O Brasil caiu no ranking da Transparência Internacional que lista os países no Índice de Percepção da Corrupção (IPC). O relatório, divulgado nesta terça-feira 11, mostra o país na 107ª posição do ranking – que conta com 180 nações -, empatado com países como Argélia, Nepal e Níger. Essa é a pior colocação do Brasil desde o início da série histórica, em 2012.

O IPC da Transparência Internacional mede a impressão sobre os níveis de corrupção de cada país, atribuindo notas em uma escala de 0 a 100. Em 2024, a nota do Brasil foi 34. Antes, em 2012, o país chegou a obter a nota 43, quando teve a sua melhor posição no ranking. Na nova edição, os países que lideram a lista são a Dinamarca, a Finlândia, Cingapura e a Nova Zelândia.

Com a nota alcançada em 2024, o Brasil caiu três posições na comparação com 2023. Segundo o diretor-executivo da Transparência Internacional no Brasil, Bruno Brandão, a avaliação se deve ao fato do país ter falhado “em reverter a trajetória dos últimos anos de desmonte da luta contra a corrupção”. Para a organização, “o que se viu foi o avanço do processo de captura do Estado pela corrupção”.

Para sustentar sua avaliação, a ONG também cita a postura do governo federal sobre a pauta anticorrupção, criticando, por exemplo, a manutenção do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, no cargo. Ele foi indiciado pela Polícia Federal (PF) por corrupção passiva, fraude em licitação e organização criminosa enquanto ainda ocupava o cargo de deputado federal pelo União Brasil. Segundo as investigações, Juscelino teria participado de um suposto esquema de desvio de recursos da Codevasf em Vitorino Freire, no Maranhão, seu reduto eleitoral. O ministro nega.

Críticas da CGU

A nova queda do Brasil no índice não passou despercebida em Brasília. Pouco depois da divulgação dos dados, a Controladoria-Geral da União, em nota, fez duras críticas ao método utilizado pela Transparência Internacional para chegar ao ranking. Segundo a pasta, há “limitações metodológicas” no IPC.

“O IPC mede percepção, não a ocorrência real de corrupção, e seu próprio relatório recomenda cautela na interpretação dos resultados, especialmente em relação a variações (‘sutis’ ou ‘estatisticamente irrelevantes’) da pontuação”, destaca o comunicado da CGU.

Segundo o órgão, “o uso do IPC para embasar debates públicos pode levar a distorções, alimentando narrativas que minam a confiança nas instituições democráticas”. 

“O índice se baseia em pesquisas com grupos específicos, como empresários, e não representa a percepção geral da população. Além disso, vários eventos mencionados no relatório como fatores negativos para o Brasil ocorreram após o período de coleta de dados do índice, o que compromete a coerência da análise”, critica, ainda, o órgão do governo federal.

Para além da nota, o próprio ministro da CGU, Vinicius Marques de Carvalho, subiu o tom contra os dados do relatório, que chamou de “conversa de boteco”.

“A Transparência dizer que a percepção da população sobre corrupção aumenta porque o presidente não fala disso [em discursos]: de onde tiraram? O que tem de sério? É uma correlação, não tem causalidade, não tem nada, é conversa de boteco”, disse Carvalho em entrevista ao canal de TV GloboNews, concedida na manhã desta terça-feira.

As críticas ao modelo adotado pela Transparência Internacional para se chegar aos números já tinham sido feitas pela atual gestão em janeiro do ano passado, quando a ONG divulgou seu relatório anterior, que também apontava piora no desempenho brasileiro.

Ligação com a Lava Jato

Para além das críticas metodológicas, a própria Transparência Internacional já foi alvo de questionamentos no Brasil pelo seu histórico de ligação com agentes da antiga Operação Lava Jato.

Em 2020, por exemplo, mensagens do Telegram reveladas pela Operação Spoofing mostraram que o ex-promotor e ex-deputado federal Deltan Dallagnol recorria  à TI, na figura do presidente Bruno Brandão, quando a operação estava em perigo ou quando a intenção era promovê-la. As mensagens também mostram que a ONG chegou a sugerir alterações na minuta que criaria uma fundação para administrar recursos recuperados pela operação obtidos pelas multas impostas à Petrobras.

A ONG chegou a ser investigada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por desvio de função nos tempos da Lava Jato, mas, em outubro do ano passado, o órgão determinou o encerramento da investigação por falta de provas.

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Last Update: 11/02/2025