Marcelo Rubens Paiva na época do lançamento do livro “Ainda estou aqui”, em 2015. Foto: Divulgação/Editora Objetiva

Marcelo Rubens Paiva iniciou a escrita de “Ainda Estou Aqui” com o temor de que a narrativa da ditadura militar pudesse ser distorcida por aqueles que defendem o autoritarismo. Originalmente, seu objetivo era contar a história de seu pai, Rubens Paiva, engenheiro e deputado federal cassado, vítima de tortura e morte durante o regime militar, mas o projeto logo ganhou contornos mais amplos.

Conforme relembra o autor, o livro passou a ser um registro da luta incessante de sua mãe, Eunice Paiva, contra o regime. Ele afirmou: “Minha mãe atuou muito mais contra a ditadura do que meu pai”, demonstrando que, para ele, a militância e a coragem de Eunice eram essenciais para compreender os horrores daquele período.

A transformação do projeto se intensificou quando, a partir de 2013, a Comissão da Verdade revelou novos detalhes sobre o desaparecimento e a morte de Rubens Paiva. Esse contexto agravou o medo de que a história da ditadura fosse reinterpretada de forma a minimizar os abusos e, assim, alimentar movimentos que defendessem práticas autoritárias.

Durante as manifestações de junho de 2013, que começaram com a redução do preço da passagem de ônibus e evoluíram para pedidos de volta à ditadura, Marcelo sentiu uma profunda necessidade de registrar a realidade daquele período. Ele relembrou: “Senti essa necessidade de escrever um livro dizendo o que foi a ditadura”, pois o reviver dos horrores do passado ameaçava reabrir feridas que jamais deveriam se fechar.

Eunice Paiva em 1996 exibindo o atestado de óbito de Rubens Paiva 25 após morte dele. Foto: Sérgio Andrade

A obra também se tornou uma reflexão dolorosa sobre a complicada relação entre ele e sua mãe, que, apesar de ter sido a voz da família, raramente demonstrava afeto. “Minha mãe deve ter me dado quatro beijos na vida. Nunca dancei com minha mãe, nunca a abracei de verdade, nunca gargalhamos juntos”, revelou Marcelo, evidenciando a distância afetiva que marcaria sua trajetória pessoal e literária.

O processo de pesquisa para o livro desvendou mistérios dolorosos, como a razão pela qual sua mãe e sua irmã de 14 anos foram presas junto com seu pai. Marcelo constatou que “elas foram presas para serem torturadas com ele. Para fazer pressão sobre ele”, e refletiu que, se não tivesse sido assim, talvez todos pudessem ter sobrevivido à violência da ditadura.

Ao concluir sua obra, Marcelo Rubens Paiva percebeu que o caso de seu pai simbolizava a completa falta de sentido e a brutalidade do regime militar. Esse entendimento o motivou a escrever “Ainda Estou Aqui” como um testemunho para que a verdade sobre a ditadura jamais seja esquecida e para evitar que manifestações favoráveis ao autoritarismo ganhem força na atualidade.

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Last Update: 02/03/2025