Na abertura da Assembleia Geral da Classe Trabalhadora, realizada virtualmente na quinta-feira (5), Adilson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), fez um contundente diagnóstico sobre os desafios enfrentados pelo movimento sindical e pela classe trabalhadora no Brasil. Ele destacou questões centrais, como a correção da tabela do Imposto de Renda com isenção para rendas de até R$ 5 mil, a redução da jornada de trabalho sem diminuição salarial e a necessidade de enfrentar os juros elevados que comprometem a economia.

O evento, que inaugura uma série de encontros planejados para fortalecer a mobilização dos trabalhadores, serviu como espaço para críticas ao desmonte de direitos trabalhistas e para a proposição de estratégias de articulação sindical.

“Arcabouço sindical ferido de morte”

Adilson iniciou seu discurso contextualizando os retrocessos enfrentados pelo movimento sindical desde 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff. Segundo ele, reformas como a trabalhista, previdenciária e a terceirização irrestrita desfiguraram conquistas históricas.

“O arcabouço sindical foi profundamente desfigurado. Hoje, enfrentamos um pleno emprego precário, marcado pela informalidade e pela ausência de proteção social”, disse.

Ele destacou que a priorização de políticas econômicas liberais aumentou a precarização do trabalho e as desigualdades sociais.

Correção da tabela do Imposto de Renda

Uma das pautas centrais do discurso foi a defasagem da tabela do Imposto de Renda, que acumula 167% desde a última atualização significativa, em 2015. Para Araújo, a correção da tabela para isentar rendimentos de até R$ 5 mil é uma demanda histórica que precisa ser atendida.

“A não correção penaliza os trabalhadores de baixa renda e sobrecarrega a classe média com uma carga tributária desproporcional. Esse debate precisa ser centralizado no governo”, afirmou.

Embora tenha reconhecido avanços do governo Lula no tema, ele apontou que a atual faixa de isenção de R$ 2.259 ainda está aquém da promessa de campanha.

Críticas à política fiscal e ao Banco Central

O presidente da CTB também criticou o arcabouço fiscal do governo, liderado pelo ministro Fernando Haddad, e a autonomia do Banco Central, que ele vê como entraves ao crescimento econômico.

“O Brasil pratica juros mais altos do que países em guerra, sufocando o crédito e os investimentos. Enquanto isso, medidas de disciplina fiscal atingem diretamente os mais vulneráveis”, criticou.

Ele destacou que as políticas atuais impedem um crescimento econômico sustentável e a geração de empregos de qualidade.

Valorização do salário mínimo e mobilização unificada

Outro ponto abordado foi a necessidade de reforçar a política de valorização do salário mínimo, para recuperar o poder de compra e fortalecer o mercado interno. Ele criticou projeções de aumento salarial que, segundo ele, podem agravar a desigualdade social em 2025.

A construção de uma campanha salarial nacional unificada foi apontada como prioridade para os próximos meses. Araújo defendeu ações de base e a retomada de mobilizações de rua para sensibilizar a sociedade sobre as pautas trabalhistas.

“Precisamos construir um movimento que ganhe o chão das fábricas e dialogue diretamente com os trabalhadores. A unidade é essencial para enfrentarmos a precarização e garantirmos direitos”, afirmou.

Adilson sugeriu uma agenda de mobilização ainda em dezembro, com assembleias, paralisações e produção de materiais informativos para engajar os trabalhadores.

“O ano de 2025 será decisivo para a batalha que enfrentaremos em 2026. É hora de sacudir a poeira e recuperar o tempo perdido”, concluiu.

Um debate qualificado

O encontro reuniu lideranças sindicais, economistas e trabalhadores de diversos setores, destacando a urgência de mudanças estruturais no mercado de trabalho brasileiro.

Rodrigo Callais, diretor da CTB Nacional e presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Hotelaria e Gastronomia de Gramado, fez uma das apresentações do encontro. Em um discurso incisivo, Callais defendeu o fim da jornada de trabalho 6×1, apontando seus efeitos devastadores sobre a saúde e o bem-estar dos trabalhadores.

“Uma pauta de caráter civilizatório”

Para Callais, a luta pela redução da jornada transcende as demandas sindicais. “Estamos falando do direito ao convívio familiar, ao lazer, ao esporte e à educação. A jornada 6×1 adoece física e mentalmente a classe trabalhadora, privando-a de uma vida digna”, declarou.

O dirigente ressaltou o crescimento do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), iniciado por um comerciário do Rio de Janeiro, que vem ganhando força nas redes sociais. “A adesão ao VAT representa uma renovação na luta sindical, especialmente entre os jovens, que são os mais impactados por jornadas extenuantes”, afirmou.

Callais apresentou dados alarmantes: cerca de 65% dos contratos formais no Brasil seguem a escala 6×1, afetando 32 milhões de trabalhadores. No setor informal, as jornadas frequentemente ultrapassam as 44 horas semanais, agravando a precarização. Ele também sublinhou o impacto desproporcional nas mulheres, que enfrentam a dupla jornada de trabalho formal e doméstico.

Precarização e informalidade

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo destacou a relevância da proposta de duas folgas semanais, comparando a realidade brasileira aos avanços de países europeus que reduziram suas jornadas de trabalho. “Estamos em um contexto em que a precarização ainda é dominante. Precisamos enfrentar essa realidade com mobilização popular”, afirmou.

Belluzzo também criticou a exploração promovida pelas plataformas digitais, onde motoristas e entregadores enfrentam condições de trabalho extenuantes. “A economia das plataformas é um mecanismo de exploração que não remunera de forma digna”, ressaltou.

Adriana Marcolino, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), reforçou que a redução da jornada para 40 horas poderia gerar 3 milhões de novos postos de trabalho. “Essa medida promoveria maior inclusão e uma divisão mais justa do tempo entre trabalho e vida pessoal”, analisou.

Mobilização sindical ganha força

Callais enfatizou que a luta pelo fim da jornada 6×1 já é prioridade no Rio Grande do Sul e destacou a importância de campanhas regionais para engajar a classe trabalhadora. “Precisamos organizar atos, ocupar as ruas e mostrar que essa luta é de todos”, disse.

Com um tom otimista, o dirigente da CTB reafirmou o compromisso da juventude trabalhadora em liderar o movimento por uma sociedade mais justa. “Acreditamos que essa mobilização pode transformar a vida dos trabalhadores, entregando a eles o direito a uma vida além do trabalho”, concluiu.

A assembleia reforçou a necessidade de articulação entre sindicatos, movimentos sociais e trabalhadores para enfrentar a precarização e ampliar as conquistas trabalhistas. O encontro é visto como um marco na renovação da luta sindical no Brasil, com pautas que buscam transformar o mercado de trabalho e promover mais dignidade para a classe trabalhadora.

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Last Update: 06/12/2024