As sutilezas do jornalismo ultraliberal
por Fábio C. Zuccolotto
Dos interesses que, após o início da crise mundial de 2007, soaram o apito de cachorro convocando a extrema-direita em sua defesa mundo afora, a linguagem jornalística que legitima a barbárie enquanto discurso político na arena pública é aquilo que revela com maior nitidez a articulação entre o extremismo e o neoliberalismo, naquilo que chamo de ultraliberalismo.
Profissionais que, em tese, deveriam preocupar-se com o emprego das palavras não compreendem, mesmo, o que seria uma polarização?
Polo \ó\: face ou aspecto oposto a outro.
Ora, insistem até hoje, 2025, que há em um polo um centro ou uma centro-esquerda e no outro polo há o neofascismo? Pior, querem emprestar o caráter democrático àqueles que cometem crime contra a soberania, defendem o imperialismo, a ruptura democrática, o ódio e o extermínio da oposição? Ou, ainda, não seriam aqueles escribas que diuturnamente incutem no inconsciente popular o delírio de que há uma “ameaça comunista” em políticas fiscais de gestão do capital que promovem programas sociais redistributivos para que as pessoas não morram de fome e tenham o mínimo de dignidade?

O jornalismo da grande imprensa ocidental se resumirá a ser porta-voz de uma elite mundial que se alimenta do sangue nas ruas e empurra o planeta para uma Terceira Guerra Mundial?
Nomearem, até a esta altura dos acontecimentos, de “Guerra em Gaza” o projeto neonazista em curso, do governo Netanyahu, chega a dar nojo. Mais uma polarização? Polos opostos? Paridade de armas? De um lado crianças, mulheres e civis esfomeados sendo metralhados na fila por água e do outro as Forças de Defesa de Israel? Guerra é o que há entre Israel e Irã (infelizmente está longe de acabar), aquela da qual Netanyahu correu em uma semana pra pedir a ajuda dos EUA, implorando por um cessar-fogo. No gueto de Gaza está ocorrendo o extermínio sistemático da população palestina, enquanto avanço do projeto extremista de supremacismo étnico do sionismo orientado pelos ortodoxos.
Legitimar a desumanização no debate público não é um mero equívoco ou um viés interpretativo. É negar um fato. É simplesmente cumplicidade. Pouco importa se a orientação vem dos donos do jornal, enquanto linha editorial. Se esse for o caso, e provavelmente é, o jornalista que se submete à adoção dessas sutilezas que erguem monstros, para projetos político-econômicos dos seus patrões, deveriam rasgar o seu diploma.
O oposto da barbárie é a civilização. A cultura. Quem envelopa o extremismo como mera opinião é parte integrante da ideologia que evoca, é parte do projeto e da ação.
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Fábio C. Zuccolotto é psicanalista, cientista social e autor do Café com Pepino.
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