Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o imperialismo “democrático”, confrontado com mobilizações revolucionárias em todo o mundo, partiu para uma ofensiva, até então inédita, de golpes de Estado. Em 1945, a derrubada de Getúlio Vargas inaugurou a onda de golpes na América Latina.

Dois anos depois, na Nicarágua, o golpe de Anastasio Somoza Garcia garantiu que o país mantivesse uma ditadura por três décadas, até ser enfim derrubado por uma revolução. Em 1950, um golpe militar no Haiti confirmou a tendência geral na América Latina, combinando elementos vistos tanto na Nicarágua, quanto no Brasil.

Já no Peru, no ano de 1948, o presidente José Luis Bustamante y Rivero, eleito em 1945 com apoio de uma coalizão ampla e reformista, foi deposto por um golpe militar liderado pelo general Manuel A. Odría, instaurando a chamada “Revolução Restauradora”. Apesar de avanços significativos em áreas como a soberania marítima, a reforma agrária e o controle estatal do petróleo, o governo de Bustamante enfrentou forte oposição da oligarquia, do Congresso aprista e dos militares, agravada por crises políticas e pelo assassinato do diretor do jornal La Prensa. O golpe consolidou uma ditadura que duraria até 1956.

Na Venezuela, o cenário foi igualmente turbulento. Em 1945, um movimento civil-militar depôs o governo de Isaías Medina Angarita e levou ao poder o partido Ação Democrática (AD), dando início ao chamado “Trienio Adeco”, um período curto, mas intenso de reformas políticas, marcado pela implementação do sufrágio universal e a promulgação da Constituição de 1947. No entanto, também foi um período instável, com sete levantes militares e crescente polarização entre a AD e os setores políticos e sociais conservadores, muitos dos quais ainda ilegais após o golpe de 1945.

Nas eleições gerais de 1947, o intelectual e romancista Rómulo Gallegos, candidato da AD, obteve uma vitória expressiva e assumiu a presidência em 15 de fevereiro de 1948, tornando-se o primeiro presidente democraticamente eleito por voto direto, universal e secreto na história venezuelana. Sua posse representava um marco histórico, mas o novo governo enfrentava resistências profundas. Durante os primeiros meses de seu mandato, as tensões se intensificaram não apenas com a oposição tradicional, mas também dentro do próprio partido, revelando fissuras internas e desentendimentos com aliados militares, que até então haviam sido considerados leais, como o coronel Carlos Delgado Chalbaud.

A situação se agravou com a implementação de medidas econômicas nacionalistas, como a Reforma da Lei de Imposto sobre a Renda, aprovada em julho de 1948, que impôs uma taxa adicional de 50% sobre os lucros extraordinários obtidos pelas empresas, especialmente as petrolíferas estrangeiras. Essa política causou forte descontentamento entre os grandes grupos econômicos e gerou pressão adicional sobre o governo.

No plano político-militar, crescia o descontentamento entre os militares remanescentes do golpe de 1945, especialmente entre os coronéis Marcos Pérez Jiménez, Luis Llovera Páez e o próprio Delgado Chalbaud. Esses setores exigiam que Gallegos expulsasse do país Rómulo Betancourt, desmobilizasse as milícias populares da AD e reestruturasse seu gabinete, retirando membros partidários em favor de figuras “independentes”. Gallegos se recusou a ceder às pressões, confiando na lealdade de seus comandantes militares — confiança que se provaria ilusória.

No dia 21 de novembro de 1948, diante de rumores de um golpe iminente, o governo suspendeu as garantias constitucionais. Três dias depois, em 24 de novembro, Gallegos foi deposto por um golpe militar liderado por Delgado Chalbaud, Pérez Jiménez e Llovera Páez. O presidente foi preso e, em 5 de dezembro, expulso do país junto com sua família. O presidente do Congresso Nacional, Valmore Rodríguez, ainda tentou organizar um governo provisório em Maracay, mas sua iniciativa fracassou.

A junta militar que assumiu o poder era composta exclusivamente por antigos aliados de Gallegos no golpe de 1945, agora convertidos em seus algozes. Carlos Delgado Chalbaud, então ex-ministro da Defesa, assumiu a presidência da junta, tendo ao seu lado os tenentes-coronéis Marcos Pérez Jiménez e Luis Llovera Páez. Participaram também civis como Aurelio Arreaza Arreaza, Pedro Ignacio Aguerrevere, Rubén Corredor e Amenodoro Rangel Lamus. A justificativa oficial para o golpe foi a “incapacidade do governo em lidar com a crise” e o suposto risco de radicalização política por parte da AD.

Internacionalmente, os Estados Unidos inicialmente negaram envolvimento no golpe, mas evidências posteriores indicaram que houve, de fato, apoio tácito à derrubada de Gallegos. Poucos dias após o golpe, Carlos Delgado Chalbaud chegou a declarar ao embaixador norte-americano que Gallegos era manipulado por Betancourt e que a AD pretendia instaurar um regime marxista, mesmo ao custo de uma guerra civil.

Líderes de oposição como Rafael Caldera, da COPEI, e Jóvito Villalba, da URD, receberam com reserva ou silêncio o golpe, segundo o historiador Jorge Olavarría. Ambos mais tarde fariam parte da comissão encarregada de elaborar o novo estatuto eleitoral.

A junta prometeu eleições, mas rapidamente iniciou uma repressão sistemática. Em 4 de dezembro de 1948, dissolveu o Congresso, as assembleias legislativas e os conselhos municipais, além de intensificar a censura à imprensa e a perseguição a opositores.

Em 1950, após o assassinato de Carlos Delgado Chalbaud, a junta buscou legitimar-se diante da opinião pública nomeando um civil como chefe de governo: Germán Suárez Flamerich, então embaixador no Peru. A partir de 27 de novembro de 1950, o grupo passou a se autodenominar “Junta de Governo”. No entanto, o verdadeiro poder estava nas mãos de Marcos Pérez Jiménez e Luis Llovera Páez, que usaram o aparato estatal para consolidar uma nova ditadura militar.

Em 1952, uma tentativa de restabelecer a legitimidade democrática por meio de eleições foi novamente frustrada. Quando os resultados parciais mostraram a vitória da oposição, os militares anularam o pleito e impuseram a vitória de Pérez Jiménez, que passaria a governar como ditador até 1958.

Durante o regime de Pérez Jiménez (1952-1958), a Venezuela experimentou um processo de modernização urbana e crescimento econômico baseado na exploração do petróleo. Entretanto, esse desenvolvimento ocorreu à custa de uma severa repressão política, censura à imprensa, tortura a opositores e o enriquecimento ilícito de setores ligados ao regime. A ditadura caiu em janeiro de 1958, após uma série de manifestações populares, greves gerais e a perda de apoio das Forças Armadas, dando início a um novo ciclo democrático no país.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 23/04/2025