Entrada da Abin, em Brasília. Foto: reprodução

Novas evidências no inquérito da chamada “Abin paralela” revelam que o coordenador-geral de operações da Agência Brasileira de Inteligência em 2022, Alan Oleskovicz, teria sugerido uma operação para tentar “virar a eleição” a favor do então presidente Jair Bolsonaro (PL). As informações constam em trocas de mensagens e depoimentos obtidos pela Polícia Federal.

Em mensagens de WhatsApp de 3 de agosto de 2022, dois meses antes do primeiro turno das eleições, um servidor da Abin escreveu a colegas que Oleskovicz teria convocado três subordinados do Departamento de Operações de Inteligência para uma reunião onde “ficou elucubrando uma operação ‘que poderia virar a eleição’”.

Na época, pesquisas Datafolha mostravam o então candidato Lula (PT) com 47% das intenções de voto contra 29% de Bolsonaro.

“[Oleskovicz] chamou 3 da equipe de CI [contrainteligência] do Doint [Departamento de Operações de Inteligência] (do último concurso) e ficou elucubrando uma operação ‘que poderia virar a eleição’”, escreveu um oficial de inteligência. Segundo as mensagens, os participantes da reunião teriam ficado alarmados com a proposta e relatado o ocorrido a colegas.

Um dos interlocutores respondeu: “Cara, é isso. Não é à toa que [ele] é coordenador-geral. Não tenho nada contra bolsonaristas, mas ele talvez seja tipo aqueles da seita. É evangélico, conservador… Aí afunda a agência inteira com ele”, lamentou.

O ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem. Foto: reprodução

As revelações ganharam força com o depoimento de outro servidor em dezembro de 2023, que afirmou à PF ter ouvido relatos de que o coordenador teria dito em reunião que “o trabalho de operações seria importante para ajudar na campanha do governo”. Oleskovicz, indiciado por peculato e prevaricação, não se manifestou sobre as acusações.

Essa nova prova complica ainda mais o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno, réu por tentativa de golpe, que em julho de 2022 mencionou em reunião ministerial a possibilidade de “montar um esquema para acompanhar o que os dois lados” estavam fazendo na campanha, citando uma “infiltração desses elementos da Abin”. Na ocasião, Bolsonaro interrompeu o ministro para conversarem reservadamente.

Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin e hoje deputado federal (PL-RJ), classificou as investigações como “rixa política”. Ele também é réu pela trama golpista.

O relatório da PF sobre a “Abin paralela” foi tornado público pelo STF nesta quarta-feira (18), indiciando Oleskovicz, Ramagem e Victor Carneiro, que assumiu o comando da agência após Ramagem deixar o cargo para disputar as eleições.

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Last Update: 20/06/2025