(*) Reimont
“Torcidas organizadas de Pernambuco são irmãs dos alunos de elite de São Paulo”, diz o deputado
A brutalidade inimaginável das torcidas jovens organizadas em Recife e a brutalidade inimaginável dos grupos de zap do colégio de elite Santa Cruz, em São Paulo, são gêmeas de uma tragédia que corrói e corrompe extensas parcelas das nossas juventudes. Tragédia fundamentada no racismo, machismo, preconceito, homofobia e violência sexual, que se espalham feito rastilho de pólvora pelas redes sociais.
De um lado, temos jovens torcedores de dois dos maiores times de futebol de Pernambuco – Sport e Santa Cruz -, em cenas de uma violência absurdamente chocante, incluindo o medieval empalamento de um rapaz desacordado de tanto apanhar. Pelos grupos de WhatsApp e outras redes sociais, foi incitado o ódio e marcado o confronto.
Do outro, temos jovens alunos do ensino médio de um dos mais renomados e caros colégios, flagrados em atos igualmente violentos. Pelo grupo de WhatsApp, os veteranos (estudantes de 16 a 17/18 anos) abusaram e extorquiram os calouros (estudantes de 14/15 anos), incitando o ódio, a violência e o abuso.
Novos alunos eram ameaçados, caso não dissessem a posição sexual favorita ou não enviassem fotos e vídeos apenas com a roupa íntima ou não mandassem pixes para bancar as festas dos mais velhos. No grupo, um dos veteranos estabeleceu uma disputa sobre uma garota, fazendo referências chulas a ela; em um áudio, uma aluna afirma que um aluno vai “mandar um anão preto em cima de um porco para estuprar” um colega.
Um estudante escutado pela escola, respondeu singelamente, quase sem se dar conta da dimensão do problema: “Acho que eles não sabiam à proporção que iria tomar, ou não mandariam esse tipo de coisa em um grupo com 200 pessoas”.
Os dois casos mostram jovens abduzidos por um discurso de ódio fascista que aprenderam nas redes sociais, nas mentiras repetidas, na ascensão de narrativas grotescas que debocham da morte e da dor, que incentivam um perigoso individualismo exacerbado, que se valem do medo, da intimidação e da humilhação, seja por palavras, gestos ou agressões físicas.
Estamos diante de um tipo de violência extrema pautado na intolerância a toda e qualquer diferença, seja política, cultural, religiosa, étnica, de orientação sexual ou esportiva. O outro é o inimigo.
Não pode ser. Precisamos nos unir para romper essa lógica cruel ou estaremos falhando como sociedade, como professores, como pais, como cidadãos e cidadãs. Precisamos debater esse tema com a máxima urgência.
A violência nas escolas já se manifesta em muitas frentes. Em todas as regiões, escolas públicas e privadas se deparam com o crescimento do racismo. Grupos de zapp, agressões morais e físicas e os tais cancelamentos disseminam o preconceito e afetam, especialmente, as meninas, os homossexuais e as crianças e jovens negros de todas as idades.
O racismo já é uma das principais causas para a evasão escolar no ensino médio, segundo estudo feito, em 2022, pelo IPEC para o UNICEF, junto a jovens de 11 a 19 anos.
Temos o dever de enfrentar essa violência com políticas que conjuguem a prevenção, a lei, a conscientização, a informação, o cuidado psicológico e, especialmente, a educação de qualidade e a valorização do ambiente e de toda a comunidade escolar – professores, estudantes, profissionais das diferentes áreas, pais e responsáveis.
Disse o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e, se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar. ”
(*) é deputado federal (PT-RJ)
Artigo publicado originalmente no site Brasil 247