Um exemplo é o crédito habitacional. Desde que o então presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, interrompeu uma sequência de quedas na Selic – que estava em 10,50% entre agosto e setembro –, o setor amarga perdas dolorosas. A mais expressiva é a queda de 11% no financiamento de unidades habitacionais no primeiro semestre de 2025, em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), foram financiadas 496,1 mil unidades neste ano, ante 559 mil do primeiro semestre de 2024.
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A Abecip também detectou que o crédito ficou muito mais caro, levando bancos e instituições financeiras a limitar recursos para o financiamento habitacional e a adotar uma seleção mais criteriosa para aprovação de empréstimos.
A construção civil também foi fortemente afetada. Os financiamentos para a construção de imóveis desabaram nada menos do que 54% no semestre. Apenas a aquisição de imóveis usados sustentou um crescimento de 7%. Como a Selic não deve cair tão cedo, de acordo com os comunicados do Copom, a entidade prevê uma queda de 20% nas concessões via SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) até o fim deste ano.
CNI: juros lideram preocupação entre empresários
Não à toa, empresários ligados à construção têm manifestado crescente preocupação com a manutenção da taxa de juros na estratosfera. A Sondagem da Indústria da Construção, levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a Câmara da Indústria da Construção (CBIC), revela que os juros altos são vistos como o principal entrave ao setor no 2º trimestre deste ano, tirando o sono de 37,7% dos empresários do setor, contra 35,3% no 1º trimestre do ano. Para efeito de comparação, a alta carga tributária foi citada por 30,5% dos empresários entrevistados.
“Os juros altos afetam a indústria da construção de duas maneiras: encarecem o custo do crédito para o empresário que precisa de recursos para investir, e para o consumidor que deseja adquirir algum bem do setor”, declarou a analista de Políticas e Indústria da CNI, Isabella Bianchi, ao portal de notícias da confederação.
Juros prejudicam produção e investimentos
Após a confirmação do indicador pelo Copom, centrais sindicais e representantes da indústria e do comércio se manifestaram em tom duramente crítico ao Banco Central. A principal e óbvia constatação é a de que um país com a segunda maior taxa de juros real do mundo, de 9,76% (perdemos apenas para a Turquia), não pode ter um ambiente favorável à produção e aos investimentos privados.
“A manutenção da taxa Selic em 15% nessa conjuntura irá prejudicar os investimentos, o consumo das famílias; aumentará o custo do crédito e afetará diretamente o nível de atividade econômica do país”, alertou o economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Felipe Queiroz, em comunicado oficial.
“O Banco Central diz que tem que manter a taxa de juros alta para controlar a inflação. Mas a Selic não é o único instrumento de controle de preços e nem funciona para os tipos de inflação que o Brasil enfrenta”, argumentou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira, à Agência Brasil.
“O que a Selic elevada faz é manter o Brasil na liderança do ranking com os maiores juros do mundo, penalizando a população”, lamentou.