair, segundo Brown.

Nada disso afetou muito sua reputação. Epstein seguiu como figura prestigiada nos círculos sociais de Nova York.

Meses depois, uma assessora de imprensa ligou para Brown a convidando para um jantar com o príncipe Andrew.

Quando a assessora revelou que o evento seria na mansão de Epstein em Manhattan, Brown perdeu a paciência.

“O que é isso?”, gritou ela, segundo um colega que presenciou. “O baile dos pedófilos?”

Após anos observando Epstein e sua rede, Brown acredita que ainda há muitas pontas soltas na história. Ela questiona a versão oficial de que Epstein cometeu suicídio na prisão, sugerindo que ele pode ter sido morto por pessoas interessadas em silenciá-lo.

Trump, por sua vez, hesita em liberar todos os documentos relacionados a Epstein, mas tenta aliviar a pressão política ao sugerir que parte do material seja divulgado.

Ele orientou a procuradora-geral Pam Bondi a liberar “todo e qualquer testemunho relevante do grande júri” que puder ser divulgado dentro dos limites legais.

Acredita-se que parte do material, especialmente o que identifica vítimas ou pode prejudicar investigações, terá de ser editado. O Departamento de Justiça, chefiado por Bondi, já solicitou a um juiz autorização para divulgar os registros do grande júri.

A razão pela qual muitos eleitores do movimento MAGA estão em choque é simples: por anos, Trump e seus aliados alimentaram a teoria de que o “Estado profundo” era comandado por pedófilos poderosos.

Agora, parte desses mesmos apoiadores suspeita que Trump esteja tentando esconder algo.

Tucker Carlson, um dos maiores defensores de Trump, vem sugerindo fortemente que Epstein era agente da inteligência israelense, o Mossad.

Donald Trump e Jeffrey Epstein em 1992 – Foto: Reprodução

Mas essas perguntas não vêm apenas do universo MAGA.

A própria jornalista que primeiro revelou o caso Epstein apoia uma investigação sobre uma possível ligação com o Mossad.

Uma das razões que alimenta essa teoria é a discrepância entre a fortuna de Epstein e sua suposta renda. Tina Brown afirma que ele tinha “uns três clientes”, mas acumulou riquezas que não batiam com sua atividade financeira visível.

Segundo essa teoria, Epstein passava o tempo construindo uma “teia” — colocando pessoas influentes em situações comprometedoras, principalmente de natureza sexual, para depois chantageá-las e silenciá-las quando necessário.

Brown também concorda com vozes do movimento MAGA que questionam a versão oficial da morte de Epstein.

Ela destaca dois fatos intrigantes. Primeiro, que Robert Maxwell, pai de Ghislaine Maxwell (parceira de Epstein, hoje presa), também era suspeito de ter ligações com o Mossad.

Segundo o site israelense Times of Israel, Maxwell foi enterrado no Monte das Oliveiras, em Jerusalém, com presença de diversos membros da inteligência israelense e do então primeiro-ministro Yitzhak Shamir.

O outro fato é que ambos, Maxwell e Epstein, teriam morrido por suicídio — o que muitos não acreditam.

Maxwell foi encontrado morto em 1991, após supostamente cair de seu iate nas Ilhas Canárias. Epstein foi achado morto 28 anos depois em sua cela em Nova York.

Brown questiona: por que Epstein se mataria antes mesmo de chegar ao tribunal? E por que os dois agentes penitenciários que deveriam vigiá-lo teriam dormido exatamente ao mesmo tempo?

Donald Trump e Jeffrey Epstein – Foto: Reprodução

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Last Update: 24/07/2025