Candidata do Partido Liberal às eleições presidenciais norte-americanas marcadas para novembro, Kamala Harris se tornou uma figura central na campanha do imperialismo pelo controle de armas dentro dos Estados Unidos, destacando-se ainda na sua campanha ao Senado em 2016. Sua trajetória política tem sido marcada por um esforço constante para implementar leis mais rígidas sobre a posse de armas de fogo, sob o pretexto de combater a violência que assola o país. No entanto, essa política contrasta drasticamente com sua política externa, que favorece a exportação massiva de armamentos, revelando seu verdadeiro objetivo: a subjugação dos povos oprimidos tanto dentro, quanto fora dos EUA.

É o que demonstra o artigo La doble vara de Kamala con la industria armamentista (Página 12, 7/8/2024), escrito pelo jornalista argentino Daniel Kersffeld. Em seu artigo, Kersffeld destaca:

“Desde sua campanha ao Senado em 2016, Kamala Harris se tornou uma das principais ativistas a favor da criação de leis mais rígidas para a posse de armas de fogo.

[…]

Mas a postura de Kamala Harris de controle de armas para uso interno é radicalmente oposta ao seu interesse na exportação de armamentos produzidos nos Estados Unidos. Como vice-presidente, ela validou sem dissenso o envio de armas para países em conflito, como a Ucrânia, e contra a Rússia.”

Harris obteve apoio de diversas organizações civis que promovem o controle de armas, como Giffords (ONG liderada pela antiga congressista democrata Gabrielle Giffords) e a Campanha Brady para a Prevenção da Violência com Armas de Fogo. Esse apoio reflete a aliança de Harris com setores da burguesia imperialista, que buscam minar o direito democrático à autodefesa armada. O jornalista lembra que, como vice-presidente, Harris inaugurou o Escritório de Prevenção da Violência com Armas e promoveu regulamentações rigorosas para reprimir o direito à autodefesa armada.

Já na política externa de seu governo, as transferências militares tornaram-se uma prioridade dos EUA, com a exportação de armas e serviços de defesa atingindo níveis recordes. “No ano fiscal de 2023”, destaca Kersffeld, “foram registradas transferências de armas, serviços de defesa no exterior e cooperação em segurança por um total de 80,9 bilhões de dólares, um aumento de mais de 55% em relação aos 51,9 bilhões de dólares de 2022”.

O jornalista lembra que, para 2024, existe a perspectiva de um crescimento ainda maior nesse mercado, impulsionado principalmente pelo fornecimento militar a países envolvidos com os pontos mais críticos da dominação imperialista: o leste europeu e o Oriente Próximo, especialmente “Polônia, República Tcheca, Noruega e Bulgária, e principalmente a Israel em meio à guerra com Gaza, além de nações do Oriente Médio como a Arábia Saudita”, diz.

Desde que anunciou sua candidatura presidencial, Harris tem recebido apoio financeiro significativo de empresários do Vale do Silício, que associam os avanços tecnológicos mais recentes a políticas de segurança e defesa baseadas em dispositivos bélicos de última geração. Eric Schmidt, ex-diretor executivo do Google, Reid Hoffman, cofundador do LinkedIn, David Zapolsky, vice-presidente e advogado-geral da Amazon, e Vinod Khosla, titular da firma de capital de risco Khosla Ventures, estão entre os principais financiadores de Harris. Esses empresários têm lucrativos contratos com o governo em áreas de segurança e defesa, reforçando ainda mais a aliança entre o setor privado e a máquina de guerra norte-americana.

Esta dualidade não é uma contradição, como dá a entender Kersffeld, mas uma expressão clara dos interesses imperialistas que Harris representa. O desarmamento civil interno visa enfraquecer a capacidade de resistência da população, o que se torna especialmente necessário se o regime tem como premissa atacar os trabalhadores norte-americanos com maior rigor. Ao mesmo tempo, a exportação de armas fortalece a posição dos EUA como principal potência imperialista mundial.

Com isso, o imperialismo espera garantir a submissão da classe trabalhadora em um cenário onde as tendências à crise social, já enormes, serão ainda mais agudas, e ainda, resguardar a dominação global dos interesses dos monopólios imperialistas. A política de Harris evidencia que a proteção da população é utilizada como justificativa para a repressão interna, enquanto a promoção da “paz” internacional serve de pretexto para intervenções militares e a perpetuação da violência global.

A classe trabalhadora e os setores oprimidos, nos Estados Unidos e no mundo, sofrerão uma tentativa de lavagem cerebral para acreditarem que a política de Kamala Harris visa a preservação da vida. Nada mais distante da realidade.

A defesa do direito democrático à autodefesa armada torna-se tanto mais fundamental quando essa conquista é atacada, especialmente sob os cínicos argumentos pacifistas, que escondem o que realmente está em jogo: a submissão dos oprimidos em um cenário de ditaduras brutais, que vão se tornando cada vez mais necessárias para a manutenção do imperialismo.

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Última Atualização: 10/08/2024