Um dia após PP e União Brasil anunciarem o desembarque do governo Lula (PT), ainda há uma indefinição sobre quando — e se — os ministros dos Esportes, André Fufuca (PP), e do Turismo, Celso Sabino (União), entregarão seus cargos. São vozes quase solitárias em seus partidos na defesa da gestão petista e tentaram, nos últimos dias, receber o aval das legendas para permanecer na Esplanada, sem sucesso.
Ao comunicar a saída do governo, a federação União Progressista fixou um prazo de 30 dias para esvaziar os espaços na máquina federal. Dirigentes que descumprirem a determinação podem ser afastados de suas funções na estrutura partidária e até sofrer expulsão.
O veto à presença na Esplanada não deve incidir sobre os ministros das Comunicações, Frederico Siqueira, e da Integração Nacional, Waldez Góes. Os dois ocupam as pastas na cota do União Brasil, mas suas indicações são vistas como fruto da influência do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). O mesmo deve ocorrer com o presidente da Caixa, Carlos Vieira, alçado ao cargo graças a Arthur Lira (PP-AL).
Uma ala do Planalto acredita que Fufuca e Sabino ficarão no governo, ignorando eventuais punições. Pesaria o fato de eles almejarem o apoio de Lula na disputa ao Senado em 2026 – o primeiro quer uma cadeira pelo Maranhão, enquanto o chefe do Turismo concorrerá a uma das vagas do Pará.
O desembarque ganhou força após Lula cobrar ministros dessas legendas na reunião ministerial da semana passada. No encontro, de acordo com relatos, o petista pediu que os representantes da siglas se empenhassem na defesa do governo e citou Antônio de Rueda, presidente do União.
O recado de Lula tinha como pano de fundo a oficialização da superfederação entre os dois partidos, em uma cerimônia recheada de acenos à oposição. Somava-se a esse quadro uma série de derrotas impostas ao governo com as digitais de ambas as legendas
Após o anúncio, o Ministério dos Esportes divulgou uma nota na qual afirma que Fufuca continua a trabalhar normalmente. Sabino não havia se manifestado sobre o assunuto até o fechamento deste texto — nas redes sociais, fez publicações sobre a COP30.
De acordo com aliados, os dois ficaram inconformados com o desembarque. Não apenas por serem apoiadores da gestão Lula, mas porque consideram haver “dois pesos e duas medidas”, já que a decisão não afeta o presidente da Caixa, por exemplo. No caso de Sabino, cogita-se a troca do União pelo MDB, com o objetivo de permanecer à frente do Turismo. A reportagem apurou que expoentes emedebistas no Pará deram sinal verde, embora as conversas ainda sejam iniciais.
Sob reserva, um cacique do MDB avalia que a migração, se for efetivada, tende a bagunçar o cenário pré-estabelecido para a disputa ao Senado no partido. Atualmente, os nomes apresentados são os do governador Helder Barbalho, de quem Sabino é próximo, e do chefe da Assembleia Legislativa, Chicão Melo.
Há entre integrantes do governo, contudo, quem acredite na saída dos ministros, ainda que a contragosto. Nesta quarta-feira, Sabino participou de um almoço com Lula no Palácio da Alvorada. Também estiveram no encontro a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, Alcolumbre, Siqueira e Waldez.
De acordo com o Planalto, a reunião não tem ligação com o anúncio de desembarque e seria uma continuidade das agendas que o presidente promoveu com PSD, Republicanos, MDB e PT.