As moças belas se mostram/As moças são todas belas
por Romério Rômulo
Quando chega a meia noite
da minha alma perdida
o cancro do mundo põe
um instante sobre a terra
As velas acordam bichos
que a vida reverbera
e todo o escuro do mundo
esclarece as noites raras
As tropas se movimentam
e o mais aceso dos homens
fala da vida e daqui.
As velas acordam bichos.
Se as janelas se fecham
por instantes já batidos
o mundo sobra por tudo
que se sabe e nem se sabe
As moças belas se mostram
-as moças são todas belas-
e a vida já soçobra
nas luzes intercaladas
Espalhadas pelo sol
as montanhas de alfaiates
fazem roupas pra que todas
vejam a festa da vida
Que tanto daqui sabemos
almas cegas, ciumentas
que vivem sob uns corpos
e sabem pouco, também
Noites que são poesia
e abalam as igrejas
com uns padres sonolentos
em preces que nunca chegam
Os pecados que aqui vendem
são pecados seminais
onde as memórias batidas
sangram por tanto e por tudo
Roupas mais incendiadas
que amam as contrições
e seus espaços, de seda
se perdoam para sempre.
Romério Rômulo (poeta prosador) nasceu em Felixlândia, Minas Gerais, e mora em Ouro Preto, onde é professor de Economia Política da UFOP e um dos fundadores do Instituto Cultural Carlos Scliar – Rio de Janeiro RJ.