As águas que me nutrem
por Romério Rômulo
Eu sempre andei no caminho
cercado do meu esterco
sempre bravo e tão valente
que até a mata fechava
Carreguei pedaços d’água
caminhei por sobre tropas
de burros entorpecidos
todos filhos de outro tempo
De mim nem sobrou um anjo
nem um trapo da vigília
que me bate todo dia
pelas mãos que ainda levo
Onde as tardes que namoro
onde os bois que eu carrego
quando os cães, só de ternura
me seguram pela mão
Meus cavalos, meus pelegos
meus trapos de ingresia
minha noite sempre ardente
sono bêbado de morte
Águas que me nutrem
são tantas que eu envelheço
terras que me desconhecem
são tantas que eu adormeço.
Romério Rômulo (poeta prosador) nasceu em Felixlândia, Minas Gerais, e mora em Ouro Preto, onde é professor de Economia Política da UFOP e um dos fundadores do Instituto Cultural Carlos Scliar – Rio de Janeiro RJ.