Os jornais franceses analisam nesta quarta-feira 4 um crime racista que comove a França. Um homem de nacionalidade francesa matou a tiros um vizinho tunisiano, Hichem Miraoui, e feriu outro vizinho turco na noite do sábado 31, na cidade de Puget-sur-Argens.
O suspeito, Christophe B., detido pela polícia, reivindicou o crime em redes sociais e fez um apelo aos franceses para que atirassem em pessoas de origem estrangeira. O caso, que ganhou contornos políticos, é investigado pelo Ministério Público antiterrorista.
Le Monde descreve Christophe B. como uma pessoa que não escondia seu ódio. Em seu perfil de acesso público no Facebook, o autor do ataque racista era abertamente violento, antiárabe, antimuçulmano, misógino, homofóbico e dono de uma arma. Seu comportamento, no entanto, não desencadeou qualquer alarme sobre sua radicalização entre seus seguidores, ou entre os milhares de usuários que liam seus comentários em artigos de jornais ou ainda nos serviços de inteligência responsáveis por identificar pessoas em risco de cometer crimes.
Em vários vídeos postados no Facebook antes e depois de matar Hichem Miraoui, Christophe B. pediu aos franceses que “acordassem” para os “islamistas” e os “imigrantes ilegais” e “fossem procurá-los onde estivessem”. Ele também disse que esperava uma vitória nas eleições do partido de extrema-direita Reunião Nacional, salienta o jornal.
O Libération destaca que esta é a primeira vez, desde sua criação, em 2019, que o Ministério Público antiterrorismo investiga um ataque cometido pela extrema-direita. Esse tipo de ameaça é, no entanto, a segunda fonte de riscos de atentado, conforme os serviços de inteligência da França, citados pelo jornal.
Questão política
A questão chegou às esferas mais altas da política francesa no começo da semana, quando partidos de esquerda e ecologistas acusaram o ministro do Interior, Bruno Retailleau, de encorajar crimes xenófobos por suas declarações contra a imigração. O ministro respondeu que “cada crime racista era um crime antifrancês”, mas não convenceu a oposição e ONGs de luta contra o racismo.
Le Parisien traz uma entrevista com a prima de Hichem Miraoui, Mouna, que descreve a vítima como uma pessoa generosa, que saiu da Tunísia em 2011 e, após passar pela Itália, se instalou na França, onde começou a trabalhar como cabeleireiro. Ela diz que está assustada com a violência e que espera que a morte do primo ajude a criar uma conscientização sobre o problema.
De acordo com relatos de vizinhos recolhidos por Le Figaro, Hichem era uma pessoa totalmente integrada à sociedade francesa. O advogado da família da vítima, Mourad Battikh, citado na reportagem, diz que a morte de Hichem é consequência direta da estigmatização e da banalização da violência racista.